04 Abril 2023
A reportagem é publicada por Religión Digital, 03-04-2023.
O jornalista Jordi Évole assegurou à Efe que "às vezes queremos exigir do Papa coisas que não se lhe podem exigir", aludindo à posição de Francisco contra o aborto e o acesso das mulheres à hierarquia eclesiástica, assuntos de que fala no programa "Amém, Francisco responde", que estreia nesta quarta-feira, 5 de abril, no Disney+.
Embora a nível pessoal "teria apreciado outra mensagem", Évole afirma que pedir isso ao Papa é muito complicado. “Faria uma emenda ao conjunto do que a vossa instituição tem dito ao longo da história, é como se o PP tivesse dito sim ao direito de autodeterminação”.
Codirigido por Évole e Màrius Sánchez, seu parceiro regular, o programa mostra o encontro entre o pontífice argentino e um grupo de dez jovens entre 20 e 25 anos de diferentes origens em um espaço de trabalho colaborativo no bairro romano alternativo de Pigneto.
Há crentes, ateus e um muçulmano; há uma vítima de abuso sexual num centro do Opus Dei (Juan Cuatrecasas, vítima de um pedófilo na escola Gaztelueta), uma rapariga que se dedica à pornografia na Internet, um ativista a favor do aborto, um católico antiaborto.
“Não há líder mundial, nem moral, nem ético, nem político, nem social, nem econômico, nem jornalístico que se prestasse a uma experiência como essa, estamos muito satisfeitos”, disse Évole, que conheceu o Papa como resultado da entrevista que deu para a televisão em 2019 e desde então mantém contato com ele.
O jornalista catalão explica que desde o início houve harmonia entre eles. “Não caímos num tratamento reverencial, numa solenidade enorme e vimos que ele se sentia muito à vontade com aquele tipo de linguagem”, afirma, o que deu origem a uma relação epistolar, por e-mail, que mantêm até hoje.
“Perguntamos como ele estava (depois da internação na semana passada por bronquite), e ele nos mandou ontem de próprio punho que estava com medo, mas que estava muito bem”, explica. “Em algum momento fizemos uma piada com ele sobre se seria um programa póstumo, felizmente não foi”, acrescenta para mostrar o tom irônico que usam entre eles.
Segundo Évole e Sánchez, o Papa Francisco não colocou limites ao filmar este encontro, ocorrido em junho do ano passado, embora tenha pedido, meio de brincadeira, que houvesse pelo menos um católico e não censurou nada quando ele foi mostrada a montagem final.
Um dos momentos culminantes ocorre quando um dos meninos, Juan, expõe ao pontífice que sofreu abusos por parte de um numerário do Opus Dei, que o Vaticano encerrou o caso e que não impediu aquela pessoa de continuar a dar aulas.
Segundo Évole, o caso já foi reaberto. “O Papa diz que é um tipo de crime que não pode ser prescrito, pelo menos para a Igreja, e reabriu o caso, esperamos que a sentença seja diferente e não a que aquela pessoa teve”.
Em sua opinião, o pontífice fez uma grande aposta na hora de enfrentar esse problema. "Acho que a determinação dele é absoluta, quando dissemos a ele que íamos tratá-lo no programa em nenhum momento ele se opôs, acho que ele está pegando o touro pelos chifres".
Outro momento delicado ocorre quando uma jovem argentina, católica e feminista, entrega ao Papa um lenço verde, símbolo das mobilizações a favor da legalização do aborto na Argentina.
Màrius garante que Francisco o levou consigo após o encontro. “Tem uma simbologia muito forte que uma menina argentina dê aquele lenço a um papa argentino”, diz.
Tanto Évole quanto Màrius enfatizam a importância de as filmagens acontecerem fora do Vaticano, algo que ajudou os meninos a se sentirem mais à vontade. O documentário começa nas dependências do Vaticano e mostra Francisco tomando café e em seu escritório, para depois entrar em um carro rumo ao bairro de Pigneto.
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Jordi Évole: “Queremos exigir coisas de um papa que não podem ser exigidas dele” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU