07 Dezembro 2017
Provocação, violação do direito internacional, violência a caminho. Nestas horas, voam palavras fortes não apenas no Oriente Médio. Não faltam os prognósticos mais pessimistas nas maiores capitais, incluindo as ocidentais. A decisão estadunidense de transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e, portanto, o reconhecimento desta última como capital de Israel infligem um golpe fatal contra uma possível retomada do processo de paz já bloqueado há muito tempo. Ainda mais que quem tomou essa iniciativa foram os Estados Unidos, considerados como os indispensáveis promotores das negociações, nas quais teriam o papel de mediadores.
A reportagem é de Bernardo Valli, publicada no jornal La Repubblica, 06-12-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se for realizada, a anunciada iniciativa de Donald Trump será interpretada, justamente, como uma inútil provocação e também uma violação do direito internacional, porque, de acordo com os acordos, o status de Jerusalém deveria ser regulado ao longo das negociações, voltadas a criar, em paz e em segurança, dois Estados, um ao lado do outro.
Mas Trump pulou as etapas. Durante a campanha eleitoral, ele prometera deslocar a representação diplomática de Tel Aviv para Jerusalém; e, nessa terça-feira, ele informou pessoalmente a sua intenção de manter a promessa ao palestino Abu Mazen e ao rei Abdallah da Jordânia.
À espera do anúncio oficial, os palestinos planejaram protestos em massa, e, nas capitais árabes, não são descartadas explosões de violência. Não por acaso, as medidas de segurança foram reforçadas nas últimas horas em torno das embaixadas estadunidenses da região.
A pergunta de Jerusalém adormecia na atormentada, mas negligenciada, crise israelense-palestina, deixada de lado, não contagiada pelo “califado” que apareceu tragicamente no vale não distante do Tigre e do Eufrates.
A assustadora medida de Donald Trump, agora, torna ardente o problema da cidade três vezes santa. A cada seis meses, o presidente estadunidense deve decidir se renova a revogação de uma lei de 1995 que exige a instalação da representação diplomática em Jerusalém. O prazo era segunda-feira.
Ele, Trump, desta vez, não teve a mesma preocupação dos predecessores. E dos governos dos principais países que mantêm as suas embaixadas em Tel Aviv. O motivo é que, deixando em aberto a questão de Jerusalém, deixa-se uma fresta para iniciar novas negociações. Resolvendo-a com uma decisão unilateral, também se tornam supérfluas, por tabela, as negociações sobre os dois Estados.
O reconhecimento de Jerusalém como capital deveria tornar implícita a mudança da embaixada. E vice-versa. No entanto, levaria meses para transferir toda a representação diplomática. E não está claro o que Trump quer. Ele poderia marcar em dois tempos a sua decisão. Primeiro, o reconhecimento e, com o passar do tempo, a mudança.
A Rússia de Vladimir Putin, com uma decisão que passou despercebida, reconhecida há algum tempo, como capital de Israel, Jerusalém Oriental. Mas é improvável que Trump recorra a um estratagema tão ingênuo, destinado a deixar todos descontentes. Uma decisão radical contenta apenas Israel, que já reagiu dizendo que Jerusalém é a sua capital “desde sempre”.
A medida de Trump corre o risco de abalar ainda mais a situação no Oriente Médio. A hostilidade entre a Arábia Saudita, sunita, e o Irã, xiita, essencialmente entre as duas grandes correntes do Islã, criou uma aliança entre a primeira, a Arábia Saudita, e o Estado de Israel, maior potência militar da região e, portanto, um apoio precioso no confronto cada vez mais acalorado com o Irã.
O entendimento entre Jerusalém e Riad parecia impossível até alguns anos atrás. Hoje, a colaboração entre personalidades israelenses, ou próximas de Israel, e o governo saudita é intensa e nada secreta. As inimizades entre os muçulmanos favoreceram uma integração de Israel na região. E isso está ocorrendo com a direita no poder.
Ao mesmo tempo, a posição dos Estados Unidos de Trump, seja em favor de Riad e do poderoso príncipe hereditário Mohammed bin Salman, seja em apoio a Israel, e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, transformou-se em uma parceria que vai além de um forte entendimento.
A questão de Jerusalém – a decisão de Trump de reconhecê-la como capital de Israel e de transferir para lá a embaixada – lança uma sombra sobre essa parceria israelense-saudita. A Arábia Saudita, onde a corrente islâmica radical (wahhabita) está ferida, neste momento, pelas inovações modernizadoras do dinâmico príncipe hereditário, poderia reagir ao fato de Jerusalém, terceiro lugar do Islã depois da Meca e de Medina, ser oficialmente reconhecida como capital do Estado hebraico pela superpotência amiga.
O profeta Maomé prendeu voo em um cavalo branco a partir da esplanada das mesquitas, onde se encontra a de Al Aqsa, uma das mais santas. Não será fácil para o príncipe Salman fazer com que a decisão de Trump seja aceita pelos muçulmanos integralistas, fiéis defensores da sua dinastia há muito tempo. Também não será fácil para as outras capitais muçulmanas manterem a calma das massas religiosas. Não por acaso, a Liga Árabe reuniu-se às pressas.
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Jerusalém: a assustadora medida de Trump é um golpe fatal no caminho da paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU