27 Setembro 2022
Carlo Petrini guarda o cartucho para o final: “Se eu começasse do zero com o Slow Food, agora lutaria contra a Amazon. E vocês, o pessoal que compra e alimenta a Amazon, que nem paga impostos na Itália, estão diretamente envolvidos, vocês têm uma grande responsabilidade”.
A reportagem é de Lorenzo Cresci, publicada por La Stampa, 26-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim termina o debate entre gerações no Terra Madre, em Turim: seis jovens questionando o fundador do Slow Food e o presidente da Fundação Compagnia di San Paolo, Francesco Profumo, sobre o futuro da alimentação. Jovens curiosos e por nada temerosos: Arianna, Andrea, Gabriele, Sebastian, Jorrit e Lucrezia estão todos na casa dos vinte e unidos pelo desejo de tentar salvar o mundo. Acham que o legado que lhes é deixado é pesado, gostariam de espaço, gostariam de ter uma chance.
"Política, é assim que se chama - diz Petrini - e não há nada de errado nisso". E no dia da eleição, a política entra diretamente no Terra Madre. Um exemplo? “Muitas palavras foram ditas sobre as mudanças climáticas, mas nunca foi uma prioridade. Infelizmente - diz Profumo - os nossos conselhos municipais, os nossos conselhos regionais, mas também o nosso parlamento, são incompetentes, formados por pessoas boas para conseguir votos, sem dúvida, mas sem competência”.
Petrini vai ao ataque da Amazon na última pergunta, ao final de um longo raciocínio sobre o papel das multinacionais. "Antes o meu inimigo era o McDonald's - diz Petrini - agora luto contra a Amazon". Ou seja, o símbolo de uma economia que corta os pequenos pela raiz, aquele mundo que o Slow Food tenta valorizar cotidianamente, com as tutelas da biodiversidade alimentar, com a filosofia de se unir para ser mais fortes. “Existem 500 milhões de pequenas empresas no mundo que garantem alimentação a 75% dos seres vivos. No entanto, elas não são nada comparadas às multinacionais. E vocês sabem qual é o paradoxo? Que os produtos feitos pelos camponeses pobres dão excelência às mesas dos ricos e os produtos hiperprocessados das indústrias acabam para os mais pobres”.
Comida e clima estão entrelaçados, as intervenções de Petrini e Profumo elevam o tom para criticar quem erra ou pior ainda que não faz nada para mudar. “E a mudança climática - diz Petrini – está se tornando um problema que parece irreversível porque a política não atende seus compromissos, vamos pensar no Acordo de Paris e depois no que fizeram Trump ou Bolsonaro. Sim, caros garotos, somos responsáveis pelo que acontece, mas é a sua geração que pode salvar o planeta. Vocês sabem como? Comecem a reduzir o consumo de carne, nós 'velhos' podemos fazê-lo e direcioná-lo, vocês deem um jeito, façam como o pessoal das Fridays for Future, que protesta mas também faz boas práticas. Sobre a carne não significa aboli-la: precisamos de uma contração aqui, nos países ocidentais, e de uma convergência onde ela não chega. Na Itália consumimos mais de 90 quilos de carne per capita por ano, na África cinco. Depois da guerra na Itália tínhamos 40 quilos por ano. Nós não nos criamos tão mal, não?” Por isso, diz Petrini, “sejam determinados na realização de seus projetos”.
Também Profumo não se esquiva: “A nossa geração não entendeu que estávamos desperdiçando muito, fomos empurrados para o consumismo e não reagimos ao que a moda queria e o compramos, consumimos e desperdiçamos. Depois algo mudou, três lixeiras foram colocadas nas escolas para separar os resíduos, aquelas crianças foram para casa dos pais e tentaram educá-los. Esta é a chave, a educação, um caminho que começou e que ainda pode começar com os mais jovens”.
Se a política não cuidar disso, então, as gerações mais jovens podem fazer algo de forma autônoma: “Voltar a comprar produtos sazonais, comprar o que é produzido localmente, evitar entregas que vêm de longe, reduzir o desperdício. Porque - diz Petrini - o que hoje chamamos de economia circular nada mais é do que a ‘Ribollita toscana’, ou seja, o que nossas avós faziam, que recuperavam e não desperdiçavam, que inventavam o recheio de agnolotti com sobras de carne da semana”.
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Carlo Petrini: boicotar a Amazon - Instituto Humanitas Unisinos - IHU