11 Setembro 2014
“Não há partidos de esquerda, somente grupos que têm uma certa influência. A esquerda não tem chance de poder”, diz o sociólogo.
Foto: CartaMaior |
“Até chegarem as eleições, mais de um ano depois, o que poderia ser consequência das manifestações de junho já se apagou”, afirma Francisco de Oliveira à IHU On-Line, ao avaliar possíveis impactos das manifestações de rua na escolha do candidato à Presidência da República deste ano. Para ele, os protestos foram efusivos, “como que avisando que o povo está desperto, mas não se viu nem nos partidos nem nos candidatos consequências das manifestações de junho de 2013. É lamentável, porque mostra que a política circula em áreas distantes das manifestações populares”. Para ele, as manifestações não terão impacto na disputa eleitoral “porque são efêmeras, têm pouca duração, o que é normal, porque não têm folego para atravessar meses de um deserto eleitoral”. E reitera: “Elas estão apenas na memória de pessoas como eu e você que gostamos de política, mas na maior parte da população, isso já passou. (...) Até os candidatos já se esqueceram das manifestações”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o sociólogo comenta as principais candidaturas à Presidência da República e salienta que não há diferenças substanciais entre elas. “Marina é mais liberal (...) adota programas que não são propriamente dela, mas o partido dela é fraco, ela é maior que o partido e não tem tradição de disputas eleitorais com programas inovadores”. Dilma, “por outro lado, não tem destacado nada em seu programa, porque vai continuar fazendo o que já faz”. E Aécio, apesar de ter sido governador de Minas Gerais, “não tem nada a dizer nacionalmente”.
Socialista, Chico de Oliveira também faz uma análise da situação da esquerda no Brasil e enfatiza que como os programas de governo “não têm mais nenhuma importância, ninguém vai defender um programa abertamente esquerdista, porque não tem mais base social”. Nesse cenário, o PT não representa mais o pensamento da esquerda, porque “perdeu o ímpeto de transformação e mudança”. Do mesmo modo, menciona, partidos de esquerda mais radicais “não têm nenhuma chance. Além do que, eles têm umas propostas muito extravagantes. Se o candidato promete sair estatizando empresas privadas, ninguém acredita nisso. Então, os candidatos que fizerem propostas desse tipo não terão votos”.
O sociólogo lembra que no passado o projeto político da esquerda era estatizar as empresas. Mas hoje, pontua, “ninguém pensa que isso possa se estender a outros setores”. E dispara: “E eu não vou pensar contra a maioria da população (risos), não por nenhuma reverência, mas porque não é plausível. O Brasil não tem recursos, o Estado não tem capacidade — nem necessidade — de ampliar o grau de estatização. Esse seria um programa socialista como um passo adiante no sentido da socialização, no sentido de distribuir a propriedade para a maior parte da população. Mas não é plausível, não é viável, e nenhum candidato é suficientemente maluco para propor uma coisa dessas. Eu, que também não sou candidato a nada, não vou embarcar numa canoa furada”.
Ele enfatiza que para a esquerda “ter alguma chance de influir na política do país, tem de estar antenada com os eleitores; do contrário só fica com propostas abstratas”. E conclui: “O programa da esquerda hoje é menos de explícitos programas econômicos e muito mais no sentido de ampliar programas de direitos humanos”.
Francisco de Oliveira formou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. É professor aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo – USP.
Confira a entrevista.
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IHU On-Line - Como o senhor avalia a disputa eleitoral deste ano? Percebe alguma novidade?
Francisco de Oliveira – Não, nenhuma. Marina não tem proposta e ganhou destaque à custa da morte de Eduardo Campos, mas ela não tem nenhuma novidade. É uma falsa ambientalista. Na verdade, é uma liberal e isso é visível ao analisar suas propostas econômicas. A proposta da Dilma é continuar como está fazendo.
IHU On-Line – Mas a que atribui o crescimento de Marina nas pesquisas e praticamente um empate nas intenções de voto entre ela e Dilma?
Francisco de Oliveira – Marina aproveitou bem o fato de ser candidata — não que ela tenha sido leviana —, mas a morte do Eduardo Campos é que a fez uma candidata forte.
