13 Junho 2020
“Estamos testemunhando uma rebelião. É lindo ver a quantidade de protestos e as dimensões e amplitude de todas as cores, todos os sexos, todas as orientações sexuais, todas as etnias e identidades religiosas dos Estados Unidos”, afirma o Dr. Cornel West, professor de Harvard e Princeton, filósofo, teólogo e proeminente intelectual público afro-americano, uma das vozes mais necessárias e de referência neste momento marcado pela onda mais ampla de protestos antirracistas em meio século.
A reportagem é de David Brooks, publicada por La Jornada, 12-06-2020. A tradução é do Cepat.
West se define como um intelectual público e promotor da justiça racial através das tradições da igreja afro-americana, da política progressista e do jazz. É integrante do Democratic Socialists of America, autor de 20 livros, entre os quais se destacam Race Matters e Democracy Matters: Winning the fight against imperialism, orador eletrizante e de longa data nas lutas progressivas das últimas décadas. West oferece história, música e uma profunda compreensão da dinâmica política e social deste país.
Ao falar recentemente dos protestos, West destacou: isso foi desencadeado pela morte de George Floyd (o afro-estadunidense assassinado por um policial branco), combinado com a pandemia, níveis de desemprego em massa como da Grande Depressão e um neofascista mandando neste Estado-nação.
Sobre os protestos que chama de rebelião, enfatiza que há uma nova militância moral maravilhosa, uma intensidade diária em protestos pacíficos e a organização local de grupos que no passado quase não se comunicavam, mas agora lutam juntos, caminhando as ruas juntos, e indo para o cárcere juntos.
Ao comentar sobre a cerimônia fúnebre de Floyd, nesta semana, West disse que os afro-estadunidenses “são pessoas que foram cronicamente e sistematicamente odiados por 400 anos, mas que ensinaram muito ao mundo sobre amor… depois de 400 anos traumatizados, queremos oferecer curandeiros, isso é Frederick Douglass, isso é Martin King, Curtis Mayfield. O que tem este povo negro, tão completamente subjugado, que querem liberdade para todos? Esse é o grande presente para o mundo, justamente das entranhas do império estadunidense.
“Temos um amor que o mundo não pode tirar de nós. A supremacia branca poderia fazer com que ser negro seja um crime, mas nos recusamos descermos aos esgotos. Vamos dando golpes como Ella Fitzgerald, Muhammad Ali, em nome do amor e da justiça ... E estamos fazendo isso por todos no mundo”, disse em entrevista à CNN.
A explosão social que durou mais de duas semanas e se expressou em mais de 600 cidades e povoados gera uma nova esperança para o país, embora a crise atual – saúde, economia e violência racial – mostre os Estados Unidos como um experimento social fracassado.
Adverte que o sistema não pode se reformar por conta própria, porque politicamente, no nível superior, os Estados Unidos estão entre um capanga neofascista na Casa Branca e uma ala neoliberal com liderança esgotada do Partido Democrata. Diante disso, os pobres e os trabalhadores negros, morenos, vermelhos, amarelos e todas as cores são excluídos e se sentem totalmente sem poder, sem ajuda, sem esperança e daí a rebelião.
Em outra entrevista, resumiu assim a conjuntura: a resposta multirracial ao assassinato policial de George Floyd, que agora está vertendo resistência política aos saques legalizados da ganância de Wall Street, à desapropriação do planeta e à degradação de mulheres e gays significa que ainda estamos lutando, apesar de tudo. Se a democracia radical morre nos Estados Unidos, que se diga que fizemos de tudo, com tudo, contra as botas do fascismo americano que tentavam esmagar nossos pescoços.
Repete sempre a sua famosa frase: “A justiça é como amor, se vê em público”.
West colaborou em três discos de “palavra falada”, nos quais também participaram Prince, Jill Scott, Talib Kweli, entre outros, e também colaborou em projetos de jazz e inspirou um grupo de rap.
É um guia essencial para estes tempos.
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Estados Unidos. Com um neofascista na Casa Branca e uma liderança democrata esgotada, veio a rebelião - Instituto Humanitas Unisinos - IHU