15 Janeiro 2019
Apenas 30 minutos. Este foi o tempo que o Papa concedeu a uma delegação de bispos do Chile, que ele recebeu no Palácio Apostólico do Vaticano, na manhã desta segunda-feira, 14 de janeiro. Uma audiência privada solicitada pelos próprios pastores sul-americanos, com a desculpa de que – por esses dias – completa-se um ano da visita apostólica de Francisco a terras chilenas. Essa viagem transformou-se no epicentro do terremoto de magnitudes colossais que ainda abala a Igreja nesse país. Por isso, o tema obrigatório da conversa foram os abusos sexuais contra menores.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 14-01-2019. A tradução é de André Langer.
Em meio a uma agenda papal carregada, a reunião com os cinco bispos ficou espremido entre um encontro com o diplomata vaticano Ivan Jurkovic, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas em Genebra, e uma reunião com a presidenta do Senado italiano, Maria Elisabetta Alberti Casellati. O Pontífice reservou meia hora para cada uma das atividades, que aconteceram em sua biblioteca do Palácio Apostólico.
“Viemos com muito ânimo porque se está completando um ano da visita do Papa ao Chile e oito meses da nossa visita em maio. Consideramos que era importante vir conversar com o Santo Padre, para lhe contar a evolução dos acontecimentos. Para nós, é sempre uma satisfação encontrar-nos com o sucessor de Pedro e manifestar-lhe a nossa cooperação e ânimo de comunhão com ele”, disse, antes de ir para a reunião, Luis Fernando Ramos Pérez, secretário-geral da Conferência Episcopal do Chile.
Ele é o porta-voz do grupo, como já aconteceu em maio de 2018, quando todos os bispos do Chile participaram de uma série de reuniões com o Pontífice para abordar o problema dos abusos, após as quais todos apresentaram a sua renúncia, colocando à disposição de Jorge Mario Bergoglio seus respectivos cargos.
O também administrador apostólico da diocese de Rancagua precisou que não pensavam em entregar ao Papa nenhum documento, porque pensaram em uma simples “conversa” para “colocá-lo a par da evolução dos fatos da Igreja chilena neste último ano e comunicar-lhe as perspectivas que temos pela frente”.
Além disso, ele negou que fossem tocar, com o líder católico, em outros assuntos candentes, como a sucessão episcopal do cardeal Ricardo Ezzati Andrello como guia da Arquidiocese de Santiago ou o status das renúncias apresentadas por escrito na época pelos bispos e as quais, de acordo com o cânon 189 do Código de Direito Canônico, já caducaram, porque não foram aceitas no prazo de três meses após terem sido apresentadas. “Desse ponto de vista, não é uma questão relevante que vamos conversar”, antecipou Ramos.
E ele não descartou que alguns dos membros do grupo possam ter, durante a permanência em Roma, reuniões com outros funcionários da cúria romana. A delegação dos bispos é chefiada por Santiago Silva Retamales, ordinário militar e presidente da Conferência Episcopal; e integrada pelo vice-presidente René Rebolledo Salinas, pelo próprio Ezzati Andrello e Juan Ignacio González Errázuriz, bispo de San Bernardo.
O anúncio da viagem dos membros da comissão permanente da CECH a Roma causou desconforto nas vítimas dos abusos do padre Fernando Karadima, o histórico pároco da igreja de El Bosque de Santiago.
“No sábado, alguns bispos viajam a Roma ‘às escondidas’ para dizer ao Papa ‘que deixe de tratá-los mal e que vão mudar’, sentem-se ofendidos pela forma como são tratados, quando deveriam estar na cadeia! Vamos ver se eles têm coragem de dizer ao Papa o que dizem sobre ele pelas costas”, escreveu Juan Carlos Cruz em seu perfil no Twitter.
Entre outras coisas, a controvérsia centra-se em dois dos bispos da delegação que, ao mesmo tempo, são incriminados pela Justiça chilena por suposto acobertamento de abusos. Trata-se do próprio Silva Retamales e de Ezzati Andrello. Uma situação difícil, que obrigou o presidente da Conferência Episcopal a renunciar à sua participação na próxima reunião mundial sobre a questão dos abusos, convocada pelo Papa Francisco no Vaticano de 21 a 24 de fevereiro.
Para evitar qualquer situação embaraçosa, a própria CECH decidiu aprovar a decisão de escolher Fernando Ramos como substituto do presidente. Isso aconteceu em dezembro passado, na mais recente assembleia plenária dos bispos. Nessa ocasião, discutiu-se, além disso, a oportunidade de Silva continuar no comando da conferência, considerando sua situação judicial.
“O presidente anunciou a sua disponibilidade para continuar ou não na presidência, e foi uma conversa em que todos pudemos opinar, travada em um espírito bastante sereno e de confiança. Nessa ocasião, solicitou-se que continuasse no seu cargo como presidente”, disse, na época, Fernando Ramos, em uma declaração pública.
“Com relação ao convite que o Santo Padre fez aos Presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo para a reunião de fevereiro, o presidente da Conferência Episcopal do Chile me pediu para participar”, acrescentou.
E sobre a causa dessa decisão, disse: “É uma reunião importante que está sendo convocada pelo Santo Padre; é para evitar que o foco vá para outro tipo de análise ou comentários que possam estar ligados à figura do próprio presidente”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Abusos. O Papa concede, inicialmente, meia hora a bispos chilenos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU