30 Março 2021
Por que os líderes dos grupos de direita são muitas vezes mulheres? E por que na esquerda não há personalidades até agora capazes de enfrentá-las? A entrevista com Lucetta Scaraffia, feminista antes de historiadora e jornalista, começa com essa curiosa disposição das diferenças de gênero na política. “Os governos europeus ficaram durante anos no âmbito da centro-esquerda presidido por um establishment de forte calibre masculino. Portanto, as mulheres floresceram na oposição, onde o poder constituído era mais fraco e a competição menos acirrada. A precursora é, sem dúvida, Margaret Thatcher, que ganha a liderança dos conservadores britânicos quando o partido está quase se apagando, sem mais energia e futuro. Ao longo dos anos, na Itália, França, nos países do Norte, as conquistas femininas viveram com luz própria. Aquelas que mostraram capacidade e substância política fizeram carreira. E depois as mulheres de direita tiveram a sorte de não sucumbir ao princípio das cotas rosa que é a construção hipócrita de um cartel organizado muitas vezes para selecionar as favoritas dos homens”.
A entrevista é de Antonello Caporale, publicada por Il Fatto Quotidiano, 29-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As cotas rosa são de esquerda.
A horrenda escolha de Enrico Letta para acertar as contas internas do Partido Democrático através da proposição da questão de gênero confirma que a esquerda usa esse método, filho de uma grande hipocrisia. Um determinado número de mulheres, seja lá qual for. Um determinado número de mulheres, talvez boas, outras talvez amigas, outras ainda talvez namoradas. Um determinado número, uma modalidade para gerir o poder consorciando frequentemente o gênero feminino, mas no nível mais baixo.
Mas as mulheres do Partido Democrático não se rebelaram.
E esse é o problema. Elas não viraram a mesa, não protestaram. A condição feminina vive também das diversidades das aspirações, ambições, escolha de carreira de cada uma. Na política, esse fato conta ainda mais do que o reconhecimento do próprio papel. Giorgia Meloni se afirmou graças à ausência dessas concessões, embora dentro de um partido puramente dominado por homens e paternalista. Ela teve condições de vencer o desafio por causa de suas próprias qualidades certamente não comparáveis às de seus companheiros de viagem.
Há dois anos você desistiu da liderança do encarte feminista Donne Chiesa Mondo, que era distribuído todos os meses pelo Osservatore Romano. Fez isso após denunciar as contínuas e graves violências que estavam ocorrendo na Igreja contra as religiosas.
Não havia convento na Ásia, na África, mas também na Europa, onde não houvesse casos de abusos e violações graves da dignidade e do corpo das mulheres por seus coirmãos. Muitas freiras foram obrigadas a fazer abortos e inúmeros casos de redução a funções inferiores inclusive subalternas, como servidão doméstica.
E a Igreja não tomava posição. Assistia silenciosa e cúmplice.
Os poucos casos que vieram à luz foram classificados como infração do voto de castidade. Ele e ela haviam infringido a norma. Ambos culpados. Portanto, nenhum culpado. Mas as coisas estão mudando.
Estão mudando?
As religiosas mudaram. A condição feminina vive uma nova temporada graças à geração de jovens mulheres, de nossas garotas que não são filhas da sociedade dominada pelos homens, daquela cultura. A Igreja também está acertando as contas com essa novidade geracional explosiva.
Este é o novo mundo?
A presidente da União Internacional das Superioras Gerais convidou expressamente a denunciar os abusos, a dar voz aos protestos. Quem teria dito isso?
Rostos femininos também estão sendo vistos no governo do Vaticano.
Embora seja uma escolha muito de imagem, votada mais por uma necessidade imperiosa do que por uma escolha fundamental, continua a ser uma novidade interessante.
A pandemia fez as mulheres retroceder, trancou-as em casa.
As mulheres pagam o preço por sua independência porque são as mais atingidas pelo desemprego. No entanto, muitas encontraram o tempo perdido, basta pensar nas horas gastas indo e voltando do local de trabalho. E esse tempo, nas mãos de uma mulher, muitas vezes se torna um tesouro.
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“A condição feminina vive uma nova temporada graças à geração de jovens mulheres”. Entrevista com Lucetta Scaraffia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU