16 Novembro 2021
"A geração Peter Pan não só não quer crescer, mas não deixa crescer, diz que quer transmitir, mas não é capaz de soltar a presa, pretende da nova geração (filhos, poucos, enquanto os pais abundam!) um empenho que ela não assume. Certamente Matteo conduz a sua análise para despertar a geração Peter Pan no espaço eclesial, mas o problema diz respeito a toda a sociedade", escreve Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 15-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Recentemente, um jovem teólogo italiano foi nomeado diretamente pelo Papa Francisco como subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, o órgão que preside a fidelidade da Igreja à grande tradição católica e zela pela sua expressão em todas as igrejas locais.
Uma nomeação que surpreendeu, porque Dom Armando Matteo é um teólogo que teve a coragem de levantar a voz e escrever sobre questões incômodas e críticas da vida eclesial. A Igreja italiana o ignorou, não o indicou entre os possíveis especialistas para o Sínodo sobre os jovens de 2017, e o juízo sobre ele foi: excesso de pessimismo!
É um teólogo, professor de uma universidade pontifícia, mas vive imerso no tecido eclesial do dia-a-dia e em contato com os jovens.
O objeto de sua pesquisa foi a crise que atravessa a Igreja no Ocidente, com análises precisas, documentadas, capazes de ler e interpretar a realidade. Ele soube perceber o distanciamento dos jovens da vida eclesial, identificando precisamente neles o componente que falta à Igreja. Identificou a fuga dos que chegam aos quarenta anos dos espaços eclesiais pela falta de um reconhecimento real e pela impossibilidade de participação das mulheres no exercício da autoridade na Igreja. Ele se empenhou em compreender o fenômeno cultural em que a sociedade está imersa na busca de uma juventude perene, na recusa de se tornar adultos.
Convertire Peter Pan. Il destino della fede
nella società dell'eterna giovinezza
Em seu último livro, Converter Peter Pan, Armando Matteo denuncia aquela revolução que invadiu o mundo dos adultos e das adultas no Ocidente usando a figura de Peter Pan, personagem que todos conhecemos como a criança que não queria entrar na maturidade. Em poucas décadas ocorreu uma mudança devido ao alongamento da vida, ao advento do bem-estar: tantas possibilidades e liberdades que nossos avós nem poderiam imaginar. Foi uma revolução antropológica que levou a uma leitura diferente da existência: de poucos dias de vida, muitas vezes sombrios, a uma situação inspirada pelo dever de permanecer jovens. Os adultos são presas fáceis de autorreferencialidade e de um egoísmo impregnado de individualismo e narcisismo.
A geração Peter Pan não só não quer crescer, mas não deixa crescer, diz que quer transmitir, mas não é capaz de soltar a presa, pretende da nova geração (filhos, poucos, enquanto os pais abundam!) um empenho que ela não assume. Certamente Matteo conduz a sua análise para despertar a geração Peter Pan no espaço eclesial, mas o problema diz respeito a toda a sociedade.
A patologia não conhece muros nem fronteiras e atinge a todos. Urge, portanto, um despertar das gerações adultas, uma tomada de consciência mais forte da crise que estamos vivendo, é importante despertar do sono para retomar o laborioso caminho do crescimento humano, da consciência e da responsabilidade.
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Geração Peter Pan. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU