19 Julho 2022
Também neste julho, como aconteceu há quase mil anos, a paz não brilha entre as três Romas: o bispo da Primeira não está em comunhão eucarística com aquele da Segunda, Constantinopla, embora concorde com ele em condenar a agressão russa contra a Ucrânia. O bispo da Terceira, Moscou, em vez disso, abençoa a "operação militar especial" contra Kiev.
O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L’Adige, 18-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cardeal Umberto da Silva Cândida, legado papal na capital do Império Bizantino para buscar a paz com o patriarca Miguel Cerulário, fracassando na empreitada em 16 de julho de 1054, jogou a bula de excomunhão contra seu rival no altar da basílica de Santa Sofia.
Assim começou o irreparável cisma entre as duas Romas, que em Constantinopla se tornou consciência viva dos orientais depois que em abril de 1204, na época da Quarta Cruzada, os militares ocidentais – os venezianos, entre eles - atacaram a cidade realizando um massacre e instituindo um efêmero Império latino do Oriente.
Moscou nasceria apenas em 1147: e lá, finalmente, se refugiaria o Metropolita da Rus' de Kiev, em 1240 ao fugir de sua terra natal para escapar dos invasores mongóis tártaros. Mas pouco a pouco aquela cidade cresceria e se tornaria a capital de fato da Rússia; e, depois que em 1453 a segunda Roma cair nas mãos dos turcos, que colocam um fim ao milenar império romano do Oriente, Moscou se tornaria ainda maior, considerando-se como a Terceira Roma. No século XVI, o Grão-Príncipe de Moscou torna-se assim Czar, e patriarca o metropolita da cidade.
Após séculos de gelo, a partir do Concílio Vaticano II (1962-65) foi estabelecido um belo diálogo entre a primeira Roma e as outras duas, mas entre a Segunda e a Terceira um cisma finalmente eclodiu um cisma em 2018, porque Constantinopla, apesar da negativa dos russos, tentou criar uma Igreja Ortodoxa autocéfala na Ucrânia, incorporando uma Igreja ligada a Moscou.
Depois que o presidente russo Vladimir Putin decidiu pela invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, Francisco, Papa de Roma, e Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla, condenaram, cada um separadamente, aquele ato "injusto"; ao contrário, tal ato foi "abençoado" pelo patriarca de Moscou, Kirill.
Agora, precisamente nestes dias de julho, Bergoglio reiterou seu desejo de encontrar - talvez em sua viagem ao Cazaquistão em setembro - Kirill, que, no entanto, reitera seu "sim" à operação de Putin.
É difícil imaginar como os dois possam, em uma sua declaração, chegar a um acordo sobre o "caso ucraniano" que até agora os vê contrapostos. Ainda no último domingo, Francisco disse: “Estou sempre perto da atormentada população ucraniana, atingida todos os dias por uma chuva de mísseis. Como é possível não entender que a guerra só cria destruição e morte, matando a verdade e o diálogo?”.
O papa, portanto, encontra-se em uma situação muito difícil: próximo da Segunda Roma, longe da Terceira. O encontro com Kirill - se houver - será, portanto, dramático. O que os divide não é mais a teologia, mas o juízo moral sobre a guerra.
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A guerra divide as três “Romas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU