06 Junho 2020
Mais de 5.600 pessoas assinaram um abaixo-assinado de apoio à teóloga Anne Soupa, que recentemente declarou sua candidatura para se tornar arcebispa de Lyon, na França.
A reportagem é de Arnaud Bevilacqua, publicada em La Croix International, 04-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Meu instinto natural me leva a apoiar as mulheres que têm coragem e que estão envolvidas em complicadas lutas feministas”, disse Cécile Duflot, ex-ministra do governo e líder do Partido Verde da França.
Ela admite que pode ter sido surpreendente ver seu nome entre os primeiros signatários de uma petição que apoia a tentativa da teóloga Anne Soupa de se tornar arcebispa de Lyon. Mas, novamente, ela assume essa atitude como algo evidente.
Duflot diz apoiar a abordagem de Soupa, “em título pessoal e militante, sem usar outro chapéu senão o da legitimidade de ser batizada e confirmada”.
Ex-membro da Juventude Operária Cristã (JOC), Duflot ficou longe da Igreja por muito tempo. Mas ela descobriu os escritos de Soupa e diz admirar muito a teóloga feminina.
“Eu li a sua declaração de candidatura a arcebispa de Lyon e fiquei impressionada”, continua Duflot.
Agora ela está ajudando a divulgar a iniciativa para mostrar apoio a Soupa.
“Ela é muito corajosa e faz bem à Igreja”, diz a ex-ministra do governo.
“Ela fez as pessoas quererem assinar a petição como batizadas, quando talvez nunca o fariam, e encontrou as palavras para tocar as pessoas que pensavam que a sua história com a Igreja havia terminado”, insiste Duflot.
Entre as mais de 5.600 pessoas que assinaram o abaixo-assinado, há uma variedade de indivíduos que são nomes familiares na França.
A maioria deles se identifica com a chamada esquerda.
Eles incluem Éric Piolle, prefeito de Grenoble; Noël Mamère, ex-membro da Câmara Baixa do Parlamento; Samuel Grzybowski, empresário social e fundador da Coexister; e Hubert Julien-Laferrière, renomado economista e atualmente membro da Assembleia Nacional Francesa.
Outros manifestaram apoio a Soupa nas mídias sociais, mesmo que (ainda) não tenham assinado a petição. Entre eles estão Marlène Schiappa, secretária de Estado para a Igualdade entre Homens e Mulheres; e Michel-Édouard Leclerc, um dos empresários mais conhecidos da França.
Julien-Laferrière não hesitou nem um segundo em assinar a petição e não a considera uma infração à laicidade.
“Eu quis me unir a essa iniciativa porque acredito que a Igreja deve reexaminar o lugar que dá à mulheres dentro da Igreja, assim como na sociedade”, diz ele.
Ele se descreve como um católico “não praticante regular”, que apoia fortemente a ordenação de mulheres.
“Eu acredito que a Igreja precisa estar mais em sintonia com as pessoas novamente”, diz o parlamentar do partido En Marche!.
E ele afirma que muitos outros católicos acreditam na mesma coisa.
A iniciativa de Soupa também recebeu o apoio de alguns católicos envolvidos em movimentos e grupos de defesa da Igreja.
O primeiro e mais importante é a Conferência Católica de Batizados/as Francófonos/as (CCBF), que Soupa cofundou e é crítica à Igreja institucional.
Cerca de 150 membros da CCBF enviaram ao arcebispo Celestino Migliore, núncio papal na França, uma carta apoiando a candidatura da teóloga para chefiar a Arquidiocese de Lyon.
Nathalie Mignonat e seu marido estavam entre eles. Eles estão envolvidos na pastoral aos católicos divorciados e em segunda união da mesma arquidiocese.
Ela ressalta que existe uma “lacuna” entre o lugar das mulheres na sociedade, que evoluiu muito, e o das mulheres na Igreja.
É uma situação que ela considera “cada vez mais insuportável”.
Ela é representante daqueles católicos que estão tentando “mover” a instituição na direção da reforma. Ela também é implacável ao criticar o clericalismo e ao promover o papel dos leigos.
Ela observa com entusiasmo que a iniciativa Soupa tocou em uma ferida mesmo junto àqueles que não são católicos praticantes.
O suporte também veio de ambientes menos esperados.
Um grande exemplo é Marie-Armelle Beaulieu, editora-chefe da revista Terre Sainte e colunista do La Croix.
Inicialmente, ela se motivou a apoiar Soupa depois que outros atacaram violentamente a teóloga.
“Não suporto constatar que, na Igreja, as pessoas insultam aqueles que não pensam da mesma forma”, diz Beaulieu, “comprometida com o serviço de Cristo há 40 anos”, lamentando que a “Tradição” esteja sendo usada de modo errôneo e enviesado.
Beaulieu não apoia a ordenação de mulheres e não se define como feminista. Ela diz que promove a alteridade.
Mas ela também se sente abalada pelos vários escândalos que marcaram a Igreja e gostaria que ela pudesse caminhar “com as suas duas pernas, pois Deus nos criou homem e mulher”.
“Não podemos continuar assim”, acrescenta, dizendo que prefere o debate à imobilidade.
“Eu não quero revolucionar tudo, mas a Igreja deve se dirigir ao mundo em que vive.”
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Candidatura de teóloga a arcebispa na França está ganhando apoio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU