27 Novembro 2020
“Estamos no início de uma extinção em massa e vocês só conseguem falar em dinheiro, ou na fábula do eterno crescimento econômico: como ousam!" Passou pouco mais de um ano desde o vibrante discurso de Greta Thunberg na Cúpula da Ação Climática em Nova York, mas pouco parece ter mudado em termos de soluções para a crise climática em curso.
A reportagem é de Federico Del Prete, publicada por Business Insider, 24-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que preocupa não é apenas o degelo cada vez mais rápido, sintoma evidente de uma mudança de época, mas também a lentidão dos governos em adotar medidas adequadas à rápida evolução desse preocupante cenário.
No último mês de agosto foi novamente Greta Thunberg quem reiterou, em carta conjunta com duas outras militantes "juniores" como ela, como o mundo está, apesar de tudo, "em uma fase de negação da crise climática".
Thunberg é uma garota, e é também por isso que ela diz uma coisa muito simples: nos últimos trinta anos, a ciência tem sido "cristalina" sobre nossa responsabilidade preeminente pelo que está acontecendo. Mas "as soluções de que precisamos", gritou com a voz quebrada a jovem, "não estão chegando a lugar nenhum".
O que realmente não entendemos sobre a crise climática? De muitos lugares, não só daqueles de um dos maiores movimentos de mobilização civil da história, continuam a chegar avisos e confirmações sobre o que está acontecendo, mas uma possível solução parece carecer do envolvimento ativo de dois sujeitos fundamentais: em primeiro lugar, todos os governos, depois os indivíduos, com seus comportamentos individuais.
Enquanto isso, as iniciativas de divulgação permanente se multiplicam: interessante é aquela lançada pelo The New York Times, que em sua seção Clima oferece uma página com dezessete perguntas sobre essa "verdade incômoda", como foi chamada: a mudança climática é complexa, descreve o título, e temos respostas muito simples.
Apesar dos esforços anteriores de Al Gore e de muitas iniciativas atuais, como a do Times, os Estados Unidos não participaram da Cúpula da Ação Climática em Nova York em setembro de 2019 e a aparição zombeteira de Donald Trump, que durou apenas dez minutos, só exasperou ainda mais o ânimo já estressado daquela que é provavelmente a cidadã sueca mais famosa do mundo.
Há poucos dias, os EUA, país responsável por 14% das emissões globais que alteram o clima, saíram formalmente do frágil acordo de Paris (COP25), decisão tomada pelo governo Trump em dezembro do ano passado. Joe Biden prometeu voltar, mas teremos de esperar vários meses.
Como sugere a página do The New York Times, a coisa mais imediata a fazer é conversar sobre isso com as outras pessoas. Os especialistas, explica o texto, dizem que o problema só pode ser resolvido com uma ação em grande escala, coletiva.
Se for percebida a urgência de uma solução, deve ser encaminhada envolvendo também aqueles que nos rodeiam. Quem ficaria em silêncio diante de um incêndio?
Mas a questão permanece: o que não entendemos sobre a crise climática?
"Acredito que na base esteja uma falta de consciência sobre nosso ecossistema em geral, não apenas sobre teorias atmosféricas complexas, mas, precisamente, sobre o funcionamento de nosso mundo", disse o meteorologista Federico Grazzini, autor de Fa un pò caldo (Está um pouco quente, em tradução livre) com o físico Sergio Rossi.
Concebido para crianças, mas também útil para adultos, o livro parte da primeira descoberta desse fenômeno para chegar à desestabilização muito rápida da atmosfera em que estamos vivendo, oferecendo respostas simples, úteis também para os adultos.
“É algo que noto também em meus colegas, até mesmo especialistas em outras áreas de pesquisa, mas ainda assim cientistas”, continua Grazzini. “Muitas vezes me perguntam: 'É realmente tão ruim assim?' Infelizmente, a resposta é sim. Acredito que, por exemplo, falte na mídia a capacidade de reunir todas as várias peças da crise climática, que certamente é complexa de entender, mais ainda que ameaçadora. Depois, há outro aspecto mais imediato. Uma sociedade como a nossa, em sua maioria urbana, perdeu um importante elemento de contato autêntico com a natureza, o que de alguma forma dificulta a compreensão do que está acontecendo. Para um agricultor é diferente."
"Todos os indicadores que estamos observando, desde a extensão das geleiras no Ártico até o aumento das ondas de calor, são coerentes em confirmar não apenas o aquecimento global em si, mas a aceleração dramática do fenômeno. Uma vez que todo o gelo ártico tenha desaparecido, estamos falando de algumas décadas, tempos muito curtos, iremos rumo a um cenário que não conhecemos em detalhes; entretanto, sabemos que certamente será algo pouco reconfortante”.
A pergunta seguinte surge espontaneamente, talvez mais adequada às competências de um psicólogo do que de um meteorologista: por que algumas pessoas negam os resultados científicos que demonstram a atual crise climática?
Grazzini continua:
“A ciência tem uma certa responsabilidade. Obviamente não é intencional, mas ao se comunicar com o público o cientista costuma se expressar em termos de dúvida: por exemplo, na meteorologia nos baseamos em simulações, que envolvem uma certa margem de erro. A incerteza associada a uma determinada estimativa, mesmo que obtida por métodos científicos, pode dar a impressão de que não se sabe exatamente o que está acontecendo, mesmo que isso não seja verdade. Se eu sei que estou indo a toda velocidade em direção a um precipício, não preciso transmitir com precisão como vou cair e não muda muito se eu chegar lá em um segundo ou talvez em três. Vou acabar caindo de qualquer maneira, então é melhor se concentrar em como frear”.
A atenção global está atualmente voltada para os resultados da pandemia, que por sua vez está intimamente ligada à crise climática e à poluição: Grazzini trabalha em uma das áreas mais poluídas do planeta, o Vale do Pó, que abriga uma das maiores economias da Europa.
Planície Padana, também conhecida como Vale do Pó, na Itália. (Foto: Wikipédia)
“A pandemia oferece muitas sugestões de reflexão sobre a prioridade que a questão ambiental deveria ter. O Vale do Pó, por exemplo, está muito sujeito à estagnação de poluentes, devido a condições típicas, normais. Quando há alta pressão, o ar fica estagnado por muito tempo: deveríamos, portanto, ser mais cuidadosos do que os outros e emitir menos poluentes, porque vivemos em um lugar desfavorecido. Além disso, a crise climática tende a prolongar cada vez mais os períodos de alta pressão. Teremos, portanto, que fazer um esforço ainda maior para purificar nosso ar no inverno, bem como no verão, onde outros fenômenos entram em jogo; mas as respostas devem ser dadas imediatamente, agora. A pandemia mostrou que, quando paramos de nos mover de forma muitas vezes desnecessária, a poluição diminui substancialmente, no Vale do Pó como em outros lugares. Todos os elementos que temos parecem dizer: qual a vantagem de continuar usufruindo do que chamamos de bem-estar, se depois falta saúde?” conclui Grazzini.
O cenário é realmente preocupante. Para fazer uma ironia, seria possível dizer: não existem mais as meias-estações, mas infelizmente é muito mais do que isso e Greta Thunberg não exagerou quando disse que "ecossistemas inteiros estão entrando em colapso". Os primeiros são aqueles imersos nos mares e oceanos, cada vez mais quentes e ácidos, mas os próximos somos nós, cada vez mais desestabilizados nas economias e, portanto, também nos aparatos governamentais: além das ondas de calor, haverá cada vez mais ondas de refugiados climáticos. Já se fala em uma sexta extinção em massa - e poucos conhecem as outras cinco, com seus ensinamentos.
A crise climática poderá voltar a ser aquecimento global para, depois, simplesmente ser clima, somente quando reduzirmos a zero as nossas emissões que alteram o clima.
Como fazer? Comece a repassar este artigo para todos que você conhece.
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O que não entendemos sobre a crise climática. E o que não queremos entender - Instituto Humanitas Unisinos - IHU