30 Junho 2021
"São as pequenas experiências comunitárias que estão surgindo espontaneamente em vários lugares nas margens da instituição e nas quais se percebe vivo o sopro do Espírito Santo, a manifestar a presença do Senhor Jesus, enquanto a Igreja institucional com seus palácios e suas doutrinas estará inexoravelmente destinada a desmoronar. No futuro, olharemos para essas ruínas com pouca nostalgia e nos perguntaremos como tal estrutura possa ter durado por tanto tempo assim", escreve Paolo Cugini, padre italiano, da diocese de Reggio Emilia, foi missionário na diocese de Alto Solimões, AM, hoje é administrador paroquial de quatro paróquias da zona rural bolonhesa, na fronteira com aquela de Ferrara, em artigo publicado por Adista, 24-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Causou muita discussão a declaração do Papa Francisco sobre o tema do clericalismo e a rigidez dos sacerdotes como "perversão do sacerdócio", no discurso com a comunidade do Pontifício Seminário Regional das Marcas, realizado no Salão Clementino de Roma, quinta-feira 10 de junho de 2021. Não é a primeira vez que o Papa Francisco fala de forma negativa tanto do clericalismo quanto de suas manifestações mais deletérias e perversas, entre as quais a rigidez. Falando aos seminaristas das Marcas, que se preparam para o sacerdócio, lembrou-lhes a importância da formação humana: “Um sacerdote pode ser muito disciplinado, pode ser capaz de explicar bem a teologia, até a filosofia e muitas coisas. Mas se não for humano, não serve”.
Sacrossantas palavras. No entanto, cabe se questionar: será possível que o Papa não se dê conta de que o problema fundamental reside precisamente na estrutura formativa do seminário? O contexto cultural pós-cristão e pós-moderno em contínua evolução está expondo todos os limites daquelas estruturas religiosas educacionais que surgiram na época moderna, baseadas no primado da doutrina sobre a consciência, da firmeza sobre a sensibilidade humana.
Antes de aplicar princípios doutrinários que abraçam todo tipo de situação, trata-se de aprender a acompanhar as fragilidades, de discernir o caminho a percorrer junto com as pessoas. Esse estilo evangélico é aprendido no dia a dia, mantendo o contato com a realidade. Tornamo-nos homens e mulheres sensíveis ao humano vivendo situações humanas, e a escola desse estilo humano só pode ser a vida. É nela, de fato, que descobrimos as surpresas, as situações que saem do ordinário, que exigem prontidão, capacidade de novas respostas. Que vem de anos de doutrinação, de educação para a obediência à doutrina, de um ambiente artificial, exclusivamente masculino, afastado dos problemas cotidianos da vida, cada vez que se encontrar diante da novidade que a realidade manifesta, ficará confuso, embaraçado, em uma palavra: despreparado.
Para além das frases pomposas que podem ser lidas nos documentos eclesiais sobre a formação dos futuros presbíteros, a preparação para ser guia de comunidade é quase exclusivamente intelectualista, num ambiente artificial separado da vida, que não permite apreender, em uma comunidade que se inspire no Evangelho, que o essencial não consiste em controlar a ortodoxia de uma doutrina, mas em compartilhar as alegrias e os sofrimentos com aqueles que desejam percorrer o caminho traçado pelo Senhor.
No entanto, o estilo de Jesus era bem diferente daquele imposto pela Igreja para formar os guias da comunidade. De fato, Jesus ajudou os seus discípulos e as suas discípulas a compreender a dinâmica do reino dos céus, não os separando da vida, mas inserindo-os nela de uma nova maneira; transmitiu os conteúdos do Evangelho não com aulas acadêmicas, mas com o exemplo cotidiano e, sobretudo, assumindo pessoalmente as escolhas feitas. O Mestre transmitiu o ensinamento aos seus discípulos e discípulas, caminhando com eles, ouvindo-os, oferecendo-lhes chaves de leitura para que pudessem tomar as rédeas da própria vida e vivê-la à luz do Evangelho.
Ao longo dos séculos, a Igreja tornou-se uma estrutura rígida, pouco interessada em compreender a realidade, tanto quanto em interpretá-la à luz de uma doutrina elaborada, olhando mais para a exatidão intrínseca das argumentações, do que para sua aderência à vida. Desta forma, ao longo do tempo, nas questões cruciais da existência, como a sexualidade, a afetividade, a economia, só para citar alguns, não conseguiu mais acompanhar os eventos reais dos homens e das mulheres na vida cotidiana, perdendo a possibilidade de dirigir uma palavra autêntica que orientasse a sua vivência. O progressivo descolamento entre a doutrina imposta pela Igreja e a vida real dos cristãos tornou-se um dado real.
Os sacerdotes são formados para manter essa estrutura rígida. Entre eles há os mais sensíveis e os mais rígidos, mas todos se enquadram no esquema do serviço à doutrina. Esperar alguma mudança na Igreja para que abandone a rigidez doutrinária e se torne mais humana e, portanto, mais evangélica, é pura ilusão, também porque aqueles que deveriam produzir a mudança, ou seja, os bispos, são escolhidos pela sua fidelidade à tradição doutrinal. Será o povo de Deus quem salvará as comunidades em virtude daquele sensus fidei que lhes permite captar a presença do Senhor no hoje da história.
São as pequenas experiências comunitárias que estão surgindo espontaneamente em vários lugares nas margens da instituição e nas quais se percebe vivo o sopro do Espírito Santo, a manifestar a presença do Senhor Jesus, enquanto a Igreja institucional com seus palácios e suas doutrinas estará inexoravelmente destinada a desmoronar. No futuro, olharemos para essas ruínas com pouca nostalgia e nos perguntaremos como tal estrutura possa ter durado por tanto tempo assim.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A instituição igreja vai desmoronar. Artigo de Paolo Cugini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU