24 Setembro 2021
O regime ditatorial de Daniel Ortega e Rosario Murillo impôs um “apagão informativo” na Nicarágua. Somente no mês de agosto, foram registrados 80 ataques à liberdade de imprensa no país, segundo reportagem do jornal La Prensa. Jornalistas, editores, diretores de mídia sofrem perseguições, prisões, agressões e processos por divulgarem material informativo e opinativo que desagrade o governo sob a acusação de praticarem “ciberdelitos”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Jornalistas e analistas políticos deixaram de assinar matérias por medo de represálias. Advogados e até médicos, quando entrevistados, exigem do repórter que não os identifiquem nas matérias. “Eu apoio muitos jornalistas, mas sempre e quando se respeite minha decisão de não aparecer com nome e sobrenome em suas publicações. Eu tive que fugir de minha casa e esconder-me porque estão me perseguindo”, justificou a advogada sob o pseudônimo de Suyen em entrevista para o portal Divergentes.
A médica identificada como González, pseudônimo, foi uma importante fonte de informação de jornalistas sobre a situação, em 2020, do covid-19 na Nicarágua. Mas a partir deste ano também exigiu anonimato para se precaver.
O alerta soou para González quando o infectologista Carlos Quant e o urologista José Luis Borgen foram ameaçados com a Lei Especial de Ciberdelitos por informarem a população nicaraguense sobre o avanço da pandemia no país. Os dois profissionais integram a Unidade Médica Nicaraguense e o Comitê Científico Multidisciplinar da Nicarágua. González denunciou a negligência do governo ao promover aglomerações políticas.
A partir deste ano, a ditadura Ortega-Murillo empreendeu uma nova etapa repressiva aos meios de comunicação, mirando o dia 7 de novembro, quando ocorrerão eleições no país. A Polícia Nacional já deteve pré-candidatos à presidência da república, líderes oposicionistas, defensores dos direitos humanos, analistas políticos, jornalistas, empresários, camponeses e estudantes.
O governo quer infundir o terror e acabar com a liberdade de expressão. “O que faz é intimidar para censurar e para que as fontes de informação se autocensurem”, disse o integrante do coletivo Nicarágua Nunca Mais, Gonzálo Carrión, que está exilado na Costa Rica desde 2019.
Daniel Ortega e Rosario Murillo não querem que pessoas que tenham certo conhecimento e experiência profissional e acadêmica expressem seus pontos de vista na imprensa, denunciou o advogado Rafael, também sob pseudônimo. “Eles querem evitar a todo custo que instruamos a sociedade”, disse para Divergentes.
Rafael, assim como outros colegas, entendem que não é possível calar num momento desses. “Enquanto existirem vozes que questionem, teremos uma pequena esperança”, afirmou.
Não é muito diferente o quadro em El Salvador sob o governo do presidente Nayib Bukele. O discurso de ódio está envenenando as instituições do estado, disse o jornalista investigativo e presidente da Associação de Jornalistas de El Salvador (Apes), César Fagoaga, à LatAm Journalismo Review.
Monitoramento da Apes registrou, de 1º de janeiro a 30 de agosto deste ano, 173 violações contra jornalistas, dentre elas dez ataques físicos, quatro casos de ameaças à vida, um caso de dano ao equipamento e cinco casos de censura, além de ataques digitais.
“Não só acabou a democracia neste país e iniciamos um regime totalmente autoritário onde as decisões de todo o Estado são tomadas na Casa Presidencial, mas também vimos comportamentos contra os meios de comunicação e jornalistas em todo o Estado”, denunciou Fagoaga.
Em Cuba, a jornalista independente Camila Acosta está há dois meses sob a vigilância do Estado, acusada de provocar desordem pública ao informar sobre os protestos do dia 11 de julho ocorridos em Havana. Camila se negou a pagar multa para se livrar da acusação e espera sua sentença.
Outros dez colegas que também reportaram os manifestos decidiram paga a multa, ao contrário de Camila. “Medidas arbitrárias não devem ser acatadas. Devemos deixar de baixar a cabeça, de ceder diante as injustiças. A impunidade do regime cubano deve cessar”, disse Camila ao portal CiberCuba.
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Imprensa sob pressão na Nicarágua, em El Salvador e Cuba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU