22 Dezembro 2022
Vocês já se perguntaram como o pontífice organiza seu dia em sua residência vaticana? Aqui vocês encontrarão muitas respostas. Saibam que só uma palavra de ordem funciona em Santa Marta, onde reside o Papa: normalidade.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por RSI News, 20-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entrar em Santa Marta, na residência vaticana não muito longe da porta do Perugino onde Francisco decidiu morar desde que foi eleito para o trono de Pedro em 13 de março de 2013, é um pouco como entrar em um hotel. De fato, num salão situado no térreo, funciona uma recepção que acolhe quem chega. Sim, porque ainda hoje, junto com o Papa, cardeais e bispos de passagem por Roma podem pedir hospitalidade naquela que sob o pontificado de João Paulo II nasceu como uma casa de acolhimento para prelados e cardeais de todo o mundo e que hoje, com Francisco entre seus residentes, não perdeu totalmente o seu propósito original.
A vida do bispo de Roma, que foi o primeiro a renunciar ao apartamento papal localizado no alto do palácio apostólico, é marcada pela estrutura particular de Santa Marta, um lugar onde o vaivém é contínuo: Francisco escolheu viver em contato com o maior número possível de pessoas, para não se isolar, para não se tornar, como ele mesmo explicou várias vezes, inalcançável.
O Papa Bergoglio nunca deixa a sua residência por longos períodos. Exceto pelas viagens apostólicas, ele gosta de passar seu tempo em casa. Mesmo no verão, como aliás fazia em Buenos Aires, passa um período de descanso em Santa Marta no mês de julho. Por isso, transformou a residência de verão de Castelgandolfo num museu.
Quando era arcebispo de Buenos Aires, num certo ano foi obrigado a passar o verão na cúria. Ele descansou mais do que nos outros verões em que havia saído. A partir daquele momento decidiu que passaria todos os períodos de férias em casa, descansando, estudando e continuando a se encontrar com pessoas. Ainda hoje, é sobretudo nos períodos em as audiências oficiais estão suspensas que pode se encontrar com amigos e conhecidos. A conversa é necessária para depois tomar as corretas decisões de governo. Bergoglio, de fato, ouve o máximo de pessoas possível, para depois decidir sozinho.
Todos os dias do ano, Francisco acorda antes das cinco da manhã, geralmente às 4h45. As primeiras horas são dedicadas à meditação das Escrituras, até a missa das sete. Nos primeiros anos de seu pontificado, grupos de pessoas também eram convidados para essa missa. Agora tornou-se uma celebração privada. O monsenhor Tino Scotti está sempre presente na missa. Natural de Cologno al Serio, é chefe de gabinete da primeira seção da Secretaria de Estado. Ele é o único de seus colaboradores que não foi mudado.
O Papa, de fato, não tem secretários particulares. Ele prefere ter colaboradores que, depois de alguns anos, retornem aos serviços que antes desempenhavam. Desta forma, não se criam aqueles curtos-circuitos que ocorreram nos pontificados das últimas décadas, quando Dom Stanislaw Dziwisz primeiro, Dom Georg Gänswein depois, inevitavelmente se tornaram espécies de funis pelos quais todos os pedidos ao papa necessariamente tinham que passar.
Depois da missa, Francisco se concede um café da manhã no refeitório da residência. É aqui que os hóspedes encontram Francisco sentado a uma das mesas do refeitório como um dos muitos comensais. O papa não tem mesa reservada. Ele senta em qualquer lugar, adorando conversar com quem estiver presente.
Só o almoço de domingo, geralmente, acontece com a presença dos funcionários de Santa Marta. O refeitório tem ao seu lado uma grande cozinha. Pode acontecer que durante o dia o próprio pontífice entre para pedir para preparar ou ele mesmo prepara um café para algum de seus hóspedes.
Em Santa Marta Francisco mora em um quarto simples com um gabinete ao lado equipado com uma poltrona e uma escrivaninha de madeira. Há dois guarda-roupas, uma geladeira, um aparador e uma pequena poltrona para os hóspedes. O quarto tem uma cama de solteiro de madeira, uma cadeira, um cabideiro. Tem um banheiro com chuveiro e espelho de madeira branca.
Ao lado existe também uma pequena sala de estar que Francisco usa para receber as pessoas informalmente, ou seja, fora das audiências oficiais. É aqui que aconteceram alguns dos encontros mais curiosos de seu pontificado: há alguns meses a audiência com Elon Musk e seus filhos. Mas também muitas pessoas anônimas, muitas compartilhando histórias difíceis para as quais o papa quer dar seu conforto pessoal.
É logo do lado de fora do seu quarto, no corredor onde os convidados o aguardam, que Francisco pendurou um cartaz eloquente. Lê-se: "É proibido reclamar". E ainda: “Os transgressores estão sujeitos a uma síndrome de vitimismo com a consequente diminuição do humor e da capacidade de resolver problemas. A sanção é dupla se a violação for cometida na presença de crianças”. E conclui: “Para se tornar o melhor de si mesmo, é preciso focar nas próprias potencialidades e não nos próprios limites, portanto: pare de se queixar e aja para mudar sua vida para melhor”.
No elevador, que vai do térreo ao seu quarto, pendurou um papel que reproduz uma pequena imagem: "Santa Maria Virgem, protetora contra as epidemias", recita. E, de novo, foi diretamente o papa que mandou pendurar um ícone da Virgem do Silêncio na porta de cada "ministério" da Santa Sé: com base em uma imagem tirada de um afresco copta do século VIII, Maria traz a dedo indicador da mão direita aos lábios pedindo silêncio.
Francisco não tem mordomos nem empregados. Sua roupa acaba, como a de todos os outros hóspedes, na lavanderia localizada no subsolo. Fora de seu quarto, um único guarda suíço mantém vigília dia e noite. Francisco teria pedido várias vezes para ele se sentar durante o turno. E muitas vezes ofereceu-lhe um lanche de uma máquina de venda automática para matar a fome.
Só uma palavra funciona em Santa Marta: normalidade. Francisco adora viver de maneira normal e transmitir uma imagem de sobriedade a todos. Por isso, sua vida na residência é feita de coisas simples, encontros com velhos e novos amigos. Francisco quer ser acessível. Desta forma, ele também pode aprender mais sobre a vida do Vaticano que, de outra forma, lhe escaparia.
É graças ao fato de que seus dias em Santa Marta o tornam de alguma forma acessível que ele pôde tomar conhecimento da vida dupla do secretário de um conhecido cardeal e, assim, ordenar-lhe que deixasse imediatamente seu cargo e seu apartamento dentro dos Muros Leoninos. Também dessas coisas o primeiro sucessor sul-americano de Pedro decidiu tomar conta, pessoalmente, sem fazer concessões a ninguém.
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A vida cotidiana do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU