15 Setembro 2021
A Arquidiocese de Manágua apontou nesta segunda-feira que a “situação política e social na Nicarágua não deve continuar igual” depois de “décadas de confrontos”, em uma mensagem de comemoração aos 200 anos de independência da Coroa Espanhola.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 14-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“A situação política e social na Nicarágua não pode continuar igual. Temos décadas de confrontos que geraram desemprego, pobreza generalizada, insegurança, exílio forçado, desatenção eficiente à educação e à saúde”, indicou a Arquidiocese de Manágua, em um país de maioria católica.
A Nicarágua vive uma crise sociopolítica que eclodiu em 2018, quando os nicaraguenses protestaram contra o presidente do país, Daniel Ortega, no poder desde 2007 e que buscará uma nova reeleição nas eleições gerais de novembro próximo.
No contexto da crise, foram registradas 328 mortes, pelo menos 103 mil exilados e centenas de opositores presos, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a Agência do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh).
Entre os presos estão sete aspirantes à presidência, líderes da oposição e profissionais independentes, enquanto entre os exilados está o Prêmio Cervantes de 2017 e ex-vice-presidente da Nicarágua no primeiro governo sandinista (1979-1990), Sergio Ramírez, crítico de Ortega a quem o Ministério Público acusa de “praticar atos que promovem e incitam o ódio e a violência”.
A Cúria, que faz parte da Igreja Católica da Nicarágua, cujos religiosos têm criticado o governo de Ortega, expressou seu interesse em ser “uma voz de alento”, em um país onde “aglomerações de pessoas são irresponsavelmente promovidas no meio de uma pandemia global”.
Disse que ao comemorar os 200 anos da Independência aspira a uma “pátria onde os direitos humanos sejam respeitados, a liberdade de pensar e expressar opiniões diferentes, onde juntos possamos construir uma economia que produza bem-estar para todos, sem leis que reprimam iniciativas independentes e se respeite o pluralismo social e político”.
A respeito do processo eleitoral, a Cúria disse que anseia por um país “onde não haja medo de eleições livres, transparentes e competitivas, nem haja presos políticos ou meios de comunicação fechados ou impedidos de informar”.
Destacou o seu desejo de “uma pátria onde as autoridades (...) exerçam a sua autoridade a serviço, facilitem o exercício da liberdade e da responsabilidade para todos, ajam com justiça e respeitem os direitos de cada um”.
“Um país onde os diversos setores empresariais e organizações da sociedade civil possam se desenvolver com o devido respaldo jurídico e fiscal, sem que os aspectos jurídicos e fiscais se tornem meios de coerção”, acrescentou.
Desde que Ortega acusou o Episcopado de estar por trás de um suposto “golpe fracassado”, em 2018, a Igreja Católica, incluindo seus padres e templos, tem sido alvo de ataques, incluindo o incêndio parcial da Catedral de Manágua em 2020 que calcou uma imagem histórica do Sangue de Cristo, que as autoridades da Nicarágua classificaram como um acidente, e que o Papa Francisco descreveu como um “atentado”.
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Nicarágua. Bispos bradam: “a situação política não pode continuar igual” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU