28 Abril 2021
Sejam bem-vindas as eleições online, que colocam mais estudantes novamente em jogo, mas, ao mesmo tempo, bem-vindos, depois da pandemia, todos aqueles processos dos quais precisaremos para curar as feridas deixadas nos jovens e na sua necessidade de socialidade e relações.
A opinião é de Luca Peyron, presbítero da Diocese de Turim, Itália, e professor de Teologia da Universidade Católica de Milão e de Espiritualidade da Inovação na Universidade de Turim.
O artigo foi publicado em L’HuffingtonPost.it, 26-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A escrivaninha de casa, a mesa atulhada de papéis, o computador no centro, companheiro inseparável nestes meses estranhos de universidade, hoje são também uma cabine de votação.
Há poucos dias, na Universidade de Turim, foi feita uma votação para a eleição dos representantes dos estudantes, e ela foi feita inteiramente online, pela primeira vez, desde que o Príncipe Ludovico de Acaia, em 1404, fundou a instituição no sopé dos Alpes.
A pandemia e um decreto reitoral especial levaram os 80.000 estudantes da Unito para o ciberespaço. Um e-voting, portanto, e, assim, cada um, após ter recebido uma senha da sua conta institucional via e-mail, transformou o seu computador ou tablet em cabine eleitoral.
Não se pode errar o nome. O sistema fornece as listas dos candidatos. A rebeldia estudantil é proibida: não há a possibilidade de anular o voto, só resta a cédula em branco entre as opções possíveis.
Um procedimento semelhante foi adotado também pela Universidade Católica de Milão para as eleições de maio, servindo-se do mesmo serviço, o Eligo, uma plataforma profissional dedicada a esse tipo de consultas.
Para além dos resultados das listas individuais, a democracia certamente fez uma pequena revanche sobre o passado, porque, com a introdução do sistema digital, o número de participantes na votação duplicou, subindo para 17%. Um significativo 17% ou apenas 17%? Vistas de fora, as eleições estudantis representam um bom teste de democracia interna do mundo universitário e um interessante campo de treinamento de civismo tanto para o eleitorado ativo quanto para o passivo.
Pode-se argumentar, com substância, que, em uma instituição de ensino, o elemento do bem comum dificilmente pode ser vítima da ideologia. A política universitária é um campo de treinamento no qual o pensamento pode se confrontar para o alcance de um objetivo – o bem-estar geral da comunidade acadêmica – que se presta menos do que outros cenários a polarizações no que diz respeito a fins e objetivos.
Quem vive as universidades por dentro e continuamente sabe que a realidade, infelizmente, é diferente da ideia. Embora os estatutos das instituições de ensino definam a academia como uma comunidade, as dinâmicas nem sempre são comunais nem geram comunhão efetiva. Existem tensões políticas, alguns resquícios de batalhas passadas, resíduos de ideologias enterradas em outro lugar, paixões tristes ou paixões ardentes, mas em pequenas fogueiras que custam a acender o mundo ao redor daqueles que claramente estão ali para outras coisas, em comparação com a construção de um país além da própria vida.
E mesmo os apaixonados muitas vezes se apaixonam – também com justiça – pelo direito ao estudo, mas às vezes se esquecendo de que a Constituição tem mais de um artigo.
Então, aqueles 17% são uma boa ou má notícia? Provavelmente, é uma direção de pensamento: a transformação digital pode ser um ingrediente saboroso para tornar a comunidade acadêmica mais frizante, viva, participativa e convidativa.
O Evangelho convida os cristãos a serem sal da terra e luz do mundo, advertindo que, se o sal perdesse o sabor, seria simplesmente jogado fora, pois é impossível torná-lo novamente saboroso. O sal na cozinha é um elemento ambíguo: sem sal, os alimentos não têm gosto, mas, se colocarmos demais, tornam-se amargos e incomestíveis.
Na Escritura, o sal retorna frequentemente no significado natural e simbólico, indicando fidelidade, utilidade, sabedoria, purificação, mas também esterilidade e morte. O sal sela amizades e acordos com o estrangeiro: as partes trocavam pão e sal, mas ele é principalmente um sinal da Aliança entre Deus e o povo: “Coloquem sal em toda oblação que oferecerem. Não deixem de colocar na oblação o sal da aliança do seu Deus. Todas as oblações serão oferecidas com sal” (Lv 2,13). Da mesma forma, é um sinal de morte: o ímpio que se afasta do Senhor viverá em uma terra cheia de sal que não permite a vida (Jr 17,6).
No cumprimento trazido por Cristo, o cristão é convidado, assim como o sal, a saber se desfazer, a saber se doar, para que a presença do sal, assim como a do cristão, possa ser reconhecida pelos seus efeitos!
O digital, assim como o sal, pode acelerar processos e favorecê-los, ou queimar o terreno e esterilizar relações. Vimos isso também na universidade, com o uso necessário, mas decididamente excessivo, do ensino online.
Portanto, sejam bem-vindas as eleições online, que colocam mais estudantes novamente em jogo, mas, ao mesmo tempo, bem-vindos, depois da pandemia, todos aqueles processos dos quais precisaremos para curar as feridas deixadas nos jovens e na sua necessidade de socialidade e relações.
A universidade pode ser um dos lugares desse recomeço, convocados por um e-mail, depois de terem decidido o horário em um chat, para tecer um diálogo pessoalmente, na frente de uma máquina de café.
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A democracia universitária entre o presente digital, o passado material e o futuro presencial. Artigo de Luca Peyron - Instituto Humanitas Unisinos - IHU