28 Julho 2020
150 anos se passaram desde que o Concílio Vaticano I definiu o dogma da infalibilidade pontifícia, mas aquela proclamação continua a encontrar críticos ainda hoje mesmo dentro da Igreja Católica e dividi-la das outras igrejas que consideram não existir fundamento no Evangelho para aquela verdade. O Vaticano I, inaugurado por Pio IX em dezembro de 1869, preparando um documento sobre a Igreja, quis que o dogma da infalibilidade pontifícia fosse afirmado nele. Em 17 de julho de 1870, um grupo de cinquenta e cinco bispos, abertamente contrário à proclamação que ocorreria no dia seguinte, abandonou Roma. Mas o papa não hesitou e em 18 de julho aprovou a constituição "Pastor aeternus" que afirmava aquele dogma “divinamente revelado". "Infalibilidade" não significa "impecabilidade pessoal" do pontífice, mas que, quando "ex cathedra", ou seja, como sucessor de Pedro e “pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja; e que, portanto, tais declarações são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis”.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 27-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Contrários a ela, historiadores e teólogos, especialmente da área germânica, poucos anos depois formarão os "velhos crentes", cristãos-católicos que rejeitam esse dogma. Essa Igreja ainda existe hoje, está presente principalmente na Europa Central e tem cerca de meio milhão de fiéis. A Ortodoxia e o mundo da Reforma (luterana e calvinista) se opuseram polemicamente, há um século e meio, àquela definição, considerando-a estranha à mensagem de Jesus e incompatível com a história da Igreja. O Concílio Vaticano II (1962-65) reafirmou o dogma tentando inseri-lo, no entanto, no contexto da "colegialidade episcopal" que vê os bispos, se unidos ao papa, também mestres da fé. Até o momento, no entanto, nenhuma igreja não-católica está disposta a aceitar a "infalibilidade" definida pelo Vaticano I.
Mas o debate - agora abafado - também está vivo na Igreja Católica, a partir de cinquenta anos atrás, quando alguns teólogos começaram a fazer do dogma de 1870 interpretações "heréticas" segundo Roma. O caso mais famoso foi o de Hans Küng, padre suíço alemão e professor de teologia na Alemanha. Ele defendia que a história mostra que alguns papas erraram profundamente tanto em questões de fé como de moral; a Igreja, portanto, concluía o estudioso, não é "infalível", mas sim "indefectível": isto é, apesar de seus erros e equívocos, sempre será mantido em pé pela graça do Senhor. Por tais teorias, a Küng foi tirada a possibilidade de se proclamar teólogo "católico".
Até agora, expressamente, apenas um papa, Pio XII, apelou à "infalibilidade", proclamando, em 1950, o dogma da Assunção ao céu, em corpo e alma, de Nossa Senhora. Muitas vezes, porém, os pontífices pretenderam obediência como se fossem "infalíveis", mesmo quando não ousaram se valer da famosa definição.
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Os 150 anos de ‘infalibilidade’ dos papas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU