24 Julho 2020
Sete mulheres se rebelaram contra um dos estamentos mais patriarcais criados pelo ser humano. Laurence de Bourbon-Parme, Claire Conan-Vrinat, Sylvaine Landrivon, Hélène Pichon, Loan Rocher, Marie-Automne Thépot e a espanhola Christina Moreira, solicitaram a consagração como bispas, sacerdotisas, diáconas e até núncias.
“A ausência de mulheres em cargos de responsabilidade é um escândalo”, declararam as sete mulheres em um comunicado no qual explicaram sua iniciativa como um “ato de desobediência ao dogma eclesial e à Igreja patriarcal”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 23-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
As mulheres candidatas a cargos na Igreja da França. Foto: Reprodução Twitter
Foi um gesto inédito, e uma mostra a mais de que, na Igreja Católica, as mulheres seguem sem encontrar as portas abertas. Ao meio-dia da última quarta-feira, sete teólogas entregavam na sede da Nunciatura na França suas candidaturas a diversos ministérios na Igreja francesa, porém encontraram o silêncio como resposta. Não foram recebidas pelo núncio, Celestino Migliore, e tiveram que se abaixar para depositar, em uma caixinha de correio ao chão, os seus documentos.
O dia escolhido para fazer foi simbólico. 22 de julho, festividade de Santa Maria Madalena, a “apóstola”, por antonomásia. A qual, segundo os relatos evangélicos, foi a primeira a ver Jesus Ressuscitado. Dois mil anos depois, as mulheres seguem sem ocupar cargo algum de responsabilidade na Igreja Católica, um dos estamentos mais patriarcais criados pelo ser humano.
Sete mulheres rebelaram-se contra isso. Laurence de Bourbon-Parme, Claire Conan-Vrinat, Sylvaine Landrivon, Hélène Pichon, Loan Rocher, Marie-Automne Thépot e a espanhola Christina Moreira, solicitaram a consagração como bispas, sacerdotisas, diáconas e até núncias. Fazendo valer os seus currículos e sua capacidade, e denunciado “a ausência de mulheres em cargos de responsabilidade”, segundo apontaram depois de levarem suas reivindicações ao correio da Nunciatura francesa.
Toutes apôtres ! pic.twitter.com/eWS58BSxsS
— Toutes Apôtres ! (@ToutesApotres) July 22, 2020
“A ausência de mulheres em cargos de responsabilidade é um escândalo”, declararam as sete mulheres em um comunicado em que explicaram sua iniciativa como um “ato de desobediência ao dogma eclesial e à Igreja patriarcal”. Todas elas seguiram o exemplo da teóloga e biblista Anne Soupa, que em maio do mês passado postulou-se oficialmente para substituir o discutido cardeal Barbarin, que precisou deixar a diocese de Lyon depois de um escândalo de abusos sexuais.
“As mulheres são invisíveis na Igreja Católica (...). Isso não é possível em um período de paridade, não pode continuar assim”, disse Soupa, que apreciou o passo dado por essas sete mulheres. Cada um dos candidatos entregou à Nunciatura um documento no qual explicava sua profissão de fé, a função a que se candidatam e o tipo de serviço que são capazes de assumir.
No manifesto anexado ao pedido, as sete denunciaram que “a ausência de mulheres em cargos de responsabilidade não é somente um escândalo, mas um contratestemunho da Igreja. Essa imensa injustiça não é um problema menor, mas afeta todo o corpo eclesial”.
“A discriminação contra as mulheres na Igreja é uma das mais visíveis e violentas. Para que a Igreja cumpra sua missão, deve permitir que as mulheres tenham acesso aos vários ministérios ordenados, bem como às altas responsabilidades da instituição”, constatam no comunicado, e insistem que não se trata apenas de acessar o sacerdócio, mas de “questionar a estrutura atual do governo da Igreja”. Na sua opinião, os obstáculos para as mulheres serem cardeais, bispas, núncias ou sacerdotisas “não são teológicos ou espirituais, mas políticos e culturais”.
Chacune a déposé une candidature officielle (comme l’a fait @anne_soupa en mai pour se présenter au poste d’évêque) dans la boîte aux lettres de la nonciature apostolique de Paris pour devenir qui curé, diacre ou encore nonce. pic.twitter.com/2pRppOhoRH
— Anna Cuxac (@AnnaCuxac) July 22, 2020
Uma delas, Hélene Pichon, está concorrendo à representante do papa. “Nossa reivindicação está totalmente no evangelho de Jesus. Ele enviou a primeira mulher, Maria Madalena, ela é ‘a apóstola dos apóstolos’”, declarou à imprensa. Essa mulher, coronel da Reserva, tem uma longa carreira diplomática na França e na Suíça, que a levou ao Líbano, Genebra, Core, Bahrein, Unesco, OCDE, Banco Mundial e Comissão Europeia. “Como crente, me pergunto por que também não posso realizar meu trabalho para a Igreja”, proclama.
A única espanhola do grupo é Christina Moreira, que afirma ser capaz de exercer o ministério sacerdotal em liberdade... porque Christina exerce como sacerdote na Galiza, desde que foi ordenada sacerdotisa. “Faço parte da Associação Internacional de Presbíteras Católicas ARCWP, cujo objetivo é ordenar diáconas, sacerdotisas e bispas católicas dentro do rito e da tradição romana. Isso envolve uma tarefa prática e teológica para renovar os ministérios e a eclesiologia; avançamos as evoluções que nossa amada, porém velha e lenta Igreja pode estar fazendo, mas que sentimos ser urgentes... ”, declara.
Por sua parte, Laurence de Bourbon-Parme quer ter permissão para pregar. Esta mulher divorciada, mãe de três filhos e avó de quatro crianças, é terapeuta das almas há mais de duas décadas. Ela diz: “gostaria de oferecer meus dons de pregação a quem quiser recebê-los”.
Como Anne Soupa, Sylvaine Landrivon também está concorrendo como candidata a bispa. Nascida em 1956, “sou casada, sou mãe e avó” e especialista em teologia em Lyon. Autora de vários livros, nos quais ela se dedica ao papel das mulheres nas Escrituras e na Igreja, “hoje estou dando um passo a frente, e me postulando como candidata a um cargo episcopal na Igreja Católica”.
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As mulheres “apóstolas” posicionam-se contra a Igreja patriarcal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU