21 Setembro 2022
Os bispos flamengos abrem-se à bênção dos casais homossexuais com a publicação de um documento que descreve a liturgia de um "momento de oração", com orações específicas, para dois fiéis homossexuais que se comprometem mutuamente com Deus.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica, 20-09-2022.
Em março de 2021, a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano havia proibido a bênção de casais homossexuais, afirmando que a Igreja "não abençoa nem pode abençoar o pecado: abençoa o homem pecador, para que ele reconheça que faz parte seu plano de amor e deixe-se mudar por ele”. A nota - uma "resposta" a um "dubium" levantado na Alemanha - foi considerada necessária porque, como dizia, "projetos e propostas de bênçãos para uniões homoafetivas estão se espalhando em algumas esferas eclesiais". A posição do antigo Santo Ofício, no entanto, suscitou críticas e distanciamentos de vários círculos católicos, particularmente no norte da Europa.
Agora os bispos das cinco dioceses de língua holandesa da Bélgica, entre eles o cardeal Jozef de Kesel, arcebispo progressista de Bruxelas, escrevem que "durante as reuniões pastorais, muitas vezes se pergunta sobre um momento de oração para pedir a Deus que abençoe e perpetue esta compromisso de amor e de fidelidade", especificando que "deve ficar clara a diferença com o que a Igreja entende por sacramento do matrimônio".
Os próprios bispos propõem as passagens de uma possível liturgia (oração de abertura, leitura do Evangelho, "compromisso das duas pessoas envolvidas: juntos expressam diante de Deus o modo como se comprometem um com o outro") e duas orações, a primeira para o casal: "Dá-nos força para sermos fiéis um ao outro e aprofundar nosso compromisso", lemos entre outras coisas na invocação. "Acreditamos que você está perto de nós e queremos viver pela sua palavra dada um ao outro para sempre". Segue-se uma segunda oração com a qual a comunidade presente na cerimônia “reza para que a graça de Deus opere na sua capacidade de cuidar uns dos outros e da comunidade alargada a que pertencem”. Por fim, o Pai Nosso, as orações finais e a "bênção".
O documento deixa uma certa indefinição a esse respeito, mas Willy Bombeek, nomeado pelos próprios prelados como coordenador da iniciativa sobre fé e homossexualidade promovida pelo episcopado, não tem dúvidas, como explicou ao Nederlands Dagblad, que a "bênção final " é expressamente uma bênção para o casal gay. Ele próprio um católico homossexual, ativamente envolvido na Igreja belga, por muitos anos Bombeek tentou esconder sua orientação sexual. Nos últimos anos, no entanto, ele decidiu se expor, conversou sobre isso com o cardeal De Kesel, que o apoiou e, agora perto da aposentadoria (o próximo arcebispo de Bruxelas, por costume, será francófono), foi o promotor da liturgia publicada hoje.
Uma iniciativa que surge no momento em que várias Igrejas ao redor do mundo publicaram, nos últimos meses, os primeiros resultados de uma consulta aos fiéis, encomendada pelo Papa Francisco em vista do Sínodo global que terminará em outubro de 2023, do qual emergiu, frequentemente , a demanda por uma abordagem mais inclusiva em relação aos homossexuais. Mas uma postura que já gerou polêmica na Bélgica por parte dos setores conservadores pelo que é considerado uma violação ambígua da ortodoxia.
Certamente, uma novidade histórica: nunca havia acontecido que um grupo de bispos tomasse tal iniciativa. Os bispos flamengos terão a oportunidade de falar sobre isso com a Cúria Romana quando, em novembro, forem esperados no Vaticano para a visita "ad limina apostolorum", o encontro periódico que todo episcopado realiza - junto aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo - para encontrar o Papa e seus colaboradores, depois dos bispos holandeses e alemães.
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Bélgica, os bispos belgas abrem-se à bênção dos casais homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU