24 Junho 2018
O Papa Francisco introduzirá várias mudanças significativas no Vaticano nas próximas semanas e meses para trazer novas caras com novas ideias e promover outras como parte de seu impulso à reforma.
A reportagem é publicada por América Economía, 22-06-2018. A tradução é de André Langer.
O pontífice revelou suas decisões em uma entrevista concedida à Reuters em sua residência, durante a qual também falou sobre a imigração, a China, a liberdade de imprensa, os abusos sexuais e o papel das mulheres na Igreja.
Durante a entrevista de duas horas, concedida na noite de domingo, Francisco disse que decidiu que a Esmolaria Apostólica será dirigida de agora em diante por um cardeal, a posição mais alta da Igreja católica depois do papa.
O atual chefe desse escritório será promovido e seus sucessores terão a mesma categoria. Isso institucionalizará um perfil mais elevado para o departamento que supervisiona a ajuda aos pobres.
“Acredito que o Papa tem dois braços longos: o de ser o guardião da fé, trabalho realizado pela Congregação para a Doutrina da Fé, e o prefeito precisa ser cardeal”, disse Francisco.
“E o outro braço longo do Papa é o do esmoleiro e deve haver um cardeal ali. Estes são os dois braços longos do Papa: fé e caridade”.
O arcebispo polonês Konrad Krajewski é o atual diretor do escritório, cujas raízes remontam ao início do século XIII. Agora será elevado ao posto de cardeal em uma cerimônia junto com outros 13 eclesiásticos na próxima quinta-feira.
O escritório do esmoleiro não tem um cardeal à sua frente desde que se tem memória.
Sob a direção de Francisco, Krajewski revitalizou o escritório. Ele é frequentemente visto nas ruas de Roma vestido com trajes civis ajudando os sem teto.
Também instalou chuveiros e instalações médicas para os sem teto, idosos e desabrigados perto da Praça São Pedro, e levou grupos ao circo e até a visitas privadas à Capela Sistina.
Para impulsionar sua visão de uma Igreja mais misericordiosa e menos burocrática, Francisco quebrou o costume de nomear de maneira automática os cardeais para liderar as principais dioceses do mundo. Cinco grandes cidades italianas que sempre tiveram cardeais estão atualmente sem eles.
O religioso argentino também disse que está considerando fazer mudanças antes do final do ano no grupo de cardeais assessores de todo o mundo, conhecido como C9. O grupo, que se reúne periodicamente com ele em Roma, começou seu trabalho há cinco anos.
Segundo assegurou, poderia aproveitar o próximo aniversário “para renová-lo um pouco”, mas que não será para “cortar cabeças”.
Dois dos membros do C9, o australiano George Pell e o chileno Francisco Javier Errázuriz Ossa, estão implicados em acusações relacionadas ao escândalo de abusos sexuais na Igreja. Ambos negam as acusações.
Francisco também disse à Reuters que irá intervir na Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), uma espécie de escritório de contabilidade geral que administra os imóveis do Vaticano em Roma e outros lugares da Itália, paga os salários dos funcionários vaticanos e atua como um escritório de compras e departamento de recursos humanos.
Segundo indicou, o atual chefe da APSA, o cardeal italiano Domenico Calcagno, apresentou sua renúncia ao atingir a idade limite de 75 anos em fevereiro, solicitação que será aceita ainda este mês.
“Estou estudando candidatos que tenham uma atitude de renovação, uma nova pessoa depois de tantos anos”, afirmou. “Calcagno conhece bem o funcionamento, mas a mentalidade talvez deva ser renovada”, acrescentou.
Francisco disse estar muito feliz com as reformas introduzidas para tornar mais transparentes as outrora escandalosas finanças vaticanas. O banco vaticano, que fechou centenas de contas suspeitas ou inativas, “agora funciona bem”, disse.
Não obstante, o Papa está preocupado com a “não transparência” nos imóveis do Vaticano, que estão principalmente na Itália e muitos dos quais foram doados no decorrer dos anos. “Temos que avançar com transparência, e isso depende da APSA”, finalizou.
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Papa prepara mudanças drásticas no Vaticano em busca de reformas internas e transparência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU