23 Mai 2018
"Eu estava preparando a bicicleta para sair do Vaticano, quando me chamaram para que eu ouvisse o Papa no Regina Coeli. Eu não sabia absolutamente de nada. E nem realmente quero pensar sobre o que aconteceu comigo: estou me preparando para ir hoje à noite à estação Ostiense, levar comida para os sem-teto". A voz do bispo polonês Konrad Krajewski, 54 anos, Esmoleiro de Sua Santidade, originário de Lodz, conhecido por todos como "Dom Corrado”, trai a emoção e a surpresa de ter sido incluído na lista dos novos cardeais.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 21-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O braço operacional do Papa para a caridade para os sem-teto, imigrantes, refugiados e necessitados receberá juntamente com outros treze "colegas” o barrete púrpura em 29 de junho, tornando-se assim parte dos mais próximos conselheiros do Papa e dos eleitores de seu sucessor em caso de conclave, dispostos a servir a Igreja e o Bispo de Roma "usque ad sanguinis effusionem" até o derramamento de sangue, simbolizado pela cor da veste.
O encarregado da Esmolaria pontifícia nunca foi um cargo para cardeal. O gesto de Francisco, portanto, representa um sinal da predileção e também um holofote aceso sobre as atividades que Dom Corrado desempenha em primeira pessoa, incansavelmente e nunca ficando atrás da escrivaninha. O seu principal trabalho ocorre na rua, nas estações, nos centros de acolhimento. "Para mim e para o meu trabalho essa honra do título de cardeal pode representar uma complicação – explica ao Vatican Insider depois de ter permanecido por duas horas rezando na capela, sem ainda entender totalmente o que aconteceu, algo inesperado para ele – mas, talvez, o Santo Padre queira manifestar assim a sua atenção para as periferias e para as novas e antigas pobrezas".
O nome do Krajewski tem sido associado muitas vezes ao longo dos últimos cinco anos com iniciativas bastante chamativas: os chuveiros e serviço de barbearia sob a colunata para os pobres e os sem-teto, os ambulatórios médicos itinerantes para tratar os pobres nas ruas, a distribuição de alimentos e sacos de dormir nas estações, os cartões telefônicos para os imigrantes, as ajudas distribuídas pessoalmente às vítimas do terremoto. "Mas eu não fiz nada por minha iniciativa, tudo sempre partiu do Papa, então, não deve ser atribuído qualquer mérito para mim. A notícia chegou como uma completa surpresa. Penso que seja uma expressão de atenção e proximidade para todas as iniciativas que ajudam os pobres. Para mim, era suficiente ser Esmoleiro do Papa para ser ouvido, porque eu o represento. Quando me entregam ofertas para os pobres confiam em mim porque confiam no Papa."
Monsenhor Kraiewski, que também opera para encontrar lugares de acolhida para os refugiados e migrantes, vive em um pequeno apartamento no piso térreo, diante do escritório da Esmolaria Apostólica do Vaticano, junto aos muros da Via da Porta Angélica.
Ele conhece pelo nome muitos moradores de rua que vivem nas proximidades do Vaticano e de outras áreas da cidade. Quando é possível, os convida para realizar pequenas tarefas, garantindo a eles sempre uma refeição quente. É como se Francisco quisesse dizer: aqueles que levam a sério as palavras de Jesus no Evangelho a respeito de alimentar o faminto, oferecer bebida a quem tem sede, visitar o prisioneiro, hospedar o estrangeiro, são os meus principais colaboradores.
"Eu ainda estou muito confuso - conclui Dom Corrado antes de sair acompanhado por alguns voluntários, da guarda do Vaticano, para distribuir comida na estação Ostiense - e nessas horas continuo a repetir as palavras de um santo sacerdote, Dom Dolindo Ruotolo, bem conhecido pelo Padre Pio, que dizia: "Jesus, você que cuide disso".
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Dom Corrado, o cardeal amigo dos sem-teto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU