12 Mai 2021
"Eventos de ruptura sempre acontecem dentro de uma história que nos envolve a todos. Ter optado por colocar o acento mais neste aspecto, do que numa retórica emancipatória de sua nomeação, poderia ajudar a inscrever esta abertura da Igreja Evangélica Luterana Americana - ELCA na esteira de sua longa tradição eclesial. Pelo menos é assim que Rohrer parece entender seu novo ministério", escreve o teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 11-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Sierra Pacific Synod (norte da Califórnia e norte de Nevada) da Igreja Evangélica Luterana Americana (ELCA) no sábado, 8 de maio, elegeu Megan Rohrer como bispo. Esta é a primeira nomeação para um ministério episcopal de uma pessoa transgênero no que concerne as principais denominações das igrejas cristãs estadunidenses.
Anteriormente, Roher foi a primeira pessoa transgênero a ser ordenada na ELCA (2006), e também a primeira a se tornar pastor de uma comunidade paroquial - quando foi chamada para dirigir a Igreja Luterana Grace em São Francisco em 2014.
Em uma declaração escrita após sua nomeação, Rohrer disse: “É uma honra ser chamados para servir o Sierra Pacific Synod. Nestes tempos, em que se pensa o pior sobre as pessoas trans, os luteranos declararam mais uma vez que as pessoas trans são esplêndidas criaturas e filhos de Deus. No momento em que aceito o chamado para este ministério, agradeço a todos aqueles que oraram por mim e por minha família”.
Em sua juventude, Rohrer conheceu a estigmatização de sua comunidade paroquial em Sioux Fall, sendo expulsa do grupo de jovens após se declarar lésbica. Foi durante seus anos de universidade (Lutheran Augustana University) que Rohrer encontrou acolhimento, compreensão e acompanhamento da comunidade de fé. Naqueles anos, também desenvolveu um interesse pela teologia, que estudou primeiro em São Francisco e depois em Berkley. A ordenação ocorreu em 2006 - celebrada em "circunstâncias extraordinárias" foi formalmente aceita e reconhecida pela ELCA em 2010.
Megan Rohrer (Foto: Settimana News)
Na plataforma do programa, apresentada ao Sínodo em vista da eleição do novo bispo, Rohrer enfatizou a necessidade de unir comunicação e evangelização; um firme empenho de atender às necessidades de moradia das famílias pobres (em uma área do país onde a explosão dos preços das casas está produzindo um aumento significativo no número de sem teto); e estabelecer um sistema de controle externo dos processos sinodais da Igreja para revisar aquelas decisões que foram contestadas ou levaram a posições preconceituosas.
Enquanto a mídia esperava que Rohrer enfatizasse ser a primeira pessoa transgênero a ser nomeada bispo, nos dias que se seguiram à sua eleição, o novo bispo se deteve principalmente no fascínio e ligação de sua fé com formas tradicionais do cristianismo e do luteranismo.
Eventos de ruptura sempre acontecem dentro de uma história que nos envolve a todos. Ter optado por colocar o acento mais neste aspecto, do que numa retórica emancipatória de sua nomeação, poderia ajudar a inscrever esta abertura da ELCA na esteira de sua longa tradição eclesial. Pelo menos é assim que Rohrer parece entender seu novo ministério.
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EUA: primeiro bispo transgênero. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU