14 Março 2022
"E... Se o Natal de 1914 motivasse soldados russos e ucranianos a uma trégua de Páscoa em 2022? Afinal, são soldados e povos irmãos em combate! E se soldados combinassem, em ambos os lados, 'não lutaremos mais, não mataremos quem os generais disseram que são nossos inimigos'?", escreve Edelberto Behs, jornalista, que atuou na Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil – IECLB de 1974 a 1993, como repórter e editor do Jornal Evangélico e depois como assessor de imprensa.
O inverno de 1914 chegou com força nos campos da cidade belga de Yprés. Soldados franceses, ingleses e belgas de um lado, alemães de outro, tiveram que ficar recolhidos em suas respectivas trincheiras por causa da neve, separadas algumas dezenas de metros pela “terra de ninguém”.
Na manhã do dia 25 de dezembro, soldados das linhas francesas ouviram cantorias e festejos no lado alemão. A partir daí a história assume várias versões. Uma, conta que nas trincheiras alemãs apareceu uma árvore de Natal, e que soldados do Império Alemão arriscaram-se na terra de ninguém convidando o inimigo para uma comemoração conjunta do Natal. Trocaram, então, saudações, alimentos, bebidas e cigarros. No dia seguinte jogaram uma partida de futebol.
A Trégua de Natal ficou marcada na história como uma parada humanitária do maior conflito bélico até então, comemorada por tropas inimigas. Essa trégua não foi combinada pelo alto comando militar das partes beligerantes, mas realizada por iniciativas dos soldados, sem autorização de generais e comandantes.
E... Se o Natal de 1914 motivasse soldados russos e ucranianos a uma trégua de Páscoa em 2022? Afinal, são soldados e povos irmãos em combate! E se soldados combinassem, em ambos os lados, “não lutaremos mais, não mataremos quem os generais disseram que são nossos inimigos”?
E se não ficasse apenas numa trégua de Páscoa, mas no fim dos conflitos. “Não vamos avançar mais nenhum centímetro em terras ucranianas”, seria a oferta de Páscoa dos russos. “Não vamos mais resistir nem receber com tanques e carabinas os soldados que foram mandados para nos invadir”, seria a resposta dos ucranianos.
A Páscoa é uma data central no cristianismo. Ela lembra o dia em que Deus libertou o povo hebreu do cativeiro egípcio. Cristãos católicos, anglicanos e protestantes seguem o calendário gregoriano, diferente do calendário observado pelas igrejas ortodoxas. Por isso, ortodoxos comemoraram o Dia do Perdão em 6 de março, e os demais cristãos celebraram a Quarta-Feira de Cinzas no dia 2 de março.
Assim, a Páscoa ortodoxa cairá, este ano, no dia 24 de abril, uma semana depois da Páscoa nas demais igrejas cristãs. Soldados de ambas trincheiras teriam uma semana para uma trégua pascal, quando poderiam acordar que não lutariam mais, contrariando Putins e Zelenskys, Otans e impérios, promovendo a paz num momento intenso de contendas, rixas, concorrências comerciais, marcado por sangue, fugas, exílios, mortes e sofrimento humano.
E se... o milagre acontecer, como ocorreu em 1914? Imagine, junto com John Lennon!
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Imagine: Se a Páscoa de 2022 fosse o Natal de 1914... Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU