07 Fevereiro 2022
O Cardeal Reinhard Marx fala a favor de reformas na Igreja Católica. Ele é a favor da possibilidade de que padres católicos se casem. Em entrevista ao Süddeutsche Zeitung, ele também se posicionou sobre a atitude em relação ao Papa Emérito Bento XVI.
A reportagem-entrevista é publicada originalmente por Domradio.de e reproduzida por Fine Settimana, 02-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“É errado descarregar a possibilidade de viver o celibato simplesmente no indivíduo”, disse Marx em entrevista ao Süddeutsche Zeitung. Acrescentando que o celibato é “precário” e que viver sozinhos não é tão simples.
Questionado se vê uma relação entre essa solidão e os abusos sexuais, o arcebispo de Munique responde: “Globalmente não se pode dizer. Mas essa forma de vida e o vínculo entre pessoas do sexo masculino também atraem pessoas que não são adequadas e que são sexualmente imaturas”.
Marx se expressou com mais cautela sobre a ordenação de mulheres. Ele acredita que a discussão deve continuar. Pessoalmente ele ainda não chegou a uma convicção definitiva. No entanto, os argumentos contrários foram gradualmente parecendo para ele, ao longo da vida, cada vez mais fracos. “Só sei que precisamos de um grande consenso. Caso contrário, todo o edifício desmorona”.
O arcebispo de Munique expressou-se criticamente sobre a moral sexual católica que, em sua opinião, teria produzido muitos bloqueios e rigidez. "E carregamos a culpa." Certa vez, um idoso padre lhe disse: "Se eu pudesse remediar tudo o que causei no confessionário sobre esse tema ...". Isso abalou profundamente Marx. "E agora temos que pagar uma conta que foi se acumulando por gerações", acrescentou.
Marx também rejeitou a insinuação de que ele ou seus colaboradores mais próximos quisessem evitar acusações contra o Papa Bento XVI no debate sobre os abusos sexuais em 2010. "Nem então, nem hoje, queríamos ou queremos protegê-lo dizendo o falso, nem queremos prejudicá-lo”, disse Marx.
Ele também sempre disse claramente para sua equipe de consultores: "Aqui a verdade não é distorcida, nós não fazemos isso".
Agora espera que o papa emérito faça uma declaração completa, conforme anunciado, disse o cardeal. "E que a declaração contenha também uma palavra de solidariedade para com as vítimas e leve em conta as expectativas que existem agora". Declarou que sua relação pessoal com Bento XVI sempre foi boa, "mesmo que não tínhamos ou nem sempre tenhamos a mesma opinião".
Ambos falaram sobre o abuso pela primeira vez em 2010, continuou Marx. Na época, a mídia estava em uma tremenda agitação. “No almoço eu disse a ele: nós dois sabemos que se não houver nada, a atenção desaparecerá. Mas nós sabemos que há até demais. É por isso que a atenção não diminuirá e teremos que enfrentar o problema”.
Enquanto isso, o cardeal Marx pediu ao seu juiz eclesiástico que se manifestasse sobre as acusações individuais contra ele. "Ele deve fazer isso prontamente, e eu quero dar a ele essa oportunidade", continuou Marx.
Que seu funcionário contestasse a legitimidade do relatório preparado pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl a pedido da Arquidiocese de Munique e Freising é algo que o cardeal não podia aceitar.
Como reação, na quinta-feira passada, Marx anunciou que Wolf estava suspendendo todos os seus encargos e funções por enquanto. O homem de sessenta e seis anos é considerado um dos clérigos mais influentes da Baviera. O decano da catedral, ao lado de suas funções na diocese de Munique e Freising, como diretor do Escritório católico, é também a interface entre a Igreja e a política na Baviera.
Além disso, desde 2014 ele é presidente do Conselho da Radio Bavária (BR). Fortes pedidos de demissão foram recentemente pedidos por este órgão. Na parte não pública do encontro online de quinta-feira, Wolf pretende fazer uma declaração.
Richard Kick, do Conselho de Vítimas da Arquidiocese, atacou duramente o alto juiz da Igreja Católica após a publicação do relatório. Ele o acusou de tratar as vítimas de "maneira pérfida" durante o interrogatório. Isso as faria sentir como se estivessem sendo novamente abusadas.
Dessa forma, o funcionário teria bloqueado uma onda de revelações. Doutor em direito canônico, desde 1997 é responsável pela jurisdição eclesiástica na arquidiocese. Ele muitas vezes tratou de casos de abuso em segunda instância em nome da Cúria Romana.
Ele escreveu um decreto criminal assinado em maio de 2016 contra o abusador reincidente Peter H. que chegou à Baviera da diocese de Essen. No relatório dos advogados, um dossiê especial é dedicado a esse homem. O decreto de Wolf é objeto de debates controversos, que contaram nesse meio tempo também com a presença de numerosos advogados eclesiásticos.
O cardeal Marx também admitiu que o sentimento de fraternidade muitas vezes fortemente sentido pelos padres pode levar a uma mentalidade “Closed-Shop” (de sistema fechado). “Com que alegria vesti pela primeira vez meu colar de padre”, lembrou Marx na entrevista ao Süddeutsche Zeitung.
Depois ele voltou para casa de batina e sua mãe lhe perguntou: "Você sempre tem que andar assim?". E ele havia respondido: “Mas é lindo! O que está errado?". Só depois de anos eu pensei: “Veja só, ela já tinha a sensação correta”.
Era apenas um pouco exagerado, disse Marx. “O perigo era o de fechar-se na defesa, de não deixar ninguém entrar. Hoje digo claramente: continuar assim não é mais aceitável e nem é bom para nós mesmos”.
O arcebispo de Munique disse que 20-30 anos atrás não poderia imaginar “que os abusos dos padres acontecessem numa escala tão grande”. Os responsáveis da Igreja muitas vezes acreditaram nos padres quando estes negavam as acusações. “Sou da opinião de que quisemos proteger o presbiterado. Era assim. Mesmo após as primeiras diretrizes de 2002”. Mas esse não foi mais o caso depois de 2010, acrescentou.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A ideia de padres casados é concebível, afirma o cardeal Marx - Instituto Humanitas Unisinos - IHU