27 Março 2018
Para esse sacerdote, especialista em problemas educacionais, confiar responsabilidades aos jovens é o melhor remédio para a "crise de comprometimento".
A entrevista com Jean-Marie Petitclerc, padre salesiano, expert em questões de educação nas zonas periféricas, escritor, é de Gauthier Vaillant, publicada por La Croix, 24-03-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Porque hoje falamos dos jovens como um grupo especial, para o qual deve ser elaborado um discurso específico?
Os jovens são pessoas pertencentes a uma faixa etária, não uma classe social homogênea. Mas eles têm em comum o fato de viver o momento de transição da infância para a idade adulta, e os de hoje têm a particularidade de estar imersos na cultura digital desde a infância. Sua originalidade cultural é também a preeminência do lado afetivo sobre o institucional - a qualidade da relação prevalece sobre o conteúdo transmitido - e aquela do instante sobe a da duração, ligado à dificuldade de se projetar para o futuro. Mas não são tanto os jovens que mudam quanto o ambiente ao redor.
Não foram eles que inventaram o celular!
Para que eles acreditem em alguém, é preciso assumir os seus códigos?
Precisamos compreender os seus códigos, não adotá-lo. Os jovens precisam que nós nos comportemos como adultos, que sejamos confiáveis. Não serve a nada "brincar de ser jovem". De qualquer forma, eles sabem com quem estão lidando: se um adulto se interessar por eles sem julgá-los terá a sua atenção e o seu respeito.
A Igreja ainda tem legitimidade para falar com os jovens?
A Igreja é a instituição que tem mais condições de reunir os jovens. A política e os sindicatos não são mais capazes. Dito isto, há um risco de teorizar a partir dos jovens que se encontram: o jovem que vai para a Jornada Mundial da Juventude não é representativo da juventude como um todo! O sínodo convocado pelo Papa é, portanto, uma excelente ideia, porque a Igreja procura entrar em contato com todos. Antes de nos perguntar o que podemos oferecer-lhes, temos que perguntar o que eles podem nos oferecer. Eles precisam saber que acreditamos neles, que são amados da forma como eles são. Eles também são particularmente sensíveis à coerência. O desafio é fazê-los descobrir a dimensão da eternidade em suas vidas. O primeiro instrumento útil para isso é a releitura da experiência: "Nesta jornada, o que fez você mais feliz?". Na maioria das vezes, é um encontro, uma superação ... O anúncio do Evangelho deve ser articulado com a vida.
Em seu livro Deus é jovem, o Papa Francisco tem palavras duras para a geração adulta atual, que ele acusa de "erradicar os jovens." O senhor concorda com essa análise?
Eu não seria tão severo. Os discursos catastróficos dos adultos sobre o futuro às vezes podem impedir que os jovens avancem. Mas também não acredito na ideia de culpar os pais, porque é difícil educar em um mundo que está mudando tão rapidamente. Quando os pais estão se perguntam hoje como gerenciar o uso dos smartphones por seus filhos, não devemos esquecer que o smartphone não existia quando eles eram jovens. Eles não podem se basear em sua experiência.
Fala-se muito de "crise de comprometimento" dos jovens. É uma realidade?
Muitas vezes, são confiadas a eles falsas responsabilidades e são mantidos cada vez mais em uma cultura adolescente. Hoje, acredita-se que a idade adulta comece aos 25-26 anos. Os problemas de álcool e drogas estão relacionados a isso: em uma sociedade que não lhes dá qualquer responsabilidade, esse tipo de consumo torna-se a única maneira de enfrentar os desafios.
É verdade que para os jovens doar alguns euros para uma ONG não tem muito sentido. Há uma perda de confiança nas instituições. Mas se forem confiadas a eles responsabilidades reais, eles estão ali. Olhe para o sucesso do Escotismo. Queríamos trazer o princípio da precaução no campo da educação, e educar para a confiança, à maneira de Dom Bosco, que significa ousadia para assumir riscos.
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"Os jovens precisam que se acredite neles" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU