30 Janeiro 2023
Algumas frases pronunciadas pelo Papa Francisco na recente entrevista concedida à agência estadunidense Associated Press suscitaram diversas perplexidades em relação à homossexualidade.
O artigo é de Roberto Oliva, publicado por Settimana News, 29-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em primeiro lugar, é necessário voltar à pergunta posta pela jornalista que se referia à criminalização da homossexualidade em alguns países do mundo e à atitude dos episcopados locais. Em termos inequívocos, o papa afirmou que nenhuma lei nascida para discriminar ou sancionar os homossexuais é justa.
Nesse sentido, também os bispos deveriam promover uma cultura do encontro e da ternura, enfrentando, se necessário, um processo de conversão pessoal sobre tais desafios antropológicos e sociais.
Mas a frase que causou alvoroço seria sobre a combinação entre pecado e homossexualidade. Na realidade, por se tratar de uma entrevista, o Papa usou "uma linguagem coloquial” (Carta do Papa Francisco ao Pe. J. Martin, 27.01.23), simulando a exclamação de um suposto interlocutor rigoroso: “Não é crime, mas é um pecado!”
Em seguida, o Papa passou a distinguir entre crime e pecado, mas sobretudo esclarecendo que também a falta de caridade para com o próximo é pecado: como se quisesse redimensionar a fama de pecado abominável reservada a tal matéria pela moral católica e lembrar que ninguém está isento de quedas ou fracassos. O Papa Francisco concluiu com palavras muito profundas: “Todo homem e toda mulher devem ter uma janela em sua vida para onde poder direcionar sua esperança e onde poder ver a dignidade de Deus”.
Em 27 de janeiro o Papa Francisco esclareceu suas afirmações em uma carta dirigida ao Padre J. Martin S.J. reiterando o ensinamento do magistério sobre o tema: “qualquer ato sexual fora do casamento é pecado”. Ao mesmo tempo, o pontífice jesuíta, evitando uma leitura fundamentalista, esclareceu que se deve ter sempre presentes as “circunstâncias que podem diminuir ou anular a culpa”.
De fato, como em qualquer tipo de pecado, é sempre necessário avaliar a história das pessoas envolvidas, em particular a sua "liberdade e intenção”. Uma atitude pastoral que se inspira no estilo evangélico não pode limitar-se ao pronunciamento de uma proibição se antes não tiver o cuidado de acompanhar, discernir e integrar os acontecimentos humanos, afetivos e relacionais das pessoas envolvidas: mesmo daqueles que vivem relações homoafetivas fora de lógicas sexuais consumistas desprovidas de alteridade, cuidado e responsabilidade.
As declarações do Papa Francisco a J. Martin lembram muito o parágrafo 305 de Amoris laetitia, esquecido rapidamente, que exigem uma reflexão cuidadosa e profunda por parte de teólogos e Bispos, chamados a encorajar um estilo evangélico e misericordioso nas comunidades locais: “Por isso, um pastor não pode sentir-se satisfeito apenas aplicando leis morais àqueles que vivem em situações ‘irregulares’, como se fossem pedras que se atiram contra a vida das pessoas. É o caso dos corações fechados, que muitas vezes se escondem até por detrás dos ensinamentos da Igreja «para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”.
Por causa dos condicionantes ou de fatores atenuantes, é possível que, dentro de uma situação objetiva de pecado - que não seja subjetivamente culpável ou não de forma plena - se possa viver na graça de Deus, se possa amar, e também se possa crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja.
O discernimento deve ajudar a encontrar os caminhos possíveis de resposta a Deus e de crescimento através dos limites. Acreditando que tudo seja preto e branco, às vezes fechamos o caminho da graça e do crescimento e desencorajamos percursos de santificação que dão glória a Deus”.
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