05 Junho 2020
A Pandemia de covid-19 obrigou grande parte dos países do mundo a se ajoelharem, colocando em crise seus sistemas sanitários e econômicos. E assim mostrou como as sociedades modernas podem ser vulneráveis diante de uma possível ameaça biológica, natural ou artificial que seja: é claro que não há dúvida sobre seu periculosidade, mesmo antes de eclodir a epidemia na China; mas o enorme número de vítimas, o lockdown, o fechamento das fronteiras, as empresas à beira do abismo, o fechamento do comércio internacional causados pelo coronavírus permitem entender melhor todas as implicações possíveis de um hipotético ataque perpetrado com armas de destruição de massa, como com aquelas biológicas, químicas, radiológicas e nucleares. Assim, o vírus poderia acabar despertando o interesse de organizações terroristas em usar esses tipos de ferramentas para perseguir seus interesses.
A reportagem é de Marco Cimminella, publicada por Business Insider, 04-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esse é o alarme expresso pela Pool Re, uma companhia de seguros especializada em terrorismo, que em um relatório lembra como vários grupos tentaram desenvolver e usar no passado armas biológicas. Os efeitos gerados pela Covid-19 poderiam incentivar movimentos extremistas a adquirir essas tecnologias. De fato, nos últimos meses, vimos como além das implicações críticas para a saúde, a pandemia muitas vezes dividiu os Estados, alimentando hostilidades latentes ou exacerbando as evidentes, restringindo o crescimento econômico e forçando os cidadãos a viver no medo.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também lançou este aviso em abril: "... a fraqueza e a falta de preparação demonstradas por esta pandemia ilustram como um ataque bioterrorista poderia ocorrer, aumentando também os riscos. As formações não-estatais poderiam ter acesso a cepas virulentas capazes de realizar devastações semelhantes às sociedades de todo o mundo", lembram os autores da análise "Covid-19 and terrorism: assessing the short and long term impacts".
No curto prazo, o vírus está tendo um forte impacto nas organizações extremistas e fundamentalistas. Medidas restritivas contra o coronavírus impediram ainda mais a preparação e implementação de ataques terroristas nos países dotados de infraestruturas e forças humanas necessárias para tornar eficaz e imediato o bloqueio: quando as pessoas estão trancadas em casa e circular em público torna-se complicado, a probabilidade de uma ofensiva fica bastante reduzida (ou anulada). No entanto, não se pode baixar a guarda. Por um lado, porque essas atividades poderiam retornar após a remoção do lockdown; pelo outro, porque, enquanto isso, esses grupos poderiam ter modificado parcialmente suas estratégias de ação, concentrando-se nos processos de radicalização online.
"Pesquisas da Moonshot CVE, por exemplo, descobriram que o envolvimento na web com conteúdo de grupos de extrema direita cresceu 13% em média após a introdução de medidas de distanciamento social e lockdown nos Estados Unidos". Consta no relatório assinado por Andrew Silke, professor e especialista em terrorismo da Cranfield University. "Outros estudos também sugerem que houve um aumento na atividade online do fundamentalismo islâmico, com um crescimento naquela relativa ao chamado estado islâmico".
Além disso, deve-se lembrar que, nesses longos meses, os esforços dos governos se concentraram em conter a pandemia: como resultado, as "prioridades tradicionais" relacionadas à segurança, como o combate ao terrorismo, poderiam ter recebido menos atenção. “Vários grupos terroristas incentivaram seus membros a tirar proveito da situação de crise que os países estão enfrentando por causa da covid-19. Em particular, o estado islâmico na edição de 19 de março de Al-Naba pediu explicitamente aos combatentes que realizassem ataques contra seus inimigos, vulneráveis pela pandemia", observa a análise de Pool Re, que acrescenta:" Os extremistas de direita incentivaram os adeptos a usar o coronavírus como arma, tossindo em alvos individuais ou por outros meios". Uma preocupação profundamente sentida nos Estados Unidos, onde as autoridades consideram oficialmente o coronavírus como um "agente biológico" e as ameaças de disseminá-lo são punidas como um "ato de terrorismo".
Finalmente, a covid-19 contribuiu para a proliferação de teorias da conspiração, especialmente aquelas ligadas aos ambientes de extrema direita. Algumas são novas e misturam muitos elementos com a pandemia, desde a hostilidade ao 5G e ao antissemitismo, para produzir coquetéis explosivos. Uma das mais conhecidas insinua dúvidas sobre a tecnologia 5G, afirmando que ela desempenhou um papel na transmissão do vírus: assim várias infraestruturas no Reino Unido, Irlanda e Holanda foram destruídas.
Como aponta Euractive repercutindo um comunicado da comissão antiterrorismo do Conselho da Europa, "a pandemia mostrou como a sociedade moderna seja vulnerável às infecções virais", enfatizando que "o uso deliberado de agentes que causam doenças como um ato de terrorismo, poderia se revelar extremamente eficaz".
No entanto, o órgão internacional reiterou que, até o momento, não há elementos para falar em um risco aumentado de ataques bioterroristas devido à pandemia. Além disso, em geral como Pool Re aponta, houve poucas ofensivas bem-sucedidas desse tipo. Afinal, existem alguns obstáculos a serem superados, tanto no desenvolvimento de gentes patógenos quanto na sua disseminação: dificuldades que podem fazer com que grupos menos organizados ou providos de recursos desistam. No entanto, “mesmo que os impedimentos permaneçam, o forte impacto da covid-19 pode reacender o interesse em armas biológicas. Uma preocupação adicional é que historicamente foram as organizações de extrema-direita ou aquelas motivadas pelo fundamentalismo religioso a serem atraídas por armas biológicas, e no Ocidente esses são atualmente os movimentos terroristas dominantes".
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A covid mostra a nossa vulnerabilidade a armas biológicas. Os terroristas de direita poderiam se aproveitar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU