14 Dezembro 2022
Após a morte, na quinta-feira, de Mohsen Shekari, foi executado em praça pública Majidreza Rahnavard, de 23 anos. As prisioneiras da prisão de Evin conseguem organizar uma manifestação de protesto. Primeiras rachaduras: três aiatolás criticam as execuções.
A reportagem é de Camille Eid, publicada por Avvenire, 13-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Escalada de horror no Irã. Apesar da indignação global gerada pelo enforcamento de Mohsen Shekari na quinta-feira, outro manifestante foi executado na madrugada de ontem na cidade de Mashhad. Trata-se de Majidreza Rahnavard, também de 23 anos. Com o rosto coberto por um capuz preto, a cabeça inclinada para o lado e o pescoço amarrado por uma corda, ficou exposto por horas nas ruas de Mashhad preso a um guindaste. O jovem foi acusado de esfaquear dois integrantes e ferir outros quatro Basiji, a força paramilitar empregada na repressão das manifestações que ocorrem no país desde meados de setembro. O enforcamento não teve sequer a presença da família, que foi avisada mais tarde com um telefonema para comparecer ao cemitério.
Mohsen Shekari e Majidreza Rahnavard | Foto: wikimedia commons
Após a execução, Gholam Ali Sadeghi, chefe do judiciário local, agradeceu à polícia e aos agentes de segurança por "estabelecer a ordem e a segurança e lidar com os rebeldes e infratores". Rahnavard é o segundo manifestante depois de Mohsen Shekari, enforcado sob a acusação de "moharebeh", ou seja, "guerra contra Deus", por ferir "intencionalmente" um paramilitar nas primeiras semanas dos protestos.
Para muitos ativistas e defensores dos direitos humanos, a execução de Rahnavard não é uma execução, mas um assassinato de Estado. Além de ter sido a primeira sentença de um manifestante a ser executada publicamente, o que indignou no caso Rahnavard foi seu julgamento relâmpago, visto que foi executado apenas 23 dias após sua prisão. A resposta do chefe do judiciário iraniano, Gholamhossein Ejei, foi imediata.
"Somos precisos e rápidos durante os processos justos dos nossos casos judiciais e não nos importamos com as conversas e a vontade alheia". Mas três aiatolás criticaram ontem a execução. "Qualquer um acusado de moharebeh não deveria necessariamente ser executado", declarou o aiatolá Morteza Moghtadai, ex-chefe da Suprema Corte. Um membro da Assembleia do Seminário de Qom, o aiatolá Mohammadali Ayazi, disse que a moharebeh deve ser usada em tempos de guerra, não para protestos de rua.
"A participação em qualquer cerimônia organizada por este regime tirânico é haram (religiosamente proibida) até que suspendam as execuções", anunciou outro aiatolá, Mahmoud Amjad, instrutor do seminário de Palavras de indignação foram expressas por várias chancelarias enquanto, de Bruxelas, a UE aprovou um pacote "muito pesado" de sanções contra Teerã. A República Islâmica respondeu com medidas restritivas contra 32 indivíduos e entidades da UE e do Reino Unido que teriam "apoiado grupos terroristas e encorajaram a violência e o terrorismo".
Entre as entidades atingidas, estão o Charlie Hebdo e a divisão persa da Radio Free Europe. Na semana passada, o semanário satírico francês havia lançado um concurso internacional pedindo para enviar uma caricatura do líder supremo iraniano Ali Khamenei. Entre os indivíduos europeus que acabaram na mira de Teerã estão o diretor-geral do MI5 britânico, Ken McCallum, o chefe do estado maior Sir Tony Radakin, o comandante das Forças Aéreas alemãs Michael Trautermann e o diplomata francês Bernard Kouchner.
No entanto, o punho de ferro não interrompe a revolta. Um grupo de presas políticas na ala feminina da famigerada prisão de Evin, em Teerã, conseguiu organizar uma manifestação organizada na sala das guardas carcerárias para protestar contra as execuções de manifestantes. Na noite de domingo, duas atrizes e um diretor foram libertados sob fiança após dez dias de detenção. O diretor Hamid Pourazari e as atrizes Soheila Golestani e Faezeh Aeen foram acusados por um vídeo, que viralizou, no qual Golestani caminha com a cabeça descoberta e vestida de preto até uma escada, onde outras nove mulheres e cinco homens assumem a mesma pose.
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Irã, mais um jovem enforcado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU