"A experiência das irrupções do inesperado na história penetrou com dificuldade nas consciências. A chegada do imprevisto era previsível, mas não sua natureza", escreve o filósofo francês Edgar Morin, em artigo publicado pela editora Gallimard, como parte da série Tracts de crise (Fôlders de Crise), 21-04-2020. A tradução é de Edgard Carvalho e Fagner França.
Todas as futurologias do século XX que previam o futuro com base nas correntes que atravessavam o presente fracassaram. Contudo, continuamos a prever 2025 e 2050 mesmo que sejamos incapazes de compreender 2020. A experiência das irrupções do inesperado na história não penetrou nas consciências. A chegada do imprevisivel era previsível, mas não sua natureza. Daí minha máxima permanente: “espere pelo inesperado”.
Faço parte dessa minoria que previa catástrofes em cadeia provocadas pelo desdobramento incontrolável da mundialização tecno-econômica, incluindo aquelas que resultam da degradação da biosfera e das sociedades. De forma alguma, porém, previ uma catástrofe viral. Mas ela teve seu profeta: em uma conferência de abril de 2012, Bill Gates anunciou que o perigo imediato para a humanidade não era nuclear, mas sim sanitário. Durante a epidemia de Ebola, que por sorte pôde ser rapidamente controlada, ele viu o prenúncio do perigo mundial de um possível vírus com forte poder de contaminação. Falou sobre as medidas de prevenção necessárias, dentre elas equipamento hospitalar adequado. Mas, a despeito desta advertência pública, nada foi feito nos EUA nem em lugar algum. Isso porque o conforto intelectual e o hábito odeiam mensagens incômodas.
Em muitos países, na França inclusive, a intensa estratégia econômica dos fluxos, ao substituir a da estocagem, deixou nosso dispositivo sanitário desprovido de máscaras, instrumentos de teste e aparelhos respiratórios. Acresça-se a isso a doutrina liberalizante e comercial com relação à saúde, que reduz verbas e contribui para o avanço catastrófico da epidemia.
A presente epidemia produz um festival de incertezas. Não estamos seguros da origem do vírus: se foi o mercado insalubre de Wuhan ou o laboratório vizinho. Não sabemos ainda as mutações que o vírus sofreu e poderá sofrer durante o curso de sua propagação. Não sabemos quando a epidemia refluirá ou se o vírus permanecerá endêmico. Não sabemos até quando, nem até que ponto, o confinamento nos submeterá a proibições, restrições, racionamentos. Não sabemos quais as consequências políticas, econômicas, nacionais e planetárias das restrições causadas pelos confinamentos. Não sabemos se devemos esperar o pior, o melhor, ou uma mistura dos dois: caminhamos na direção a novas incertezas. Os conhecimentos multiplicam-se exponencialmente de tal forma que ultrapassam a capacidade de nos apropriarmos deles; lançam, sobretudo, um desafio para a complexidade: como confrontar, selecionar, organizar os conhecimentos de forma adequada, ao mesmo tempo religando-os e integrando as incertezas. Para mim, isso revela mais uma vez a insuficiência do modo de conhecimento que nos foi inculcado, que nos faz separar o que é inseparável e reduzir a um único elemento aquilo que é ao mesmo tempo uno e diverso. De fato, a importante revelação dos impactos que sofremos é que tudo aquilo que parecia separado está conectado, porque uma catástrofe sanitária envolve integralmente a totalidade de tudo o que é humano.
É trágico que o pensamento disjuntor e redutor reine soberano em nossa civilização e detenha o comando tanto na política e na economia. Essa desastrosa insuficiência nos conduziu a erros de diagnóstico, de prevenção, assim como a decisões aberrantes. Acrescento que essa obsessão dominante pela rentabilidade entre nossos governantes e que conduz nossa economia é responsável, repito, pelo abandono dos hospitais bem como da produção máscaras na França. Do meu ponto de vista, as carências no nosso modo de pensar, aliadas à dominação incontestável de uma sede desenfreada de lucro, são responsáveis por inúmeros desastres humanos incluindo aqueles que vêm ocorrendo desde fevereiro de 2020.
É mais que legítimo que a ciência seja convocada pelo poder para lutar contra a epidemia. A princípio tranquilizados, sobretudo por causa do uso da cloroquina defendido pelo professor Didier Raoult, os cidadãos se defrontaram depois com opiniões diferentes e até mesmo contrárias. Os cidadãos mais informados descobriram que alguns renomados cientistas mantêm estreitas relações com a indústria farmacêutica, que possuem lobistas poderosos junto aos ministérios e meios de comunicação, capazes de inspirar campanhas para ridicularizar ideias inconvenientes. Lembremos do professor Luc Montagnier que, contra pontífices e mandarins da ciência foi, juntamente com alguns outros colegas, o descobridor do HIV, o vírus da aids.
Esta é a ocasião para compreender que a ciência, diferente da religião, não tem um repertório de verdades absolutas e que suas teorias são biodegradáveis sob efeito de novas descobertas. As teorias aceitas tendem a se tornar dogmáticas nas cúpulas acadêmicas, e são os desviantes, de Pasteur a Einstein, passando por Darwin e Crick e Watson, os descobridores da dupla hélice de DNA, que fazem com que as ciências progridam. É por isso que as controvérsias, longe de serem uma anomalia, são necessárias a tal progresso.
Mais uma vez, frente ao desconhecido, tudo progride por tentativa e erro, assim como por inovações desviantes, a princípio incompreendidas e rejeitadas. Esta é a aventura terapêutica contra o vírus. Os remédios podem aparecer aonde ninguém esperava. Em decorrência disso, seria necessário um verdadeiro debate sobre o antagonismo entre prudência e urgência, ao invés da velha dicotomia daqueles que se prendem a apenas uma das partes: a prudência corre o risco de aumentar o número de vítimas por falta de testes confiáveis; a urgência, por sua vez, pode subestimar os efeitos secundários de um tratamento que tem obtido bons resultados imediatos. Qualquer que seja a decisão, trata-se de um desafio na qual cada escolha comporta um perigo de perdas de vidas humanas.
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Mais uma vez as incertezas. Lembremos que a ciência é devastada pela hiperespecialização, que implica o fechamento e a compartimentalização de saberes especializados, ao invés de promover sua comunicação. E são sobretudo os pesquisadores independentes que estabeleceram desde o início da epidemia uma cooperação que agora se amplia entre infectologistas e médicos de todo o planeta. A ciência vive de comunicações, qualquer tipo de censura a bloqueia. Devemos, portanto, conceber as potências e impotências da ciência contemporânea.
Em meu ensaio Sobre a crise, tentei mostrar que uma crise, para além da desestabilização e da incerteza que acarreta, se manifesta pela insuficiência das regulações de um sistema que, para manter sua estabilidade, inibe ou repele os desvios (feedback negativo). Deixando de ser repelidos, os desvios (feedback positivo) transformam-se em tendências ativas que, se desenvolvidas, ameaçam cada vez mais desregular e bloquear o sistema em crise. Nos sistemas vivos, sobretudo os sociais, o desenvolvimento vitorioso dos desvios convertidos em tendências conduz às transformações, regressivas ou progressivas, ou mesmo a uma revolução.
A crise em uma sociedade suscita dois processos contraditórios. O primeiro estimula a imaginação e a criatividade em busca de soluções novas. O segundo se concentra no retorno a uma estabilidade passada, seja a adesão a uma salvação providencial, ou a denúncia ou imolação de um culpado. O culpado pode ter cometido erros que levaram à crise, ou pode ser um culpado imaginário, bode expiatório que precisa ser eliminado. Manifesta-se, efetivamente, um fervilhar de ideias em busca de uma nova Via ou de uma sociedade melhor.
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As ideias desviantes e marginalizadas se propagam desordenadamente: retorno à soberania, Estado-providência, defesa dos serviços públicos contra as privatizações, realocações, desmundialização, anti-neoliberalismo, necessidade de uma nova política. Pessoas e ideologias são designadas como culpadas.
Na carência dos poderes públicos, identifica-se também uma profusão de imaginações solidárias: produção alternativa para a falta de máscaras por empresas reconvertidas ou por confecções artesanais, reagrupamento de produções locais, entregas gratuitas em domicílio, ajuda mútua entre vizinhos, alimentação gratuita aos sem-teto, cuidado das crianças.
Além disso, o confinamento estimula as capacidades auto-organizadoras para remediar, por meio de leituras, música se filmes, a perda da liberdade de deslocamento. Desse modo, autonomia e inventividade são estimuladas pela crise.
Espero que a excepcional e mortífera epidemia que vivenciamos nos dê a consciência não apenas de que somos não apenas parte integrante da inacreditável aventura da Humanidade, mas também que vivemos em um mundo ao mesmo tempo incerto e trágico. A convicção de que a livre concorrência e o crescimento econômico são panaceias sociais escamoteia a tragédia da história humana agravada por essa convicção. A loucura eufórica do transhumanismo leva ao paroxismo o mito da necessidade histórica do progresso e do controle humano não somente na natureza, mas também de seu destino, prevendo que o homem acederá à imortalidade e controlará tudo pela inteligência artificial. Somos jogadores/joguetes, possuidores/possuídos, poderosos/fracos. Mesmo que possamos retardar a morte por envelhecimento, jamais poderemos eliminar os acidentes mortais nos quais nossos corpos serão esmagados, não poderemos jamais nos livrar das bactérias e dos vírus que sem cessar se transformam para resistir aos medicamentos, antibióticos, antivirais e vacinas.
A epidemia mundial do vírus desencadeou e agravou terrivelmente uma crise sanitária e, no caso da França, provocou confinamentos que asfixiaram a economia, transformaram um modo de vida voltado para o exterior, numa introversão voltada para o lar, colocando a mundialização numa crise sem precedentes. A mundialização criou uma interdependência, mas sem que tal interdependência fosse acompanhada de solidariedade. Pior que isso, ela suscitou, em reação, confinamentos étnicos, nacionais, religiosos que se agravaram nas primeiras décadas deste século. Diante da falta de instituições internacionais e mesmo europeias capazes de reagir com uma ação solidária, os Estados nacionais se fecharam em si mesmos.
A República Tcheca até mesmo confiscou o envio de máscaras destinadas à Itália, e aos EUA, desviaram em benefício próprio um estoque de mascaras chinesas inicialmente destinadas à França.
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A crise sanitária desencadeou uma engrenagem de crises que são concatenadas. Essa policrise ou megacrise se estende do existencial ao político, passando pela economia, do individuo ao planetário, passando por famílias, regiões, Estados. Em suma, um minúsculo vírus de uma cidade ignorada da China desencadeou uma convulsão no mundo.
Como crise planetária, põe em evidência a comunidade de destino de todos os humanos e sua ligação inseparável com o destino bio-ecológico do planeta Terra; intensifica simultaneamente a crise da humanidade que não chega a se constituir enquanto humanidade.
Como crise econômica, abala todos os dogmas que comandam a economia e ameaça transformar nosso futuro em caos e penúria.
Como crise nacional, revela as carências de uma política que prioriza o capital em detrimento do trabalho, sacrificando prevenção e precaução para ampliar a rentabilidade e a competitividade.
Como crise social, evidencia as desigualdades entre os que vivem em pequenas moradias populares com crianças e parentes, e aqueles que puderam fugir para uma segunda residência no campo.
Como crise civilizacional, a crise nos leva a perceber as carências de solidariedade e a intoxicação do consumismo desenfreado de nossa civilização, e nos obriga a refletir sobre uma política de civilização.
Como crise intelectual, deveria nos revelar o enorme buraco negro que existe em nossa inteligência, fato este que torna invisíveis as evidentes complexidades do real.
Como crise existencial, nos obriga a questionar nosso modo de vida, nossas verdadeiras necessidades, nossas verdadeiras aspirações encobertas pela alienação da vida cotidiana, a saber diferenciar o entretenimento pascaliano, que nos desvia de nossas verdades, da felicidade que encontramos na leitura de um livro, na escuta ou na contemplação das obras-primas que nos fazem encarar nosso destino humano.
A crise deveria, sobretudo, abrir nossas mentes, há bastante tempo reduzidas ao imediato, ao secundário e ao frívolo, para o essencial: a importância do amor e da amizade para nosso florescimento pessoal, para a comunidade e para a solidariedade de nossos “eus” nos “nossos”, para o destino da Humanidade, dentro da qual cada um de nós é uma mera partícula. Em suma, o confinamento físico deveria favorecer o desconfinamento mental.
A experiência do confinamento domiciliar por tempo indeterminado imposto por uma nação é uma experiência surpreendente. O confinamento do gueto de Varsóvia permitia que seus habitantes circulassem pela cidade. Mas o confinamento do gueto preparava a morte, e nosso confinamento é uma defesa da vida. Eu o vivencio em condições privilegiadas, em um apartamento térreo com jardim, onde posso tomar sol e me alegrar com a chegada da primavera, bastante protegido por Sabah, minha esposa, cercado por amáveis vizinhos que fazem nossas compras, me comunicando com meus próximos, meus amores, meus amigos, atendendo a pedidos da imprensa, rádio ou televisão, para oferecer meu diagnóstico, o que posso fazer por Skype. Sei, porém, que desde o começo, muita gente que vive em habitações exíguas não suporta a superlotação , que os solitários e sobretudo os sem-teto são as vítimas do confinamento.
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Reconheço que um confinamento duradouro será cada vez mais vivido como um impedimento. Os vídeos não vão substituir por muito tempo a ida ao cinema, os tablets não podem substituir indefinidamente a ida à livraria. O Skype e o Zoom não substituem o contato físico, o tilintar do copo que brindamos. Mesmo que seja excelente, a comida caseira não elimina o desejo de ir a um restaurante. Os filmes documentários não suprirão a vontade de viajar para ver paisagens, cidades e museus, não acabarão com meu desejo de rever a Itália e a Espanha. A redução ao indispensável também propicia a sede pelo supérfluo.
Espero que a experiência do confinamento possa moderar nosso impulso consumista, a fuga para Bangkok para trazer presentes e lembranças para contar aos amigos, espero também que o confinamento contribua para diminuir o consumismo, ou seja, a intoxicação consumista e a obediência aos apelos publicitários, em prol dos alimentos saudáveis e saborosos, de produtos duráveis e não descartáveis. Será preciso, porém, outros estímulos e novas tomadas de consciência para que uma revolução social venha a ocorrer. De qualquer forma, resta a esperança de que a lenta evolução já iniciada se acelere.
Antes de tudo, o que os cidadãos e os poderes públicos conservarão da experiência do confinamento? Somente uma parte? Tudo será esquecido, cloroformizado ou folclorizado? O que parece mais provável é que a propagação do digital, amplificada pelo confinamento (teletrabalho, teleconferências, Skype, uso intensivo da Internet), continuará com seus aspectos positivos e negativos, que não é o caso de expor aqui. Vamos ao essencial.
A saída do confinamento será o começo da saída da megacrise ou seu agravamento? Boom ou depressão? Uma enorme crise econômica? Uma crise alimentar mundial?
Continuação da mundialização ou isolamento autárquico? Qual será o futuro da mundialização?
O neoliberalismo ameaçado retomará o comando? As nações gigantes vão se opor mais que no passado? Os conflitos armados, mais ou menos atenuados pela crise, se aprofundarão?
Haverá um dinamismo internacional capaz de salvar a cooperação? Haverá algum progresso político, econômico, social, como houve logo após a segunda guerra mundial?
Se prolongará ou se intensificará o despertar da solidariedade provocada durante o confinamento, não somente pelos médicos e médicas, pelos enfermeiros e enfermeiras mas também pelos garis, pelos encarregados de manutenção, entregadores, caixas, sem os quais não poderíamos sobreviver, mesmo que tenhamos prescindido do Medef - Movimento das empresas da França - ou do CAC 40 - índice da bolsa de valores que reúne as quarenta maiores empresas da França-?
As inumeráveis e dispersas práticas solidárias de antes da epidemia serão amplificadas?
Os desconfinados retomarão o ciclo cronometrado, acelerado, egoísta, consumista? Ou haverá um novo renascimento da vida convivial e amorosa rumo a uma civilização na qual se desenvolve a poesia da vida, onde o “eu” floresce em um “nós”?
Não podemos saber se após o confinamento novos caminhos e ideias vão desabrochar, ou mesmo revolucionar a política e a economia, ou se a ordem abalada se restabelecerá. Podemos temer fortemente a regressão generalizada observada já durante o curso dos vinte primeiros anos deste século (crise da democracia, corrupção e demagogia triunfantes, regimes neo-autoritários, retomadas nacionalistas, xenófobas, racistas).
Todas essas regressões (e na melhor das hipóteses estagnações) são prováveis enquanto não emergir uma nova via política-ecológica-econômica-social guiada por um humanismo regenerado. Tal humanismo multiplicaria as verdadeiras reformas, que não reduções orçamentárias, mas reformas da civilização, da sociedade, ligadas às reformas de vida. Ela associaria, como indiquei em A Via, termos contraditórios: “mundialização” (para tudo que é cooperação) e “desmundialização” (para garantir uma autossuficiência alimentar e preservar seus territórios da desertificação); “crescimento” (da economia de necessidades essenciais, sustentáveis, da agricultura familiar ou orgânica) e “decrescimento” (da agropecuária industrial, da economia do supérfluo, do frívolo, do descartável); “desenvolvimento” (de tudo que produz bem-estar, saúde, liberdade) e “envolvimento” (nas solidariedades comunitárias).
A pós-epidemia será uma aventura incerta na qual se desenvolverão as forças do pior e do melhor, estas últimas estando ainda debilitadas e dispersas. Saibamos enfim que o pior não é certo, que o improvável pode irromper, e que, no titânico e inextinguível combate entre inimigos inseparáveis são Eros e Tânatos, é sensato e revigorante tomar parte de Eros.
A gripe espanhola deixou em minha mãe, Luna, uma lesão no coração e a recomendação médica de não ter filhos. Ela tentou dois abortos, o segundo fracassou, mas a criança nasceu quase morta asfixiada, estrangulada pelo cordão umbilical. Talvez eu tenha adquirido ainda no útero as forças de resistência que me acompanharam por toda minha vida, mas eu não teria sobrevivido sem a ajuda do outro, o ginecologista, que me estapeou durante meia-hora até que eu pudesse soltar meu primeiro grito, em seguida a sorte durante a Resistência, o hospital (hepatite, tuberculose), o amor que alimentou minha vida e minha obra, Sabah, minha companheira e esposa. É verdade que o “elã vital” jamais me abandonou; ele até cresceu durante a crise mundial. Toda crise me estimula, e esta, de imensas proporções, pela qual passamos agora, me estimula enormemente.
[1] Sur la crise. Paris: Flammarion, mars 2020, « Champs Essais ».
[2] Une politique de civilisation. Avec Sami Naïr. Paris: Arléa, 1997.
[3] La Voie. Pour le futur de l’humanité. Paris: Fayard 2012.
Esta edição eletrônica do livro Um Festival de Incertezas de Edgar Morin foi produzida no dia 21 de abril de 2020 pela editora Gallimard.
Em tempos sombrios, há duas atitudes possíveis. De um lado, desilusão e renúncia, alimentadas pela constatação que os tempos da reflexão e da decisão não têm mais nada em comum; de outro, a atenção renovada, da qual o retorno dos registros de reivindicações e a reativação de um amplo debate nacional são testemunhos. Nossa liberdade de pensar, como todas as nossas liberdades, não pode se exercer fora de nossa vontade de compreender.
Eis por que a coleção “Fôlders” fará inserir no debate mulheres e homens que integram as humanidades, acolhendo ensaios em sintonia com seu tempo, mas extremamente diferenciados tendo em vista sua própria singularidade. Tais vozes devem se fazer ouvir em todos os lugares, como foi o caso dos grandes “fôlders da Nouvelle Revue Française”, surgidos nos anos 1930, assinados por André Gide, Jules Romains, Thomas Mann ou Jean Giono – que em seu tempo relembravam: “Nós vivemos as palavras quando elas são justas.” Poderemos todos juntos fazer reviver uma bela exigência como essa?
Antoine Gallimard.