Para impedir os abusos é preciso que as mulheres estejam presentes na formação dos padres

"Trois femmes" na Cathédrale Saint-Pierre-et-Saint-Paul, Troyes, França. Foto: Pom' | Flickr

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

21 Setembro 2018

A intelectual italiana e coordenadora do suplemento feminino do L'Osservatore Romano, Lucetta Scaraffia, pediu uma “mudança radical” na Igreja.

A reportagem é publicada por Cooperativa.cl, 20-09-2018. A tradução é de André Langer.

Ela pediu ao Papa Francisco para que “escute as mulheres”.

O problema é que “eles não estão acostumados a ter mulheres do lado. Nem pensam nisso”, acrescenta Scaraffia.

A intelectual italiana e coordenadora do suplemento feminino do jornal vaticano L'Osservatore Romano, Lucetta Scaraffia, disse à agência Efe que para resolver o problema da pedofilia no clero é preciso que as mulheres estejam mais presentes na formação dos sacerdotes.

Scaraffia é, desde 2012, a coordenadora do suplemento mensal Donne, Chiesa Mondo (Mulheres, Igreja, Mundo), que revolucionou com sua publicação a comunicação do Vaticano, pois, primeira vez, uma publicação se dedicada exclusivamente a ouvir a voz das mulheres.

Asseguram que o Papa Francisco tem essa intelectual católica, com um passado de não crente e que sempre se define como feminista, em alta estima.

Em entrevista à Efe, Scaraffia fez-se novamente porta-voz de sua luta há anos: a necessidade de que as mulheres sejam ouvidas em todo o mundo católico e também dentro do Vaticano, e abordou o escândalo dos abusos sexuais por parte de religiosos.

Para esta historiadora e jornalista, faz-se necessária “uma mudança radical na formação dos sacerdotes” para enfrentar o problema dos abusos.

E esta formação precisa começar com uma “mudança na relação que os padres têm com as mulheres e começar a ter mulheres em uma posição superior, como professoras, conferencistas... assim como estudar menos teologia e mais história”.

“Necessita-se ter maior contato com a realidade” nos seminários, assegura.

Para Scaraffia, a abolição do celibato não resolveria o problema, porque, recorda, “a maior parte dos casos de abusos sexuais de crianças e adolescentes acontece nas famílias”.

Scaraffia denuncia, além disso, que, assim como no mundo secular, na Igreja católica, também existe o “arrivismo” e “os homens veem as mulheres como aquelas que lhes querem tirar o posto” e, por isso, “não se vê com bons olhos a entrada das mulheres nas hierarquias eclesiásticas”.

O problema é que “eles não estão acostumados a ter mulheres do lado. E nem pensam nisso”, acrescenta.

Para a autora, juntamente com Silvina Pérez (diretora da edição em espanhol do L'Osservatore Romano), do livro Francisco. O Papa americano, é importante que o Pontífice argentino continue falando sobre a importância de ouvir e legitimar as mulheres.

Francisco está tentando fazer todo o possível para quebrar essas resistências, porque não há dogmas, não há problemas teológicos, que impedem a mulher de ser porta-voz do Vaticano ou responsável por um dicastério, mas é preciso que as mulheres reivindiquem a presença na Igreja”, explica.

Nas páginas do seu suplemento, Scaraffia denunciou há alguns meses as condições de muitas religiosas relegadas a ser as “senhoras da limpeza” nas residências de padres, bispos e cardeais. “Essas mulheres não se tornaram freiras para limpar as casas, mas para evangelizar”, critica.

Scaraffia pede ao Papa Francisco para que “escute as mulheres”. “O importante não é dar cargos para as mulheres, mas escutá-las. Nas reuniões em que se debate sobre a Igreja, é preciso chamar as mulheres. Dar-lhes a dignidade de interlocutoras”, destaca.

Porque, assevera, quando se ouve e conhece as mulheres, “não há a necessidade de ter ‘cotas’”, e “chamá-las para ocupar cargos importantes é uma consequência espontânea”.

Leia mais