07 Junho 2022
"Tudo o que é vivido é vivido não para si mesmo, mas para os outros. Nasce aqui a responsabilidade para com os outros o cuidado dos outros, o serviço dos outros. Os outros deixam de ser o inferno (Sartre), e se tornam uma oportunidade de dar sentido à vida. Esse é o ensinamento simples que nos era transmitido de forma insistente: sentir-se como os outros / ficar com os outros / viver para os outros", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na sabedoria camponesa tradicional não havia apenas os dez mandamentos aprendidos de cor desde a infância, mas haviam imperativos que indicavam mais atitudes, estilos, do que ações ou proibições. Eram recorrentes nos discursos que "os mais velhos" faziam aos mais novos, sem lhes atribuir nenhuma autoridade particular: eram conselhos, apenas para meditar, nada mais, e para lembrar na vida.
Norberto Bobbio no De senectute menciona alguns deles (temos em comum a terra, o Monferrato!), mas eu me lembro de outros, ainda mais agora que estou velho e acontece de repeti-los eventualmente a alguém mais novo que conversa comigo questionando-me sobre como viver esta vida que continua sendo uma árdua tarefa a aprender.
Acima de tudo, os imperativos ligados a três palavras eram repetidos com convicção e eram ouvidos, meditados. Tratava-se de conselhos a serem vividos nas relações com os outros, com o objetivo de tecer relações humanas significativas, capazes de dar sabor e sentido à vida.
A primeira palavra era "como": sentir-se como os outros, viver como os outros, ser como os outros. Neste como certamente não havia um convite à homologação, mas ao contrário a afirmação da fraternidade e da sororidade, ou melhor, da humanidade que nos une a todos, havia aquele sentimento de igualdade que me impede de passar por cima dos outros ou de me sentir melhor do que eles. De fato, era um chamado à humildade: não acima dos outros, mas com a mesma dignidade, os mesmos direitos, a mesma vocação à vida e à felicidade. Como os outros: parece uma banalidade, mas é um assunto sério. Quem não conhece e não sabe afirmar o seu ser "como os outros" é induzido à arrogância nas relações, à garantia de privilégios e, finalmente, à violência.
Somente quando essa igualdade do "como os outros" se solidificar é que se pode estar também com os outros.
Esta é uma preposição extraordinária que nos permite ter uma visão comunitária, afirmar a comunhão de dois que dizem “nós” e não mais apenas “eu”. Eu vivo com os outros, moro com os outros, trabalho com os outros, regozijo-me com os outros, sofro com os outros.
Só que não posso decidir morrer com os outros porque morremos sozinhos, mas todo o resto pode ser vivido, feito, esperado com os outros.
Com dá o horizonte comunitário à humanidade, é a afirmação de que vivemos e atuamos juntos, nunca sem o outro. A igualdade abre para a verdadeira comunhão de seres humanos diversos e diferentes, onde a dívida e a responsabilidade para com o outro são vividas juntas.
E desta comunhão profunda faço brotar o terceiro imperativo a partir da preposição para.
Tudo o que é vivido é vivido não para si mesmo, mas para os outros. Nasce aqui a responsabilidade para com os outros o cuidado dos outros, o serviço dos outros. Os outros deixam de ser o inferno (Sartre), e se tornam uma oportunidade de dar sentido à vida. Esse é o ensinamento simples que nos era transmitido de forma insistente: sentir-se como os outros / ficar com os outros / viver para os outros.
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Nós, os outros e o sentido da vida. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU