01 Fevereiro 2018
Será que as pessoas LGBT estão sendo apagadas de materiais promocionais do Encontro Mundial das Famílias, que deve ser realizado em Dublin, na Irlanda, em julho deste ano? Alguns observadores sugeriram que sim, com base em mudanças nas imagens e no texto de um deles.
O artigo é de Robert Shine, publicado por New Ways Ministry, 31-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O material em questão é um guia de discussão intitulado "The Joy of Love: Six-Session Parish Conversation" (A alegria do amor: conversa paroquial em seis sessões, tradução livre), cuja versão atual está disponível aqui. Um relatório do The Irish Times explicou a controvérsia:
"Cinco fotos com casais homossexuais foram removidas de um livreto que foi relançado enviado a paróquias católicas em preparação para a visita do Papa Francisco à Irlanda no próximo mês de agosto para um evento do Encontro Mundial das Famílias”.
"O texto da publicação também foi editado. Uma frase do livreto original foi removida. A frase dizia: 'Ainda que a Igreja defenda o ideal do matrimônio como sendo um compromisso permanente entre um homem e uma mulher, existem outras uniões que fornecem apoio mútuo para o casal. O Papa Francisco nos encoraja a nunca excluir, mas acompanhar estes casais também, com amor, cuidado e apoio.'"
Em um comunicado de imprensa, os organizadores do Encontro Mundial das Famílias (EMF) descreveram o evento como "um encontro aberto a todos", reafirmando uma declaração anterior de que todas as famílias seriam bem-vindas. A declaração, no entanto, não divulgou o porquê de o livreto, que já tinha sido enviado para as paróquias e postado no site, ter sido alterado. As mudanças vêm depois de um ataque da direita, no último outono, criticando os organizadores por supostamente promover uniões entre pessoas do mesmo sexo.
A remoção do texto que mencionava "outras uniões", que inclui casais homossexuais de forma ostensiva, é claramente um caso de apagamento LGBT. Parece que a remoção de uma foto na página 24 também é. Nessa página, onde aparecia o texto "outras uniões" antes da remoção, havia originalmente duas fotos: uma de um casal de idosos e uma segunda do que parece ser duas mulheres se abraçando, sendo que uma delas tem uma bandeira de arco-íris na mão. No PDF revisado, publicado no site do EMF, apenas o casal de idosos permanece.
Outras fotos que tinham sido removidas retratavam pessoas do mesmo sexo juntas, mas não tinha qualquer detalhe contextual que as denotasse como tendo necessariamente identidade LGBT ou uma relação (para ver as fotos, clique aqui). Na página 41, por exemplo, havia, originalmente, uma foto com dois homens de diferentes idades e outra com duas mulheres. No PDF revisado, essas fotos foram substituídas por fotos de famílias felizes. A página 13 tinha uma foto de dois homens retratados lendo o que parecia uma Bíblia. Na versão revisada, essa foto é substituída pela de um grupo de estudos bíblicos de homens e mulheres. Será que existe tamanha homofobia operando na equipe do EMF que até mesmo fotos de interações platônicas de duas pessoas do mesmo sexo são consideradas perigosas?
Por fim, houve mudanças que pareciam substituir fotos mais tristes por outras, mais felizes. Uma foto de dois jovens se abraçando na página 32 foi substituída pela de uma mãe segurando o filho. Na página 33, a foto de um homem falando com uma criança chateada foi substituída por uma festa de família. A mudança nessas e nas demais fotos podem significar algo não relacionado com questões LGBT, como um desejo de fotos mais animadas em detrimento dessas fotos que mostram dificuldades?
A exclusão do texto sobre "outras uniões" e da imagem das duas mulheres se abraçando são claras indicações de homofobia. Tais alterações editoriais são prejudiciais e indicam que os organizadores do EMF estão voltando atrás na ideia de que todos eram bem-vindos. Essa ação contradiz de forma direta os desejos de pelo menos dois líderes da Igreja que manifestaram que queriam que todas as pessoas fossem bem-vindas ao evento. O cardeal de Viena, Christoph Schönborn, disse que uniões entre pessoas do mesmo-sexo eram "parte de uma nova narrativa em torno da família na Irlanda" e precisavam ser incluídas. O bispo de Limerick, Brendan Leahy, disse no ano passado que "todo mundo deve se sentir bem-recebido no próximo ano".
O que você acha? Para ver as páginas com alterações, clique aqui. Depois nos conte sua opinião sobre essas mudanças.
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As pessoas LGBT e o Encontro Mundial das Famílias em Dublin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU