31 Agosto 2022
Em 27 de agosto de 2022, no consistório em que 21 novos cardeais foram nomeados pelo Papa Francisco, Giorgio Marengo, bispo ordinário e prefeito apostólico de Ulaanbaatar, representando a Mongólia na Conferência dos Bispos Católicos da Ásia Central, também foi elevado ao posto de cardeal.
Ele se tornou o cardeal mais jovem do Colégio dos Cardeais e da história recente, junto com Karol Wojtyla, que também foi elevado ao posto de cardeal aos 47 anos. Durante a primeira reunião da Conferência Episcopal Católica da Ásia Central, da qual o futuro cardeal também participou, conversamos com ele sobre as peculiaridades da Igreja Católica na Mongólia, sobre suas expectativas com a visita do Papa Francisco ao Cazaquistão, e agora convidamos você para conhecê-lo melhor através desta entrevista.
A entrevista é publicada por Catholic Kazakhstan, 30-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Há quanto tempo você atua na sua região?
Bem, como missionário, tenho servido à Igreja na Mongólia nos últimos 19 anos. Cheguei pela primeira vez em 2003. Mas só nos últimos dois anos assumi a tarefa de servir a Igreja como bispo e prefeito apostólico.
Quais são as coisas positivas sobre a Igreja Católica em seu país? Como a sociedade se sente sobre a existência e as atividades da Igreja?
Eu diria que o aspecto positivo da Igreja Católica na Mongólia é que ela se assemelha a uma sementinha como Jesus descreveu o Reino de Deus como algo pequeno, mas com um poder de transformação da sociedade. Embora não tenhamos nenhum sinal de transformação externa, gostamos dessa comparação da Igreja como um pequeno rebanho em uma sociedade que tem referências completamente diferentes em outras tradições religiosas e outro pensamento, mas essa é a beleza de ser a Igreja na Mongólia, para servir o Reino de Deus a partir dessa perspectiva. Tão humilde testemunho e vida de oração e uma vida de serviço. E talvez seja principalmente através da vida de serviço que a população tão grande que eles possam ter tido alguns contatos com a Igreja Católica, porque a Igreja Católica está muito envolvida nos programas sociais, na educação, na assistência, até na saúde. Assim, em termos desses projetos, a Igreja Católica é muito respeitada na Mongólia.
Existem experiências (projetos) únicos que possam ser interessantes para aplicação em outros países da Conferência Episcopal?
Eu penso que sim. Nossos projetos podem ser apoiados e precisam ser apoiados do exterior. Porque não temos recursos suficientes internamente. E todos vão ao encontro do atendimento à sociedade nos setores que mencionei anteriormente: educação, assistência social, saúde e diálogo inter-religioso. Nós tentamos o nosso melhor para promover a cultura da compreensão mútua e coexistência pacífica e colaborações entre as diferentes tradições religiosas. E estou certo de que a recém-criada Conferência Episcopal da Ásia Central pode estar interessada em se envolver em tais programas porque eles podem realmente manifestar a identidade da Igreja Católica.
Que desafios a Igreja e os crentes cristãos enfrentam em sua região? Como você avalia as relações com o Estado?
Talvez um dos principais desafios seja o fato de que se tornar católico não é algo considerado tão normal. Você tem que ser muito determinado e corajoso para tomar esta decisão de vida. Porque, como eu disse, a grande maioria das pessoas lá tem outras tradições religiosas, então pode ser que a decisão de um indivíduo de abraçar a fé católica possa facilmente encontrar mal-entendidos na família ou suspeitas dentro do círculo de amigos e familiares. Esse seria eu acho que o maior desafio por causa da novidade em termos de fé católica. Embora a história nos diga que a fé cristã está presente na Mongólia há pelo menos mil anos. Por várias razões nunca penetrou de tal forma que se tornasse uma religião popular. Outros desafios que podem ser encontrados na condução das nossas atividades encontramos por vezes alguns problemas burocráticos ou entraves às nossas atividades, embora tenhamos uma colaboração muito positiva e frutuosa com as autoridades locais.
O que você espera da Conferência dos Bispos Católicos Unidos da Ásia Central. Que tarefas considera serem as principais? É importante desenvolver o diálogo e a troca de experiências entre as Igrejas em diferentes países, e por quê? Como isso o ajudará em seu ministério?
Em primeiro lugar, estou muito feliz por ter um círculo de irmãos, especialmente irmãos mais velhos, que são muito mais experientes do que eu e que tenho certeza que me ajudariam a servir à Igreja de uma maneira melhor porque, estando bastante isolado lá, senti a necessidade de compartilhar as nossas experiências ao nível da fronteira. E isso seria certamente uma boa vantagem desta recém-criada conferência episcopal, porque se olharmos para a história e as semelhanças culturais, encontramos muitos aspectos comuns em todos os nossos países, embora também existam algumas diferenças. Este aspecto de comunhão reunindo-se para refletirmos, compartilharmos nossas experiências, rezarmos, discernirmos juntos, com certeza, de acordo com a insistência do Papa Francisco em um discernimento e sinodalidade seria definitivamente uma boa vantagem. E pode ser que algumas das tarefas que temos que realizar juntos se refiram aos nossos respectivos lugares e às decisões ou planos pastorais que podemos tomar e implementar, mas refletindo-os e discernindo-os juntos como um corpo e não individualmente, acho que seria um ponto muito bom para nós.
Este passo do Vaticano pode ser considerado como uma declaração do desenvolvimento bem-sucedido da Igreja na região da Ásia Central?
Acho que sim, acho que o próprio fato de a Santa Sé já ter aprovado a constituição desta nova conferência episcopal é o sinal de que aqueles que estão encarregados do cuidado universal da Igreja Católica veem algo positivo neste projeto e espero que com sua ajuda e comunhão com eles possamos desenvolver estratégias comuns e intensificar nossa comunhão episcopal que realmente traz muitas consequências positivas para nossos respectivos lugares.
Quais são suas esperanças para a visita do Papa Francisco ao Cazaquistão? Quão oportuna e relevante é esta visita?
Tenho grandes expectativas e tenho certeza de que esta visita marcará um passo importante na vida da Igreja no Cazaquistão e em toda a região ao redor. Estou muito satisfeito em ver a grande tradição do Cazaquistão de unir as pessoas e desenvolver um senso de promoção da paz, harmonia e respeito mútuo em um momento difícil pelas razões óbvias, como todos sabemos. Neste momento, a visita do Santo Padre a um país tão bonito com essas tradições de multirreligiosidade e colaboração frutífera seria um sinal, creio, do Santo Padre que este é definitivamente um bom modelo a ser seguido por todos. E espero que esta visita também influencie positivamente os outros países da mesma região, incluindo a Mongólia, embora estejamos um pouco longe, mas espero que esta visita represente um bom exemplo de como a Igreja Católica reinveste no diálogo inter-religioso, na colaboração mútua com pessoas de diferentes religiões e estou certo de que o Santo Padre vai capitalizar isso porque sabemos que ele é um herói desta coexistência pacífica e harmoniosa de diferentes pessoas e religiões.
Um conselho que você pode dar a um crente sobre como permanecer cristão, manter a fé e lidar com os desafios do mundo de hoje?
Acho que convidaria esse amigo a desenvolver, a intensificar sua relação pessoal com Cristo, porque nossa fé não é baseada em ideologias ou filosofias, é baseada em uma relação viva com o Deus vivo. Assim, em um mundo em que somos tentados a nos dividir em opiniões diferentes e a seguir modelos diferentes que nem sempre trazem vida, acho que o ponto-chave é intensificar e aprofundar nossas relações pessoais com Cristo. Essa seria a âncora que realmente nos mantém unidos a Ele e à Sua Santa Igreja, porque só quando provarmos e vermos quão bom é o Senhor poderemos permanecer fiéis a Ele, poderemos ajudar outras pessoas a conhecê-Lo.
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“O Colégio dos Cardeais deve discernir e servir em comunhão, não individualmente”. Entrevista com o cardeal Giorgio Marengo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU