20 Março 2018
Antecipamos alguns excertos do novo livro-entrevista do Papa Francisco, intitulado “Deus é jovem”, uma conversa com Thomas Leoncini, jornalista e escritor de 33 anos, dedicada às gerações mais jovens. O livro-entrevista será lançado nesta terça-feira, 20 de março, em todo o mundo, em vista da Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada no próximo Domingo de Ramos, no Vaticano e nas dioceses dos cinco continentes. O livro antecipa e prepara para o grande Sínodo dos jovens que será realizado no Vaticano em outubro.
O texto foi publicado por La Repubblica, 19-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto
Devemos pedir perdão aos jovens, porque nem sempre os levamos a sério. Nem sempre os ajudamos a ver a estrada e a construir aqueles meios que poderiam lhes permitir não ser descartados. Muitas vezes, não sabemos fazê-los sonhar e não somos capazes de entusiasmá-los. É normal buscar dinheiro para construir uma família, um futuro e para sair daquele papel de subordinação aos adultos que os jovens hoje mantêm por muito tempo. O que importa é evitar que se sinta a ganância da acumulação. Há pessoas que vivem para acumular dinheiro e pensam que têm que acumulá-lo para viver, como se, depois, o dinheiro se transformasse em alimento também para a alma. Isso significa viver a serviço do dinheiro, e aprendemos que o dinheiro é concreto, mas, dentro, tem algo de abstrato, de volátil, algo que, de um dia para o outro, pode desaparecer sem aviso prévio. Pense na crise dos bancos e nos recentes defaults. (...)
O trabalho é o alimento para a alma. O trabalho, sim, pode se transformar em alegria de viver, em cooperação, em união de intenções e jogo em equipe. Não o dinheiro. E o trabalho deveria ser para todos. Todo ser humano deve ter a possibilidade concreta de trabalhar, de demonstrar a si mesmo e a seus entes queridos que pode ganhar a vida. Não se pode aceitar a exploração, não se pode aceitar que muitíssimos jovens sejam explorados pelos empregadores com falsas promessas, com pagamentos que nunca chegam, com a desculpa de que são jovens e devem ter experiência. Não se pode aceitar que os empregadores reivindiquem dos jovens um trabalho precário e até gratuito, como acontece. (...)
Os jovens nos pedem para serem ouvidos, e nós temos o dever de ouvi-los e de acolhê-los, não de explorá-los. Não há desculpas que se sustentem. (...)
Governar é servir a cada um de nós, a cada um dos irmãos que compõem o povo, sem esquecer ninguém. Quem governa deve aprender a olhar para o alto apenas para falar com Deus e não para brincar de deus. E deve olhar para baixo apenas para levantar alguém que caiu. (...)
A pior consequência do pecado que quem tem o poder pode cometer certamente é a destruição de si mesmo. Mas há outra, que não sei se é realmente a pior, mas é muito recorrente: acabar sendo ridículo. E do ridículo não se volta atrás. Qual foi uma das figuras mais ridículas da história? A meu ver, Pôncio Pilatos: se ele soubesse que tinha diante de si o Filho de Deus, e que o Filho de Deus tinha usado Seu poder para lavar os pés de Seus discípulos, teria, talvez, se lavado as mãos? Eu realmente acho que não! O evangelista João nos conta que o Senhor estava consciente de ter todo o poder do mundo em suas mãos. E o que decidiu fazer com todo esse poder? Um único gesto, que foi um gesto de serviço, em particular o serviço do perdão. Jesus decidiu que o poder devia se transformar, a partir daquele momento e para sempre, em serviço. Qual foi a verdadeira mensagem profética de tudo isso? Derrubou os poderosos de seus tronos e elevou os humildes. O poder é serviço e deve permitir que o próximo se sinta bem cuidado, de acordo com sua dignidade. Aquele que serve é igual àquele que é servido.
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Papa Francisco: por que devemos pedir perdão aos jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU