Bispos dos EUA: a sombra daquilo que foram. Artigo de Marcello Neri

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23 Novembro 2021

 

A Igreja dos Estados Unidos manifesta uma profunda e dramática incapacidade de compreender a cultura em que os bispos também vivem e os desafios que ela levanta à fé e às comunidades cristãs.

 

O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 21-11-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

No fim, a montanha pariu um rato: o tão esperado documento da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos sobre a eucaristia, aquele que, nas intenções originais, deveria marcar a “excomunhão” nacional de Biden, é pouco mais do que uma piedosa exortação de tons substancialmente moralizantes.

Foi escrito em uma linguagem que provavelmente desencorajará até os mais dispostos, que se renderão após algumas páginas – já que ele não diz nada de substancialmente novo, mesmo no que diz respeito à situação pastoral e à celebração eucarística após a cisão da pandemia.

Ao contrário do habitual, grande parte das sessões foi realizada a portas fechadas, fazendo desaparecer aquela atenção à comunicação e ao debate público que havia caracterizado a Conferência Episcopal estadunidense de antigamente.

Até porque os momentos de coletiva de imprensa acabaram sendo constrangedores – como quando o presidente da Conferência Episcopal, Dom Gomez, tentou o impossível ao negar que a origem do documento sobre a eucaristia foi a eleição de Biden como presidente dos Estados Unidos.

Em suma, uma assembleia que vale mais pelo que não fez do que pelo que produziu. Nada de “emenda Biden”; nada sobre o clima e a COP26; nada sobre a imigração; nada sobre a questão racial; nada sobre a profunda divisão do país e da própria Igreja. Um grande véu de silêncio sobre temas cruciais, que nas últimas décadas viram os bispos estadunidenses tomarem posições de destaque global e publicarem documentos que permanecem na história da Igreja (e além).

Daquela época, restou apenas a sombra (e a nostalgia). Espelho de uma profunda e dramática incapacidade de compreender a cultura em que os bispos também vivem e os desafios que ela levanta à fé e às comunidades cristãs.

O tom de clericalismo em que o documento sobre a eucaristia está impregnado é uma confirmação disso – como se, para padres e bispos, não se manifestasse em absoluto a questão de uma fé e de uma vivência efetivamente à altura da recepção do sacramento. Mas, justamente, eles parecem ser um povo isento.

 

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