As religiões são consciência profética. Devem nos ajudar a entender o que é certo e o que não é. Entrevista com Adnani Mokrani

Foto: Isabella and Zsa Fischer | Unsplash

Mais Lidos

  • Zohran Mamdani está reescrevendo as regras políticas em torno do apoio a Israel. Artigo de Kenneth Roth

    LER MAIS
  • “Os discursos dos feminismos ecoterritoriais questionam uma estrutura de poder na qual não se quer tocar”. Entrevista com Yayo Herrero

    LER MAIS
  • O filho de mil homens. Comentário de Daniel Brazil

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

16 Setembro 2022

 

A responsabilidade necessária, as urgências que não podem mais ser adiadas, o dever de olhar para frente, de pensar a longo prazo. O papel que o Congresso dos líderes das religiões mundiais e tradicionais (que hoje conclui seus trabalhos na capital do Cazaquistão) confia às religiões é recolocar a pessoa no centro, reconstruir um clima de relações que possa redefinir a hierarquia de prioridades, distinguindo o necessário do supérfluo.

 

E nesse sentido, para citar as palavras do Papa ontem na capital do Cazaquistão, Nur-Sultan, o sagrado não pode ser uma sustentação do poder, muito menos justificar a violência. "A religião - observa o teólogo islâmico Adnani Mokrani, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro sênior da Fundação João XXIII para as Ciências Religiosas de Palermo - deveria ser uma consciência crítica que impele para a harmonia, a unidade, a paz e a colaboração. Nesse sentido, os líderes religiosos são chamados a dar uma contribuição mais efetiva para dar forma ao sonho humano e divino de uma humanidade mais unida”.

 

A entrevista é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire 15-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Ao fundo, o Documento sobre a fraternidade humana, assinado em 2019 em Abu Dhabi pelo Papa e pelo grande imã de al-Azhar, Ahmad al-Tayyib.

 

O texto diz respeito ao diálogo islâmico-cristão, mas tem um valor inter-religioso universal porque expressa valores compartilhados por outras comunidades. E além disso, é claro, há a contribuição fundamental da encíclica Fratelli tutti, cujo apelo religioso à fraternidade, tanto do ponto de vista teológico quanto pastoral, chegou no momento certo.

 

Entre outras coisas, um Comitê especial foi criado para a implementação do Documento de Abu Dhabi

 

A intenção é que não permaneça um ponto de partida, mas que seja a etapa de um caminho que continua. E gostaria de lembrar que várias comunidades islâmicas em países como a Indonésia receberam o texto de forma muito positiva, tornando-o uma oportunidade de reflexão, aprofundamento e discernimento.

 

O quadro geral oferecido pelo texto ajuda a dialogar melhor.

 

O que esperar do Congresso que acontece no Cazaquistão?

 

Uma voz religiosa crítica e profética, um apelo à razão, à sabedoria, um apelo também à política para que seja mais humana, mais atenta a quem sofre com a guerra, a fome, a miséria. Afinal, é próprio da consciência crítica, profética e humana da religião dizer: isso está errado, a situação é insuportável.

 

Também em relação à salvaguarda da criação.

 

A questão ecológica é uma prioridade absoluta. Vemos as consequências do capitalismo, do desejo humano de dominar, de competir, sem considerar o bem comum, destruindo a terra. Estamos em uma emergência global. Pensemos no que está acontecendo no Paquistão com as enchentes que destroem o país, enquanto na Europa falta água. São alarmes que chamam à solidariedade, à consciência, à coerência e a trabalhar juntos para mudar o rumo, para mudar os estilos de vida.

 

Para parar esse consumismo que consome a terra e não deixa nada para as gerações futuras.

 

Não há mais tempo a perder.

 

Os líderes religiosos estão discutindo sobre o pós-pandemia. Na sua opinião, como a humanidade está saindo da emergência do Covid?

 

Parece-me que não compreendemos suficientemente a lição. A pandemia nos ensinou que estamos todos ligados, interconectados, unidos no bem e no mal. Ninguém se salva sozinho, como já foi dito. Essa unidade de destino é fundamental. Dizemos isso, mas depois olhando para o conflito na Ucrânia percebemos que os mesmos problemas se repetem, os mesmos complexos da primeira e da segunda guerras mundiais. O ser humano continua a mostrar pouca inteligência.

 

Leia mais