18 Julho 2022
Com “satisfação” e “curiosidade”. Assim, Carlo Petrini olha para o início de uma nova época para a associação que fundou em meados dos anos oitenta. Ele afirma isso num dia que ficará na história do Slow Food, o da passagem do bastão na diretoria do movimento internacional por uma alimentação “boa, limpa e justa" para Edward Mukiibi, agrônomo e educador ugandês, nascido em no mesmo ano, 1986, em que o Caracol - ícone e símbolo do movimento - deu seus primeiros passos em Bra (Cuneo).
A reportagem é de Mauro Ravarino, publicada por Il Manifesto, 17-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
E é em Bra, precisamente em Pollenzo onde está localizada uma das suas filiais, a Universidade de Ciências Gastronômicas, que ontem se realizou a passagem, com aplausos e emoção, mas - avisou Petrini - sem demasiadas "cerimônias de saudade e despedidas". “Continuarei sendo o fundador, que atua para fazer as fundações de um edifício. O nosso está longe de estar pronto. Mas os alicerces são sólidos, fruto do trabalho coletivo”.
Mais de 50 delegados dos cinco continentes estão reunidos em Pollenzo nestes últimos dias para o oitavo congresso internacional do Slow Food. Ontem, além da renovação do conselho de administração e da nomeação do novo presidente, também foi aprovada a transição da forma de associação para aquela de fundação de participação Ets, reconhecida pelo Estado italiano como Entidade do Terceiro Setor, que permite o envolvimento de uma pluralidade de sujeitos, públicos e privados, que compartilham as finalidades. Uma renovação que começou durante o congresso internacional anterior de 2017, em Chengdu, China, precisamente para ir além do modelo associativo e "tornar o Slow Food mais aberto e inclusivo com o objetivo de enfrentar da melhor maneira os desafios atuais, respeitando as diversidades de todos os territórios". O movimento do Caracol está atualmente ativo em 160 países ao redor do mundo.
O congresso acontece após dois anos de pandemia, cai em plena crise climática e com uma guerra na Europa, na Ucrânia, que se soma aos diversos conflitos que assolam cada canto do globo. “E surge de forma cada vez mais forte e clara – declarou Petrini – o papel do alimento como principal responsável pelo desastre ambiental. O nosso movimento, empenhado há trinta anos para garantir o acesso a uma alimentação boa, limpa e justa para todos, deve ter a coragem de assumir um papel político de primeiro plano na contenção dessa deriva de implicações catastróficas. Precisamos de uma governança que deixe espaço para as novas gerações, devemos ter a capacidade de conjugar o novo com a história”. E nesta invocação ao ativismo, retomando o acusador "blá blá blá" de Greta Thunberg e apontando o dedo para o desperdício de alimentos (e ao mesmo tempo de água e terra), explica-se como amadureceu a necessidade de uma nova liderança.
“Em condições de retomar aquela biodiversidade cultural que nos caracteriza, baseada em inteligência afetiva e austera anarquia. Um movimento internacional não é governado pela concentração de poder, é necessário dar, e assim foi feito, a possibilidade aos territórios de realizar a política que consideram mais útil. E devemos semear elementos de afetividade que possam tornar essa austera anarquia realizável”, concluiu Petrini, que em uma passagem expressou solidariedade ao povo curdo, cuja perseguição "é uma vergonha para a Europa e para a OTAN", da qual a Turquia é membro.
O novo presidente Edward Mukiibi é originário da zona de Kisoga, cerca de quarenta quilômetros da capital de Uganda, Kampala. Sua família sempre administrou uma fazenda e, desde jovem, ele queria continuar a atividade de seus pais. O encontro com Terra Madre, a rede dos agricultores, aconteceu em 2008: “Uma experiência de alegria, que me deu forças para voltar para casa para fazer mais".
Vice-presidente do Slow Food desde 2014. “É a hora certa - disse ele, ontem, após a nomeação - para reconstruir, fortalecer e renovar. Mesmo as menores ações realizadas por nossas comunidades são portadoras de uma esperança concreta e geram um impacto positivo nas nossas vidas, porque somos uma família global: o que diz respeito a um de nós diz respeito a todos, independentemente das diferenças geográficas, sociais e culturais”.
“Como Slow Food, é importante estar ciente de que uma pequena ação tomada localmente pode ter um impacto enorme em outro lugar. Gostaria de exortar cada um de nós a trabalhar com o mesmo espírito de resiliência demonstrado durante a pandemia, com o mesmo sentido de pertença e solidariedade para envolver cada vez mais pessoas em nossas atividades. O objetivo continua o mesmo: dar vida a um sistema alimentar que garanta uma alimentação boa, limpa e justa para todos. Este é o nosso papel comum, vamos abraçá-lo com convicção”.
Ele vai liderar um Conselho de Administração composto por sete pessoas: Marta Messa, secretária-geral, Richard McCarthy (Estados Unidos da América), Dali Nolasco Cruz (México), Jorrit Kiewik (Países Baixos), Megumi Watanabe (Japão), Francesco Sottile (Itália), Nina Wolff (Alemanha).
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Slow Food, Petrini passa o bastão ao ugandês Mukiibi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU