18 Julho 2022
Com diploma universitário e uma fazenda a quarenta quilômetros de Kampala, Edward Mukiibi, de 36 anos, é o novo presidente da Fundação. Petrini: uma mudança de ritmo, o sistema alimentar deve ser mais justo e sustentável.
A reportagem é de Paulo Viana, publicada por Avvenire, 17-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O novo Carlo Petrini tem a pele escura, trinta e seis anos, um diploma, um mestrado e uma fazenda quarenta quilômetros de Kampala, Uganda. Edward Mukiibi é o presidente do Slow Food, o movimento mais influente do mundo no campo das escolhas alimentares. “Precisamos de uma governação que deixe espaço para as novas gerações, devemos ter a capacidade de conjugar o novo com a história", disse o fundador. Ontem, ele fez isso. A passagem de cargo foi vivida com grande emoção pelos delegados do oitavo congresso, que se encerra hoje em Pollenzo, na Universidade de Ciências Gastronômicas.
“Dançando, pulando, cantando, continuo sendo o fundador”, brincou Carlo, mas o momento permanece histórico. A nomeação de uma nova diretoria marca a virada internacional do movimento nascido em 1986, que passou da descoberta do prazer da comida àquele de seu valor revolucionário. Especialmente em tempos de pandemia e aquecimento global. “Aparece de forma cada vez mais forte e clara o papel dos alimentos como principal responsável pelo desastre ambiental”, disse Petrini, que em seu discurso conclui que sua liderança alternou emoções e estratégia. “Para mim é uma mudança de ritmo e estou vivendo isso com grande satisfação e curiosidade. Deixo a presidência para um jovem africano e não serei um daqueles pais que andam por aí dizendo que quem 'comanda é meu filho' e depois continuam a comandar.
Só peço uma coisa ao Edward: aprenda italiano! Porque o Slow Food nasceu aqui e nunca foi votado um Papa que não soubesse latim”. E aqui está o 'mandato': “Um movimento internacional não pode ser governado - disse ele - aplicando uma lógica de concentração de poder, segundo um modelo animal, com um cérebro que comanda o resto; nós pertencemos ao mundo vegetal, as plantas que têm diversos centros que contribuem para a sua vitalidade”. A situação jurídica também mudará: a associação se tornará uma fundação de participação. Porque o jogo ficou realmente duro e era necessário um instrumento mais flexível e inclusivo, capaz de mobilizar todos os militantes, um milhão de pessoas distribuídas em 160 países ao redor do mundo.
Unidos pela defesa da sustentabilidade que se come. Não é uma linha ditada pela moda de momento. É a consequência lógica de uma aventura que envolve pessoas que vivem dos frutos da terra e que optaram por valorizar o esforço e as tradições dos territórios e das pequenas comunidades que sempre ali viveram. O encontro com o Papa Francisco ocorreu nessa linha. Agora essa linha torna-se um apelo à mobilização “para tornar o sistema alimentar mais equitativo e sustentável".
O Call to action é o documento mais importante apresentado no congresso e capitaliza o longo percurso do Slow Food: “Migramos das margens para o centro das comunidades”, lê-se no apelo. Isso expõe a incapacidade da política de governar o planeta e propõe um modelo 'alternativo', em que "a comida não é apenas vítima e causa, mas também uma solução" da crise ambiental e econômica, desde que nos apressemos em “construir sistemas resilientes contra as adversidades ambientais e sociais cada vez mais graves, a partir dos contextos mais vulneráveis”.
Sistemas de economia circular que tutelem a biodiversidade, mobilizem os cidadãos e influenciem as instituições. A política não consegue fazer isso, fala Petrini, portanto, precisamos mudar o comportamento do mundo a partir de baixo, aproveitando as comunidades slow e inaugurando uma 'dimensão do ativismo político'. Não há no horizonte um partido, esclareceu ontem o fundador, mas "uma tomada de posição política". A ambição é a de ser o influenciador de um mundo que escolha cultivar, distribuir e comer de forma mais equitativa e sustentável.
Em seu discurso de saudação, Carlo Petrini defendeu o princípio da soberania alimentar, que não significa isolamento, mas identidade e diversificação. Dirigindo-se à nova diretoria, alertou: “global e local ou inovação e tradição não são opostos, mas dialéticos. O Slow Food se tornou grande ao interpretando-os dessa maneira. Mantemos a nossa biodiversidade cultural, cultivando entre nós a cumplicidade e uma austera anarquia: olhem, não é meu capricho, crescemos no mundo porque cada território realizou o que considerava mais útil: o movimento não impôs nada e legitimou as experiências virtuosas. Porque nós não temos uma lógica animal, de concentração de poder, mas sim vegetal, em que cada parte contribui para a vitalidade”.
À tarde, o jovem Mukiibi, vice-presidente do Slow Food desde 2014, tomou a palavra: “É o momento certo para reconstruir, fortalecer e renovar - disse o novo líder -. Mesmo as menores ações implementadas por nossas comunidades são portadoras de uma esperança concreta e geram um impacto positivo sobre as nossas vidas, porque somos uma família global”. Finalmente, dirigindo-se à assembleia, ele concluiu assim: “Carlo sempre me pergunta 'você está pronto?' Estou pronto. We’re ready, estamos prontos”.
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Slow Food, a virada de Petrini: “Um agricultor de Uganda” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU