29 Março 2021
"Parece-me que esteja presente, mesmo nos níveis mais altos da Igreja, aquele perigo que existe mesmo no pequeno das nossas paróquias: reflete-se sobre como proceder no caminho, determina-se que é bom, mas paramos diante da decisão, porque há quem não quer mudar nada, não quer ouvir razões e ameaça ir embora batendo a porta. Lembro-me do início da primeira Catilinaria, que o professor de latim nos fez estudar introduzindo o pensamento de Cícero: Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? Até quando a Igreja terá de esperar para caminhar, por medo daqueles que ameaçam cismas e abandonos?", escreve Alberto Varinelli, em artigo publicado por Santalessandro, 25-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há poucos dias li um post nas redes sociais de um sacerdote que admiro, um professor de Teologia, que dizia assim: Uma travada após a outra, um passo para trás após o outro, a "Igreja em saída" é forçada a retornar para o recinto a toda velocidade. Em vez de iniciar processos de reforma, coloca-se meticulosamente sob processo qualquer tentativa de renovação. Com a bênção - nestes casos nunca negada - de quem havia lançado a marca. Nomina nuda tenemus".
Uma breve contextualização: o post do professor está vinculado ao “Responsum” da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a bênção das uniões de pessoas do mesmo sexo. O sacerdote, com argumentos bíblicos e teológicos, expressou sua posição, em várias postagens, expressando claramente sua contrariedade e seu desapontamento com o que foi afirmado pela Congregação do Vaticano, que declarou a ilicitude das bênçãos acima mencionadas, pois a Igreja não disporia de poder para formulá-las.
De minha parte, não pretendo me expor aqui sobre a questão: eu o fiz, como sempre faço, em algumas conversas com amigos sacerdotes e com alguns leigos dispostos a refletir seriamente sobre a questão, mas prefiro que, sobre esses assuntos delicados, que a expressar-se sejam aqueles que têm as competências: refiro-me, em primeiro lugar, às conferências episcopais e aos teólogos, também aqueles da nossa diocese de Bérgamo.
A Conferência Episcopal alemã, juntamente com a belga, já ofereceram a sua contribuição sobre o "Responsum": a Conferência Episcopal italiana também o fará? E o fará com séria reflexão e não simplesmente com uma repetição do que foi afirmado no documento assinado pelo Cardeal Ladaria? Pessoalmente, duvido, mas espero estar errado: se estiver errado, baterei no peito e na confissão pedirei perdão.
O que gostaria de compartilhar aqui é o sentimento que senti diante do post do teólogo, com o qual estou totalmente de acordo. Além da questão inerente ao pronunciamento da Congregação para a Doutrina da Fé, eu havia experimentado essa sensação, que não teria sido capaz de traduzir em palavras, quando, em fevereiro de 2020, foi promulgada a Exortação Apostólica Querida Amazônia. Provavelmente eu tinha expectativas excessivas em relação ao documento, mesmo que não as achasse desmotivadas. O Papa tinha mostrado abertura para, por exemplo, a possibilidade de ordenação presbiteral de "viri probati", pelo menos em algumas situações particulares. Do ponto de vista teológico e do direito canônico, muito se trabalhou e, graças ao empenho de teólogos de grande conhecimento, foi possível chegar a formulações teológicas e jurídicas válidas sobre o tema. Não houve, portanto, nenhum problema particular que impediria de prosseguir nessa direção; além disso, a maioria do episcopado latino-americano era a favor da solução (apresentada, aliás, por alguns bispos daquelas dioceses, convidados pelo próprio Papa Francisco a formular propostas corajosas ...).
Em vez disso, nada de novo sob o sol. Por quê? A motivação também é evidente para aqueles que, como eu, não se sentam "na sala de controle" (ainda que, sobre isso, eu tenha ouvido pessoalmente o testemunho daqueles que, ao contrário, trabalham justamente naqueles níveis): o Papa, diante da ameaça de cisma dos cardeais e bispos contrários, sendo chamado pelo ministério petrino a salvaguardar a unidade da Igreja, preferiu não assinar aquela que teria sido uma escolha com pesadas consequências para toda a Igreja. Não gostaria, afirmo isso sinceramente, que mesmo após a aprovação do documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o assunto acima mencionado, tivesse entrado em cena a mesma dinâmica, esta espécie de dispositivo de bloqueio que impede alguns passos à frente da Igreja, apesar da teologia e da pastoral terem mostrado a bondade dos próprios passos para o bem de toda a Igreja.
Afinal, parece-me que esteja presente, mesmo nos níveis mais altos da Igreja, aquele perigo que existe mesmo no pequeno das nossas paróquias: reflete-se sobre como proceder no caminho, determina-se que é bom, mas paramos diante da decisão, porque há quem não quer mudar nada, não quer ouvir razões e ameaça ir embora batendo a porta. Lembro-me do início da primeira Catilinaria, que o professor de latim nos fez estudar introduzindo o pensamento de Cícero: Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? Até quando a Igreja terá de esperar para caminhar, por medo daqueles que ameaçam cismas e abandonos?
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Entre “igreja em saída” e “igreja de retorno”. Reflexões simples de um padre do interior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU