14 Fevereiro 2020
"A humanidade vive uma ameaça existencial e o mundo poderá sofrer um “colapso sistêmico global” se houver um agravamento simultâneo da combinação de uma série de fatores negativos que estão impactando o meio ambiente e o clima", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 12-02-2020.
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Durante todo o período do Holoceno, que começou há cerca de 12 mil anos, a humanidade se acostumou com a abundância da natureza e com a estabilidade climática. O ser humano foi se reproduzindo e se multiplicando e, ao mesmo tempo, extraindo cada vez mais materiais e energia do coração da natureza. O volume das atividades antrópicas ultrapassou todos os limites da razoabilidade, enfraquecendo as bases naturais de sustentação da civilização e do sistema econômico.
Crises climáticas e ambientais podem produzir um "colapso sistêmico global". Para acessar o link da imagem clique aqui.
Os sinais da interferência humana sobre as condições naturais do Planeta já são percebidos o tempo todo e em todos os lugares. Mas as pessoas costumam ver os problemas de forma isolada, enxergando os problemas parciais sistematicamente desconectados dos problemas globais. Desta forma, a soma das partes fica parecendo menor do que o todo e o tamanho do problema aparece menor.
Todavia, a humanidade vive uma ameaça existencial e o mundo poderá sofrer um “colapso sistêmico global” se houver um agravamento simultâneo da combinação de uma série de fatores negativos que estão impactando o meio ambiente e o clima, registra um estudo publicado pelo portal do programa de pesquisa internacional “Future Earth”, no dia 06 de fevereiro de 2020.
Com a participação de mais de 200 cientistas, de 52 países, o relatório mostra que o mundo está enfrentando uma série de emergências interligadas que ameaçam a existência dos seres humanos, porque a soma dos efeitos das crises específicas é muito maior do que seus impactos individuais.
A emergência climática, os eventos climáticos extremos (como ondas letais de calor), a perda de biodiversidade (6ª extinção em massa das espécies), a insegurança alimentar e a crise hídrica são cinco fenômenos sérios por si só, mas quando combinados se tornam muito mais sensíveis e ameaçadores.
A combinação dos cinco fenômenos e os seus efeitos simultâneos, formam uma tempestade perfeita que ameaça engolir a humanidade, a menos que sejam tomadas medidas profundas e rápidas.
O potencial de impactar se amplia mutuamente, pois os vínculos entre as crises são claros na maioria dos casos, mas os métodos que os governos nacionais e a governança global escolheram para resolvê-los não levam em conta os fatores de conexão. Por exemplo, ondas de calor extremas podem aumentar o aquecimento global, porque liberam grandes quantidades de carbono armazenado dos ecossistemas afetados, em um ciclo de retroalimentação (feedback). Isto foi visto claramente nos incêndios florestais australianos, que já estão contribuindo significativamente para o acúmulo de carbono na atmosfera.
As interseções não param por aí. Por exemplo, as ondas de calor danificam os ecossistemas naturais, matando a fauna e a flora, provocando uma maior escassez de água e, ao mesmo tempo, degradando as condições para o florescimento da agricultura. Esses efeitos combinados exacerbam os danos causados especialmente às populações mais pobres que sofrem com a escassez de alimentos e água, em um ciclo vicioso de perpetuação da pobreza.
O relatório descobriu que as respostas a essas emergências por parte dos governos, sociedade civil, empresas e demais instituições não reconheciam sua natureza interligada. Não obstante, tentar resolver os problemas individualmente, sem levar em conta os impactos “em cascata”, provavelmente seria ineficaz.
O fato é que os cinco tipos de crise piorariam um ao outro, gerando um efeito em cascata um colapso sistêmico global. A diretora executiva da Future Earth, Amy Luers, disse: “2020 é um momento crítico para analisar essas questões. Nossas ações na próxima década determinarão nosso futuro coletivo na Terra”.
A sociedade civil já se mobiliza e bilhões de pessoas devem participar do Dia da Terra 2020. Todas as pessoas que se preocupam com a degradação ambiental e com a possibilidade de um colapso sistêmico global terão a oportunidade de organizar ações na semana de 22 de abril para realizar uma manifestação memorável em defesa da vida no Planeta e para evitar um “Colapso sistêmico global”.
Referência:
Future Earth. Our Future on Earth 2020.
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Colapso sistêmico global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU