20 Agosto 2018
O Cardeal Arcebispo de Washington DC, Donald Wuerl, não se fará presente no Encontro Mundial das Famílias - que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de agosto, em Dublin. Ele deveria fazer seu discurso na quarta-feira.
A reportagem é de Joe Little, publicada por RTE, 18-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Uma porta-voz do Encontro Mundial disse que o Cardeal, que está envolvido em uma série de controvérsias sobre seu papel no acobertamento de abusos sexuais de crianças, não estaria viajando para o evento trienal.
Ela encaminhou todas as outras questões sobre o assunto ao seu escritório arquidiocesano, na capital dos Estados Unidos.
Na tarde de quarta feira, Wuerl seria o principal palestrante e deveria abordar o tema "The Welfare of the Family is Decisive for the Future of the World” (O bem estar da família é decisivo para o futuro do mundo, em tradução livre).
Essa informação surgiu três dias depois da publicação de um relatório do Grande Júri da Pensilvânia detalhando o encobrimento sistêmico de estupros e outros crimes sexuais perpetrados em seis dioceses da Pensilvânia por 301 padres, de pelo menos mil crianças nos últimos 70 anos.
Entre 1988 e 2006, Wuerl foi bispo de Pittsburgh, uma das dioceses do centro da promotoria estadual.
O Grande Júri disse que ele apenas aprovou a transferências para os casos mais conhecidos de abusos por padres, em vez de os remover do Ministério. Segundo o Grande Júri, o Cardeal supervisionou de forma inadequada investigações da Igreja e ocultou informações de quando os padres foram denunciados às autoridades policiais.
O relatório também diz que Wuerl aconselhou paróquias a não anunciar publicamente ou reconhecer queixas, além de oferecer apoio financeiro aos padres que foram acusados de abuso sexual infantil e que mais tarde renunciaram.
As descobertas provocaram indignação nas vítimas, e o manifestações pedindo a demissão do Cardeal.
Semana passada, em uma carta ao arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, anfitrião do WMOF (sigla em inglês do Encontro Mundial das Famílias) de 2018, Ending Clergy Abuse (ECA), uma organização global de líderes, ativistas e especialistas em sobreviventes, conclamaram Wuerl e outros dois cardeais a serem desconvidados da reunião da próxima semana em Dublin.
Os outros dois cardeais que a ECA quer que sejam desconvidados são o Cardeal dublinense Kevin Farrell, e Maradiaga, de Honduras, que rejeitaram as alegações da ECA de encobrir os padres abusadores.
O relatório do Grande Júri - de quarta feira -, que levou dois anos para ser compilado, também encorajou aqueles que reclamam sobre o fato de Wuerl saber dos abusos de menores e jovens seminaristas perpetrados por seu antecessor em Washington DC, o Cardeal Theodore McCarrick.
No início deste mês, McCarrick se tornou o primeiro cardeal de elite a renunciar seu lugar no Colégio Cardinalício em um século, pois de acordo com a diocese de Nova York, ele havia abusado sexualmente um coroinha enquanto atuava como Padre em sua cidade natal.
Essa ação de Wuerl reduz o número de cardeais que irão se comparecer ao congresso pastoral de 15 para 13.
Seguido disso, também na quarta feira, houve o cancelamento pelo Cardeal Arcebispo de Boston, Sean Patrick O'Malley, que afirmou ter que conduzir pessoalmente uma investigação sobre as alegações de assédio e intimidação no principal seminário de sua diocese.
Papa Francisco o nomeou como presidente inaugural da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores. O cardeal deveria mediar uma discussão televisiva sem precedentes sobre a proteção de menores e adultos vulneráveis na Igreja Católica.
Uma das participantes do workshop da próxima sexta-feira é a sobrevivente irlandesa Marie Collins, que pediu demissão da Pontifícia Comissão, alegando obstrução de sua proposta, aprovada pelo Papa Francisco, de criar um tribunal para punir bispos que encobrem abuso.
Collins acusou o departamento mais poderoso do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, de ser contra a iniciativa. Outros membros e ex-membros da Comissão estão programados para participar da discussão, mas nenhum substituto foi anunciado para assumir o lugar do moderador.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Leo Varadkar disse acreditar que o Papa deve se encontrar com as vítimas de abusos clericais durante sua visita à Irlanda, e as autoridades da Igreja devem entregar os arquivos relevantes aos investigadores.
Falando da cidade de Drogheda, Varadkar disse: "O que precisamos é de justiça e cura de verdade para as vítimas. E sim, isso envolve disponibilizar qualquer informação que o Estado peça".
Sobre a presença do Papa no próximo sábado, Varadkar acrescentou: "Não tenho dúvidas de que ele vai querer abordar a questão do abuso sexual infantil. Acho que devemos ouvir o que ele tem a dizer".
No entanto, o primeiro-ministro se recusou a dizer se pediria ao Papa que se desculpasse: "Acho que por cortesia e protocolo eu deveria ter um encontro com ele primeiro."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Wuerl cancela participação no Encontro Mundial das Famílias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU