06 Mai 2020
"Não sabemos quanto tempo durará a epidemia, se o vírus se autolimitará, se será afetado pela estação quente (embora teoricamente não deveria ser) e nem sabemos se a diminuição dos contágios e dos novos casos nas últimas semanas seja inteiramente determinada pelas medidas de restrição adotada ou se outros fatores podem ter sido favoráveis. Por exemplo, a redução da poluição, cujo papel permanece controverso até hoje".
A opinião é de Sergio Harari, pneumatologista italiano do Hospital San Giuseppe, de Milão, em artigo publicado por Corriere della Sera, 05-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Sars-CoV-2 é um grande desconhecido, uma imensa incógnita que paira sobre o nosso futuro e da qual pouco sabemos, muito pouco. Até o momento, de fato, existem mais pontos de interrogação do que as respostas certas que a ciência tem condições de fornecer sobre esse novo vírus. Sabemos que nasceu na agora famosa cidade chinesa de Wuhan, mas não temos ideia de como se desenvolveu. Alguns pensam em um vírus de laboratório sintetizado especificamente por sabe-se lá qual estratégia conspiratória, outros em algo que escapou ao controle em laboratórios de pesquisa que não são suficientemente seguros, mas a hipótese até agora mais creditada é a de um salto de espécies através dos morcegos. Animais que são considerados verdadeiros reservatórios virais, pois são caracterizados por um sistema imunológico único entre os mamíferos, capaz de veicular vírus (incluindo raiva, Ebola, Sars etc.) sem sofrer os efeitos nocivos. Nos países do sudeste asiático, onde os morcegos fazem parte da culinária tradicional, o Sars-CoV-2 poderia ter se desenvolvido e depois transformado em uma forma mais virulenta para o ser humano.
Mas todas essas são apenas hipóteses, ninguém sabe exatamente o que aconteceu de fato, a prova comprovada não existe. No entanto, quanto à forma como se espalhou, temos evidências científicas e agora, infelizmente, experiências claras de muitos países, entre os quais a Itália: o vírus é transmitido por contágio entre humanos, raramente por contaminação fecal ou pelo contato com superfícies e objetos que foram contaminados. Finalmente, o Sars-CoV-2 foi encontrado em águas residuais, mas provavelmente não constituem um veículo de transmissão. Às nossas custas, aprendemos sobre suas manifestações clínicas, desde a perda do olfato até os sintomas respiratórios, mas, mais recentemente, começamos a suspeitar que ele também possa causar outros distúrbios, como lesões cutâneas e de outra natureza.
Escolhemos como teste de referência os famosos swabs em que as sequências de RNA viral são procuradas, mas a sensibilidade desses testes está longe de ser absoluta, e é por isso que, em algumas situações específicas, como para o retorno dos profissionais de saúde após uma quarentena, é indicado realizar dois testes. Portanto, temos um exame que não é um verdadeiro padrão ouro, mas é o melhor que temos à disposição no momento. Alguns estudos sugerem que, na presença de sintomas respiratórios, a tomografia computadorizada do tórax pode ter uma sensibilidade maior que o swab, mas mesmo aqui existem limites da investigação e, por outro lado, não podemos fazer tomografias em todos. Muitas vezes, o que mais importa no final é a suspeita clínica diante dos sintomas relatados pelo paciente; portanto, a tecnologia moderna não é de grande ajuda. O uso de sorologias de anticorpos, cuja confiabilidade é, aliás, extremamente variável de acordo com os diferentes kits de laboratório, é ainda mais controverso e com validade limitada para a triagem, servido mais ao acompanhamento das tendências epidemiológicas da população.
Confirmando o fato de que o quadro é muito confuso, cada país adotou diferentes critérios de diagnóstico e triagem; por exemplo, a França não usa swabs para verificação após a quarentena do pessoal de saúde. Não sabemos quanto tempo durará a epidemia, se o vírus se autolimitará, se será afetado pela estação quente (embora teoricamente não deveria ser) e nem sabemos se a diminuição dos contágios e dos novos casos nas últimas semanas seja inteiramente determinada pelas medidas de restrição adotada ou se outros fatores podem ter sido favoráveis. Por exemplo, a redução da poluição, cujo papel permanece controverso até hoje.
No entanto, o vírus parece ser menos agressivo, menos pacientes em percentual precisam recorrer às terapias intensivas. É apenas graças à atenção cada vez maior da população que, no caso de sintomas suspeitos, dirige-se primeiro aos hospitais que permitem tratamento mais precoces ou aconteceu algo que ainda não entendemos? De fato, nenhuma mutação viral significativa até o momento foi descrita. A mortalidade certamente decresceu significativamente em comparação com o primeiro período da pandemia, mas é apenas graças ao melhor tratamento dos doentes ou aqui também se trata de algo que nos escapa? Ainda precisamos esclarecer muitas coisas e, muitas vezes, as que são vendidas como verdade nos programas de entrevistas na TV são opiniões de especialistas isolados ou apenas bom senso e razoabilidade, mas os dados cientificamente sólidos ainda são muito poucos.
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Letalidade, mutações, sintomas. A ciência sabe pouco sobre o vírus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU