27 Outubro 2022
O artigo é de José María Castillo, teólogo, publicado por Religión Digital, 25-10-2022.
Uma das propriedades essenciais da Igreja é que ela é apostólica. Assim, a afirmação segundo a qual os bispos são "os sucessores dos apóstolos" é um fato afirmado de tal maneira pela tradição e pelo magistério da Igreja, que a sucessão apostólica dos bispos nos é imposta como um dado da fé (cf. Y. Congar, in: Mysterium Salutis, IV/1, pág. 556-557, com extensa bibliografia).
Pois bem, assumindo isso, quem lê atentamente o Evangelho percebe que os doze apóstolos (apóstoloi), nomeados por Jesus (Mc 6, 30), nos ensinaram não só o que Jesus disse e o que eles disseram, mas também (é claro) o que Jesus fez e o que eles fizeram. O Evangelho não é apenas uma “teoria”, mas além disso – e sobretudo – é um “modo de vida”.
Ora, a "forma de vida" que Jesus ensinou aos seus apóstolos, aqueles homens aprenderam, não só ou principalmente através de teorias (palestras, conferências, leituras...), mas sobretudo através do seguimento de Jesus (Johan B. Metz). Ou seja, aqueles que abandonaram tudo (casa, família, trabalho, dinheiro... tudo o que cada um tinha) e foram com Jesus, viver com ele e como ele viveu, esses foram os que aprenderam a cristologia que o Evangelho ensina.
É evidente que os Apóstolos de Jesus, ao segui-lo dessa maneira, sem se propor um "programa de vida", nem um "objetivo", nem um "ideal", sem nenhuma "segurança" (D, Bonhoeffer, Nachforlge, Munique, Kaiser, p. 28-29), não há dúvida de que aqueles homens, além de cumprirem os mandamentos da religião (Mc 10, 17, 20-22; Mt 19, 16-20; Lc 18, 18 - 21), tiveram a generosidade e a audácia de afirmar em público, pela boca de Pedro: "Bem, olha, deixamos tudo e te seguimos" (Mc 10, 28 par). Algo que Jesus, logo depois, aceitou e afirmou com generosidade.
É evidente, portanto, que os primeiros Apóstolos de Jesus tiveram a liberdade e a audácia de se despojar de tudo o que estava ao seu alcance. Todos eles, exceto Judas, se despojaram dos bens que possuíam. E assim marcaram o caminho que seus sucessores deveriam seguir.
Marcaram o caminho que Jesus traçou para eles. Mas será que eles chegaram ao fim? Infelizmente não. Eles se despojaram do dinheiro, da família, das propriedades, da própria segurança... Mas não chegaram às profundezas da vida. Não chegaram à desapropriação do próprio "eu" (E. Drewermann).
O que significa isto? Já disse que os Apóstolos deixaram tudo e foram com Jesus, para partilhar a sua vida e o seu projeto. Mas há uma questão capital, que vai ao fundo da questão e que não costuma ser pensada. Jesus disse a seus apóstolos – pelo menos três vezes – que o fim de sua própria vida estava próximo e também seria o mais humilhante e patético: condenado pelos líderes da religião e executado como criminoso (Mc 8, 31, 9). , 31 par, 10, 33 s par) (J. Jeremias).
Pois bem, como os Apóstolos perceberam que o fim de Jesus era inevitável e próximo, sem dúvida os discípulos começaram a se preocupar e discutir qual deles era o mais importante ou deveria ser colocado em primeiro lugar. Assim, após o segundo anúncio da Paixão (Mt 17, 22-23 par), ocorreu a discussão dos discípulos sobre “quem é o maior no Reino de Deus (Mt 9, 33-37. 42-48; Lc. 9, 46-49; 17, 1-2).
A resposta de Jesus foi contundente: “se não mudardes e não vos tornardes como estas crianças, não entrareis no Reino de Deus” (Mt 18, 2 par). E logo depois, o pedido dos filhos de Zebedeu, com a conseqüente indignação dos demais Apóstolos, que, sem dúvida, queriam aqueles cargos de importância e comando (Mt 20, 25-28; Mc 10, 42-46: Lc 22, 25-26).
Resumindo, os Apóstolos viveram duas etapas: primeiro, "despojando-se dos bens deste mundo"; em segundo lugar e definitivamente, "livrar-se de si mesmo". Por isso, Jesus começou pedindo para se desfazer das coisas, dos bens e do capital que possui. E, no final, o próprio Jesus pediu aos Apóstolos que cada um se despojasse.
A conclusão é clara e convincente: se queremos ser apóstolos do Evangelho, não temos escolha senão passar pela espoliação, a de dinheiro e bens; e o mais difícil, a desapropriação de si em cada um.
O que podemos dizer, se pensarmos seriamente sobre isso, sobre o futuro da Igreja, se pensarmos profundamente sobre o número de cristãos, religiosos, clérigos, religiosos, bispos e cardeais, se for visto e sentido que não temos nos despojamos de nossos bens e, menos ainda, de nós mesmos?
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— elJartista (@elJartista) October 23, 2022
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José Maria Castillo: “Para ser apóstolos do Evangelho é preciso passar pela desapropriação dos bens e de si mesmo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU