28 Agosto 2020
Os bispos deveriam fazer um exame completo do racismo e deveriam fazer da injustiça racial uma prioridade para suas dioceses e paróquias.
A reportagem é publicada por National Catholic Reporter, 27-08-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No último dia da assembleia de 2020 da Leadership Conference of Women Religious (LCWR), seus membros foram convidadas a participar de um “compromisso de cinco anos para trabalhar no desmantelamento do racismo (...) nos esforços da LCWR para nomear e erradicar o racismo dentro de nós mesmos, das nossas congregações, dos nossos ministérios e da LCWR como organização”.
Os detalhes desse compromisso estão sendo desenvolvidos. Ele havia sido anunciado em junho para os membros da maior organização de lideranças de congregações religiosas femininas do país.
Ao longo da assembleia de 2020, realizada virtualmente entre os dias 12 e 14 de agosto, as oradoras enfatizaram a necessidade de justiça racial em seus discursos, orações e reflexões.
O compromisso com o desmantelamento do racismo foi o primeiro de três iniciativas destacadas pelas dirigentes da LCWR em um resumo da sua sessão exclusiva para membros no dia 14 de agosto.
O resumo disse que as ordens religiosas e o mundo em geral estão enfrentando um “momento crucial”, no qual “a pandemia, o racismo, as mudanças climáticas e a preocupação com o futuro das congregações religiosas têm convergido para criar um período de ‘desafios assustadores’”.
As outras duas iniciativas pareceriam mais integradas às religiosas: um fundo designado para apoiar o futuro da vida religiosa nos Estados Unidos, semeado pela LCWR, e uma “conversa nacional”" sobre o futuro emergente da vida religiosa.
O fato de a resolução sobre o desmantelamento do racismo ter sido listada em primeiro lugar entre as três iniciativas é indicativo do papel de liderança que as religiosas estão desempenhando na Igreja Católica ao enfrentar e tentar extirpar as raízes do racismo dentro de suas congregações e delas mesmas.
Além disso, demonstra que esse não é um exercício auxiliar, mas sim uma responsabilidade integral que a liderança da LCWR acredita que é crucial para a vida religiosa.
Isso contrasta com os bispos dos Estados Unidos, que têm estado amplamente silenciosos sobre a denúncia do racismo, o reconhecimento do papel histórico da Igreja na promulgação da escravidão e a promoção da justiça racial.
Sim, a Conferência dos Bispos emitiu um comunicado durante os crescentes protestos contra o trágico assassinato de George Floyd, após uma declaração anterior de sete bispos que são presidentes de várias comissões (as congregações religiosas femininas também se manifestaram contra as brutais mortes de Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e outros).
Mas as ações da LCWR e das suas congregações membros mostram um profundo reconhecimento da necessidade de manter o foco nas questões do racismo e da injustiça racial. É um compromisso que os bispos e a Igreja dos Estados Unidos em geral deveriam imitar.
Essa última iniciativa da LCWR se baseia em um processo doloroso que começou na sua assembleia de 2016, quando Shannen Dee Williams, historiadora da Villanova University, apresentou uma pesquisa meticulosa de como as congregações religiosas femininas discriminaram as mulheres negras, impedindo-as de entrar em suas comunidades.
Os exemplos estavam em uma justaposição chocante com os esforços frequentemente relatados pelas irmãs católicas que marcharam em Selma e que trabalharam para desmantelar algumas barreiras raciais. A sessão de Williams abalou muitos membros, que a convidaram para falar em suas próprias congregações e abriram seus arquivos para ela.
A sessão também forneceu uma base para a resolução da assembleia naquele ano, que comprometeu os membros da LCWR a “examinar as causas básicas da injustiça, particularmente o racismo, e a nossa própria cumplicidade como congregações, e a trabalhar para efetuar mudanças sistêmicas”.
O foco no reconhecimento da injustiça racial dentro das congregações religiosas femininas continuou na assembleia de 2018, com um novo compromisso com a resolução da assembleia de 2016 “para ir mais fundo” no trabalho crítico de examinar as causas profundas da injustiça e da cumplicidade histórica das irmãs com o racismo.
Algumas congregações fizeram o seu próprio dever de casa, estimuladas pela pesquisa de Williams, encontrando mulheres que haviam sido rejeitadas nas tentativas de se juntarem às suas ordens, e pediram desculpas. Outras também começaram a pesquisar e a reparar a cumplicidade das suas congregações com a escravidão. Outras, ainda, realizaram sessões de estudo, durante meses, sobre o racismo estrutural e o privilégio branco ainda arraigados em si mesmas, em suas congregações e na sociedade.
É nesse contexto de fundo que as declarações das religiosas ressoam e se tornam mais do que declarações. Os bispos deveriam fazer um exame completo do racismo e deveriam fazer da injustiça racial uma prioridade para suas dioceses e paróquias – sim, mesmo em meio a esta pandemia mais desafiadora, que revelou as desigualdades nos cuidados de saúde e na paridade econômica.
A Conferência Nacional das Irmãs Negras emitiu uma poderosa declaração em junho, fazendo um desafio aos bispos: “Se a mais recente carta pastoral sobre o racismo, ‘Open Wide Our Hearts’, escrita pela Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, deve ter alguma legitimidade moral, então os nossos líderes episcopais devem fazer mais do que falar da boca para fora para enfrentar o pecado do racismo que está destruindo as comunidades negras ao redor desta nação”.
Fazemos eco a esse apelo concertado e a essa atenção focada nessas questões por parte dos nossos bispos.
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“Bispos deveriam seguir o exemplo das religiosas para desmantelar o racismo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU