07 Dezembro 2021
“Muitos bispos apoiam abertamente o ex-presidente Donald Trump por causa de uma política dos Republicanos: o aborto. Esquecem o Ensino Social Católico, ou o cuidado com o meio ambiente, ou a ajuda aos pobres, ou mesmo proteger os imigrantes e pessoas vulneráveis. O aborto, ao que parece, supera tudo isso, embora os programas que abordam a pobreza e fornecem serviços sociais possam reduzir o aborto. Ninguém gosta de aborto. Ninguém quer o aborto. Mas a incapacidade da Igreja de mover seus membros para exigir um fim legislativo para qualquer financiamento público do aborto – se não para a prática em si – reside em sua incapacidade de convencer a população da sacralidade da vida humana”, escreve a teóloga Phyllis Zagano, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 06-12-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Todo mundo gosta do Papa Francisco. Exceto, ao que parece, os bispos dos EUA.
Por outro lado, ninguém parece gostar dos bispos – eles danificaram suas próprias credibilidades com sua “Carta de Dallas“ de 2002 sobre os abusos sexuais do clero, na qual penalizaram apenas padres e diáconos, mas isentaram os bispos.
Foi o ex-cardeal Theodore McCarrick, conhecido por seus atos de pedofilia, quem sugeriu eliminar os bispos do documento.
Mais uma vez, hoje, a Conferência dos Bispos dos EUA – USCCB parece abandonar o senso comum.
Esquecem o Sínodo sobre a Sinodalidade, um exercício de escuta ordenado por Francisco, que quer escutar católicos e não-católicos sobre como a Igreja pode seguir adiante no atual século. Muitos bispos estadunidenses estão tentando ignorar isso: apenas metade dos bispos estadunidenses indicaram alguém para coordenar o projeto sinodal nas suas dioceses.
Isso é, metade dos bispos dos EUA não estão interessados no que o povo de Deus pensa.
No encontro de outono no último mês, a USCCB aprovou um orçamento de 28 milhões para um “Congresso Eucarístico”, em Indianápolis, no meio de julho de 2024. Não foi publicado nenhum orçamento da USCCB para o sínodo.
Mas é mais que apenas dinheiro. O Congresso Eucarístico é sobre o que padres e bispos controlam: os sacramentos.
No entanto, a Igreja pertence ao seu povo. Todos sabem que só um padre ou bispo pode presidir a missa, mas a palavra “liturgia” significa literalmente “trabalho do povo”. E este é o centro da tensão entre a Conferência Episcopal dos Estados Unidos e Francisco: se a Eucaristia pertence ao sacerdote ou ao povo.
Oito anos atrás, Francisco escreveu que o acesso à comunhão não é um “prêmio para os perfeitos, mas um poderoso remédio e alimento para os fracos”.
O foco da Conferência dos Bispos dos EUA é o que eles podem fazer. O foco do Papa está no que as pessoas podem fazer.
A Conferência dos Bispos dos EUA parece querer fechar portas. O Papa quer abri-las.
Para ver como essa tensão está funcionando, considere o dilema dos bispos dos EUA em relação ao presidente Joe Biden. Quando estava se mudando para a Casa Branca no início deste ano, o presidente dos bispos dos Estados Unidos, o arcebispo de Los Angeles José Gomez, formou uma comissão de trabalho para lidar com a realidade de que os Estados Unidos tinham um presidente católico romano que ia à missa e recebia a comunhão. O problema: Biden apoiou a plataforma do Partido Democrata, que por sua vez apoiou as leis que permitem o aborto.
A solução dos bispos foi encomendar um documento em junho passado sobre “coerência eucarística”, com o objetivo de expulsar Biden da fila da Comunhão. Na reunião de novembro, eles aprovaram um documento morno que não nomeia o presidente nem tem aprovação do Vaticano.
O conselho gentil de Francisco parece ser: tente trabalhar com o presidente católico que você tem e pare de desejar o ex-presidente não-católico que você não tem.
Qual é o ponto crucial da questão.
Muitos bispos apoiam abertamente o ex-presidente Donald Trump por causa de uma política dos Republicanos: o aborto. Esquecem o Ensino Social Católico, ou o cuidado com o meio ambiente, ou a ajuda aos pobres, ou mesmo proteger os imigrantes e pessoas vulneráveis. O aborto, ao que parece, supera tudo isso, embora os programas que abordam a pobreza e fornecem serviços sociais possam reduzir o aborto.
Ninguém gosta de aborto. Ninguém quer o aborto. Mas a incapacidade da Igreja de mover seus membros para exigir um fim legislativo para qualquer financiamento público do aborto – se não para a prática em si – reside em sua incapacidade de convencer a população da sacralidade da vida humana.
Ensinar essa verdade está ao alcance dos bispos, mas eles têm sido extremamente ineficazes. E os bispos como um todo ainda não parecem entender o quanto os católicos e outros desconfiam deles na esteira de mais acusações de abuso por parte do clero e reincidentes encobrimentos.
Os documentos do Vaticano agora tratam do abuso sexual pelos bispos, mas uma linha reta conecta as falhas dos bispos em responder ao abuso sexual clerical, suas tentativas frustradas de mudar a lei do aborto, seu evento de 28 milhões de dólares em Indianápolis e sua resposta morna ao Sínodo.
O Papa está pedindo que escutem o povo. Eles escutarão? Alguma vez?
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Papa Francisco está pedindo aos bispos dos EUA para escutarem o povo. Eles escutarão? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU