27 Abril 2020
Até quando deixaremos de investir maciçamente na educação de base e em saneamento básico, como forma de criar “hospitais sanitários” no Brasil? Mas, o que estamos aprendendo, além de lavar as mãos com água e sabão?", questiona João de Deus Barbosa Nascimento Júnior, analista A da Embrapa Amazônia Oriental, em artigo publicado por EcoDebate, 24-04-2020.
Pandemia é um termo utilizado para referir-se a uma doença que se espalhou por várias partes do mundo de maneira simultânea havendo uma transmissão sustentada. Na Europa, no final do século XIV, em Londres na Inglaterra, a chamada “peste negra”, causada pelos roedores, a gripe espanhola (vírus Influenza) e outra causada por um bacilo, o de Cólera, século XIX, que contaminou a água, ceifando milhares de vidas naquela cidade e, na Europa como um todo, esse número chegou a mais de cinquenta milhões de pessoas.
O que se tem em comum, respondo, a falta de saneamento básico. Lá, para combater essa causa, foi construído a maior rede de esgotos da Europa, até hoje, substituindo os hospitais que tratavam somente os sintomas. Os “hospitais sanitários” foram construídos voltados a “higiene básica” dos habitantes de todo continente.
Por aqui, quando se iniciava no País, um movimento, encabeçado pelo governo federal, de atacar diretamente o problema de muitas doenças endêmicas, com propostas de investimentos maciços em redes de esgotos nas grandes cidades. Quando se tentava aumentar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) na região do arquipélago do Marajó, por aqui na Amazônia. Quando se começava a ampliar o emprego com carteira assinada, lentamente, é verdade, mas gradual. Quando as coisas começaram a entrar nos trilhos na Previdência social. Quando questões como a política tributária/fiscal começava a ser discutida, veio o Covid-19, e, tudo isso, se tornaram apenas planos, como em um “passe de mágica”, tudo sendo engavetado.
Abriu-se então a “caixa de Pandora”, para os oportunistas de sempre, se por um lado, os nossos legisladores estão querendo disponibilizar mais de 200 bilhões para os Estados da federação que foram mal administrados e estão falidos, por outro lado, temos os corruptos de plantão, carentes por meter suas mãos nos financiamentos urgentes que estão sendo feitos para a saúde.
Mas, de 600 bilhões já foram investidos em máscaras, equipamentos de respiração mecânica, roupas, hospitais de campanha, mão-de-obra de médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, até o momento, com um investimento total, no curto prazo de até um trilhão de reais, ou seja, estamos distribuindo as armas que dispomos, ainda nas mãos de chineses, para proteger as pessoas que atuam diretamente no convívio com os pacientes presentes e potenciais, para combater o Coronavírus, mas, enquanto isso, no breu das tocas e nos cetins das alcovas, como chama atenção nosso Chico de Holanda os infectados pela mosquito da Dengue, já infectou 90% a mais de pessoas do que o mesmo período do ano passado.
Falam os apocalípticos: que em breve haverá um colapso catastrófico do Sistema Único de Saúde, como se esse sistema não tenha sido desmantelado há bastante tempo, trabalhando sempre na UTI, em terapia intensiva, entubado, que há muitos anos buscando a vacina da boa gestão pública, a fim de garantir a saúde dos brasileiros.
Pasmem leitores, estamos aprendendo a “lavar as mãos”, usar máscaras, tomar banho, ficar em casa em isolamento, como se todos pudessem ficar isolados, sem ir ganhar o pão de cada dia, como se todos tivessem poupança para passar por esses momentos, isso é o cúmulo do cúmulo de uma população que se tivesse educação básica, todos saberiam as regras de higiene, se tivéssemos noções básicas de comportamento social adequado a momentos como esse, estaríamos conformados com essa clausura forçada.
Fala-se que o remédio, para esses males, é o usado para controle da malária como se ela tivesse tido algum controle desde a Segunda Guerra mundial, hoje no País temos mais de 500 mil casos de malária, especialmente aqui na Amazônia.
Quanto a isolamento, nós aqui na Amazônia, já sabemos o que isso significa, pois há bastante tempo, desde o descobrimento, vivemos isolados do resto do País e do mundo. O Estado do Amazonas é um exemplo disso, após passar por governos corruptos, está como está, um caos antecipando, na prática, do que estou escrevendo nesse texto. Nada diferente do Estado do Pará e outros Estados da Amazônia.
Quanto à questão da violência instalada de forma Pandêmica, somente no ano passado, a polícia militar paulista matou mais de 11.500 pessoas, no Rio de Janeiro mais do que isso, agora, por conta do coronavírus, que até agora matou 1.800 pessoas, escuto que estamos em uma pandemia gravíssima.
Grave são as condições sanitárias, médicas e de infraestrutura existentes no País, deixadas por governos anteriores, para combater essas e outras pandemias sociais, sempre presentes nas gerações passadas e, sinceramente, não vislumbro nenhuma mudança para o futuro. Sou fiel ao pensamento Keynesiano, que nos ensinou que “no longo prazo todos estaremos mortos”, portanto, morremos sim, seja pelo Covid-19 seja pela tuberculose, lepra, malária, dengue, hepatites, chikungunya, sífilis, febre amarela, sarampo dentre outras, mas continuaremos a atacar os problemas, pelas futuras gerações, se não removermos suas causas.
Até quando deixaremos de investir maciçamente na educação de base e em saneamento básico, como forma de criar “hospitais sanitários” no Brasil?
Mas, o que estamos aprendendo, além de lavar as mãos com água e sabão?
Esse vírus está tendo toda atenção dos três poderes, porque ele é democrático, ameaça a vida tanto de ricos como pobres, esses mesmos políticos e executivos não atacam o excesso da violência, porque morrem sempre os mais pobres.
Aprendemos que a grave situação econômica que estamos enfrentando e, vamos continuar enfrentando quando essa pandemia passar, mas não vamos mudar os discursos demagógicos que somos obrigados a ouvir, porque essa é a pauta de todos os meios de comunicação, nesse estado de isolamento.
Aprendemos que somos frágeis demais para que possamos reagir a essa grave crise, com apenas remédios “caseiros”.
Aprendemos que devemos agir, para que os mais necessitados possam se manter livres dessas doenças não a partir da concessão de cestas básicas, para que os organismos, já debilitados, possam ter alguma chance de obter resistência a muitas doenças endêmicas e pandêmicas diariamente, mas de ações que levem a uma divisão da renda efetiva entre o trabalho e o capital, essa discussão é essencial.
Aprendemos que deveremos priorizar os segmentos, que realmente necessitamos, que permaneçam ativos, isso é um exercício de casa, por parte do governo e dos outros poderes, partindo de uma análise acurada dos seus investimentos e respostas a produção de bens e serviços, pois entendemos que os governos federal, dos estados e dos municípios falham, por não ter recursos para investir em todas as direções, tendo como resultante a não-prestação de bons serviços, portanto, muitos devem ser deixados com a iniciativa privada.
Por exemplo deveremos discutir a “teoria do Estado mínimo”, questiono: será que precisamos realmente dos “Estados” como entes Federativos? Penso que as coisas acontecem realmente nos municípios, os Estados fisicamente, serviriam apenas para demarcação das fronteiras, nesse caso em particular o Covid-19 não tem fronteiras, as doenças em geral também não, a situação econômica das pessoas também não, a falta de alimentos, transportes, redes sociais, também não, mas essa é uma outra discussão, somente inclui nesse texto, para que se faça uma avaliação dos recursos gastos com a manutenção do status estaduais que poderiam ser empregados nas veias municipais diretamente, não precisamos pagar tão caro pelas intermediações.
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A verdadeira pandemia. Artigo de João de Deus Barbosa Nascimento Júnior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU