12 Janeiro 2022
Acredita-se que uma autoridade chave do Vaticano foi a pessoa responsável pelo documento de proibição do Vaticano às bênçãos de casais homossexuais, emitido no ano passado pela Congregação para a Doutrina da Fé. Essa autoridade recebeu novas funções do Papa Francisco, em uma mudança que pode ter amplo significado.
O arcebispo Giacomo Morandi, o número dois da Doutrina da Fé, foi nomeado pelo Papa Francisco para chefiar a diocese italiana de Reggio Emilia-Guastalla.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 12-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Conforme a revista America, dos jesuítas estadunidenses, reportou:
“A mudança equivale a um rebaixamento, já que Morandi atualmente tem o título de arcebispo, mas está indo para uma pequena diocese, não uma arquidiocese...”
“[Morandi] foi amplamente visto como estando por trás do documento de março de 2021 que indignou a comunidade gay, que Francisco se esforçou para acolher na Igreja. O documento declarava que a Igreja Católica não abençoará uniões do mesmo sexo porque Deus ‘não pode abençoar o pecado’. No documento se dizia que Francisco estava a par e autorizava a sua publicação, mas o Papa estava aparentemente surpreso pelo seu impacto”.
De acordo com Crux, o Vaticano não deu uma razão para a mudança de pessoal um tanto abrupta, nem foi nomeado um sucessor. Alguns vaticanistas especulam o porquê da mudança. Morandi parece ter desempenhado um papel fundamental na proibição das bênçãos, mas também se opôs às restrições do papa às missas tradicionalistas. A reportagem do Crux observou que grandes mudanças de pessoal estão ocorrendo no Vaticano recentemente e mais são esperadas com o lançamento antecipado da nova constituição do Papa Francisco para a Cúria este ano.
Talvez mais significativas sejam as possibilidades de que a remoção de Morandi abrirá. A liderança da Congregação para a Doutrina da Fé agora fica com seu prefeito, o cardeal Luis Ladaria, que já passou da idade de aposentadoria aos 78 anos, e dois secretários-adjuntos, um dos quais está se aposentando. O outro secretário-adjunto, no entanto, é o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, um aliado próximo do papa com um histórico positivo em questões LGBTQIA+. Alguns observadores especulam que, com Ladaria se aposentando e Morandi agora removido, o caminho está definido para Scicluna liderar o escritório doutrinário.
Tal nomeação seria notável para as pessoas LGBTQIA+. Os leitores do New Ways Ministry podem se lembrar das muitas decisões positivas de Scicluna. Mais recentemente, ele ameaçou um padre com sanções canônicas por este ter feito nocivos comentários homofóbicos. Em 2013, enquanto era bispo-auxiliar, ele pediu que a Igreja respeitasse os gays. Ele defendeu o amor em relacionamentos do mesmo sexo, dizendo em um ponto: “O amor nunca é um pecado. Deus é amor”. Em outros momentos, Scicluna não puniu e até mesmo afirmou o ministério pastoral LGBTQIA+ de um padre que abençoou a união de um casal do mesmo sexo em 2015; ele disse que a Igreja deveria se desculpar com as pessoas LGBTQIA+ (embora se opusesse às uniões civis); ele condenou a “terapia de conversão” com um pedido de desculpas por um relatório da Igreja que a havia apoiado, e participou do Dia Internacional contra a Homofobia.
Muito do que os observadores e jornalistas do Vaticano fazem é, em algum nível, ler folhas de chá. Por que algo acontece ou não no mundo labiríntico da Cúria é complexo de discernir. O Papa Francisco certamente mantém os católicos alertas com sua disposição de fazer mudanças ousadas sem aviso prévio. É difícil saber o que fazer com a situação de Morandi ou prever os próximos eventos. Fique atento, no entanto, porque qualquer mudança curial em 2022 pode ser crítica para as pessoas LGBTQIA+.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco nomeia o Nº 2 da Doutrina da Fé, e mentor do responsum contra as bênçãos a casais homossexuais, para pequena diocese italiana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU