27 Setembro 2022
Carlo Petrini revive o impulso que caracterizou o último ano de sua aventura na cúpula do Slow Food no Terra Madre: “se o movimento começasse sua jornada hoje, o inimigo não seria o Mc Donald's, mas a Amazon”. Palavras claras e fortemente contemporâneas com um final mais nostálgico: "Pessoal, vocês têm que prestar atenção na Amazon, é um ato de responsabilidade". Os jovens a quem se dirige são aqueles que estão ao pé do palco de Turim, onde conversa com o presidente da Acri e da Compagnia di San Paolo, Francesco Profumo.
A reportagem é de Luca Ferrua, publicada por La Stampa, 26-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Carlo Petrini e Slow Food, dois elementos indissolúveis para além dos encargos que o guru e fundador do movimento irá desempenhar, marcaram os últimos trinta anos da cultura alimentar mundial e é redutivo falar de gastronomia porque o desafio de Carlin – de San Francisco a Hong Kong até a sua Bra todo mundo o chama assim – diz respeito ao alimento em sua essência: o que antes de tudo nos alimenta, muda nossas vidas, a torna melhor, é fonte de renda e acima de tudo se transforma diariamente em um dos mais poderosos atos políticos que o homem pode realizar: comer.
O ataque à Amazon que Petrini realiza há um ano, a primeira vez que foi lançado em Bra durante o Cheese 2021 a partir do palco “il gusto”, é politicamente necessário e encarna perfeitamente as motivações que impulsionam todo movimento a criar um inimigo. Porque ter um inimigo, como dizia Umberto Eco: “É importante não apenas definir nossa identidade, mas também nos fornecer um obstáculo contra o qual medir nosso sistema de valores e mostrar, ao enfrentá-lo, o nosso valor”.
Quando o Slow Food escolheu um inimigo, não lutou para derrotá-lo, mas para mudá-lo.
A batalha do Slow Food acabou encontrando no “inimigo” Mc Donald's um interlocutor que modificou as estratégias, acrescentou produtos locais, mudou para melhor as contas de algumas DOPs italianas, até tomar um caminho diferente: do verde aos ingredientes. Aonde essa estrada levará, o descobriremos, mas uma mudança está ocorrendo.
A posição da Amazon é diferente, mais dominante. Mas o desafio de Petrini não visa derrubar a criatura de Bezos, porque Carlin não é Dom Quixote de la Mancha, ele visa abrir um diálogo, pretende ligar um farol para todos aqueles que são arrastados pelas lógicas do conforto e do delivery. As vítimas de uma cadeia de fornecimento tão curta que se torna um laço em volta do pescoço para os agricultores e muitos outros.
Aponta-se o dedo para o fato de que a perda de contato entre vendedor e comprador leva à despersonalização e torna muitos produtos iguais. Essa não é a ameaça porque no mundo a primeira motivação para escolher uma viagem é enogastronômica, ligada aos produtores e à experiência que eles podem oferecer. A verdadeira ameaça é o estrangulamento de uma cadeia de produção que não é apenas composta de experiências, mas também de cotidianidades e de grandes números capazes de garantir a sobrevivência, aliás, a sustentabilidade, para usar o termo em seu significado mais completo. Isso é ameaçado pela Amazon, isso quer defender Petrini.
Em um restaurante em Langa, onde se começa a sentir o cheiro da trufa branca de Alba, alguém ontem chamava a atenção que os preciosos fungos subterrâneos agora também podem ser comprados na Amazon e que os catadores estão pensando em se organizar para vender diretamente ao gigante estadunidense. Parece a enésima conquista do colosso de Bezos, mas talvez seja um pedaço da revolução que o mudará por dentro.
Sonhar não custa nada e Petrini mudou algumas partes do mundo à força de sonhar.
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Carlo Petrini desafia a Amazon: “Pessoal, boicotem-na” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU