Em entrevista ao L'Osservatore Romano, o relator geral do Sínodo explica: "Os homossexuais não escolheram a orientação sexual. Eles não são 'maçãs podres'". Mas reitera o não ao matrimônio. A condenação da eutanásia e do aborto como direito fundamental.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 24-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cardeal Jean-Claude Hollerich, um dos pesos pesados da Igreja Católica, abre à bênção dos casais homossexuais lembrando o significado etimológico da bênção. "Se nos atermos à etimologia de 'bem-dizer', você acha que Deus pode 'dizer mal' a duas pessoas que se amam?", afirma o cardeal.
Jesuíta como o Papa Francisco, Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, é presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia, vice-presidente do Conselho das Conferências dos Bispos da Europa - os dois órgãos que reúnem os bispos europeus - e, sobretudo, relator geral do sínodo global em andamento. Em uma ampla entrevista no Osservatore Romano, ele aborda uma ampla gama de tema, sem se esquivar de questões sobre temas controversos.
Condena firmemente a eutanásia ("Fiquei apavorado ao ver a extensão da prática da eutanásia também aos doentes psicológicos nos Países Baixos") e o aborto ("Estou preocupado por ouvir no Parlamento Europeu quem invoca a atribuição dos status de direito 'fundamental' ao aborto”). Mas sobre o tema da moral sexual ele retorna, como fez nos últimos meses, para propor uma evolução decisiva do catecismo.
Se os bispos flamengos se manifestaram recentemente a favor da possibilidade de abençoar os casais homossexuais, “francamente – responde Hollerich - a questão não me parece decisiva. Se nos atermos à etimologia de “bem-dizer”, você acha que Deus poderia “dizer-mal” sobre duas pessoas que se amam? Eu estaria mais interessado em discutir outros aspectos do problema. Por exemplo: o que determina o crescimento vistoso da orientação homossexual na sociedade? Ou porque a porcentagem de homossexuais nas instituições eclesiais é maior do que na sociedade civil. Para o cardeal, "muitos de nossos irmãos e irmãs nos dizem que, qualquer que seja a origem e a causa de sua orientação sexual, certamente não a escolheram. Não são ‘maçãs podres’. Eles também são fruto da criação. E no Bereshit (o livro do Gênesis, ndr.) lemos que em cada passo da criação Deus se compraz com sua obra dizendo "... e viu que era bom". : Não creio que haja espaço para um matrimônio sacramental entre pessoas do mesmo sexo, porque não há um fim de procriação que o caracteriza, mas isso não significa que sua relação afetiva não tenha nenhum valor”.
Hollerich destaca como é crucial para os jovens com quem se encontra a questão da discriminação: "Há algumas semanas conheci uma jovem de vinte anos que me disse ‘quero deixar a Igreja, porque não acolhe os casais homossexuais’, perguntei-lhe ‘você se sente discriminada por ser homossexual?’, e ela ‘ Não, não! Não sou lésbica, mas minha melhor amiga é. Conheço o seu sofrimento e não pretendo fazer parte daqueles que a julgam’. Isso me fez pensar muito".
São muitos os temas que o cardeal luxemburguês aborda na longa entrevista com o diretor e o jornalista do Osservatore Romano, Andrea Monda e Roberto Cetera, dos populismos ao futuro do cristianismo na Europa, da formação a ser atualizada nos seminários à necessidade para dar credibilidade à mensagem evangélica. Que, ele especifica, é dirigida a todos: "Ninguém é excluído: também os divorciados e recasados, também os homossexuais, todos. O Reino de Deus não é um clube exclusivo. Abre suas portas a todos, sem discriminação. A todos! Às vezes a Igreja discute a acessibilidade desses grupos ao Reino de Deus, e isso cria a percepção de uma exclusão de uma parte do povo de Deus. Sentem-se excluídos e isso não está certo!”.
A entrevista, em português, pode ser lida aqui.