IHU On-Line - Quais são as diferenças, se existem, substanciais entre Dilma e Marina, especialmente no que se refere à economia e às políticas sociais?
Francisco de Oliveira – Não há quase diferenças substanciais entre elas. Diria que, basicamente, Marina é mais liberal, o que não está de acordo com a tradição brasileira; nós nunca fomos liberais. Não tem sentido ser liberal em um país que sempre foi dependente economicamente.
A diferença dela com a Dilma é que ela dá destaques a propostas que são programas liberais, como a autonomia do Banco Central, mas ela não tem dado maiores esclarecimentos a respeito disso. Dilma, por outro lado, não tem destacado nada em seu programa, porque vai continuar fazendo o que já faz. A Dilma é mais confiável do que a Marina.
IHU On-Line – Por quê?
“O país é que é católico tradicionalmente e aí não há diferenças entre presidentes ateus, evangélicos, católicos”
Francisco de Oliveira – Porque ela não está prometendo nenhuma revolução, a economia brasileira está bem, é uma economia sustentável, diante do quadro internacional. Marina se esconde atrás da fachada ambientalista, mas é uma liberal.
IHU On-Line - Quais foram os méritos e maiores equívocos dos três mandatos do PT na presidência?
Francisco de Oliveira – O mérito é identificável como uma tentativa de incluir mais cidadãos no circuito econômico, uma certa redistribuição de renda pelo consumo, mas o mérito não passa daí. Os equívocos do PT são os equívocos que já estão sendo externados na condução da economia brasileira. O PT não fez o que prometeu durante esses 12 anos. A condução econômica foi liberal, conservadora e não teve nenhuma novidade notável.
IHU On-Line - O discurso do PT sempre está aliado à imagem do ex-presidente Lula. Qual ainda é o peso dele no cenário eleitoral? É o mesmo das eleições presidenciais passadas?
Francisco de Oliveira – É declinante. Lula ainda tem peso, mas é declinante. É um presidente que resiste muito ao ostracismo. É um ex-presidente que está fora da cena central, e ele não é a exceção. Pensou que era, mas a disputa que está aí está mostrando que o apelo dele não é suficiente para colocar a candidatura de Dilma em outro patamar. Ela vai concorrer por seus méritos e não por causa do Lula. Ela já concorreu por causa do Lula na eleição anterior.
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“Nem a Dilma nem o Aécio têm propostas que ameaçariam os interesses do capital” |
IHU On-Line - Os demais candidatos evitam criticá-lo e muitas vezes fazem referência ao governo dele. Isso está associado à imagem que Lula tem ou se pensa que ele tem com uma parcela da população? A que o senhor atribui essa cautela dos demais candidatos em relação ao ex-presidente?
Francisco de Oliveira – Os políticos evitam porque ele ainda tem peso na política brasileira. É declinante, como falei, mas ainda tem peso. Depois, é de mau gosto atacar diretamente um ex-presidente, que ainda tem — embora muito apagada —, uma imagem de líder sindical, operário, então, as pessoas evitam atacá-lo diretamente.
Aliás, o ataque aos candidatos é muito atenuado. Recentemente vi o Aécio dizer que Marina era um FHC de saia. Esse foi o ataque menos disfarçado que saiu nesta campanha. E de fato parece que ele tem razão, porque a assessoria da Marina, pelo que se lê nos jornais, é basicamente tucana. Na verdade ela adota programas que não são propriamente dela, mas o partido dela é fraco, ela é maior que o partido e não tem tradição de disputas eleitorais com programas inovadores. Além disso, o ambientalismo dela é de fachada, porque você não muda um país desse tamanho, com tantas diferenças. Portanto, nem do ponto de vista ambientalista é possível ter um programa unificado para o Brasil, porque a Amazônia é uma coisa, o Nordeste é outra, o Sudeste, outra e o Centro-Oeste, outra. Quer dizer, um ambientalismo genérico não é nada.
IHU On-Line - Caso Marina seja eleita, quais serão as suas maiores dificuldades? Que novas alianças devem surgir dessa eleição?
Francisco de Oliveira – Todas as dificuldades, porque ela não tem base no Congresso, o partido dela é fraco, ela é maior do que o partido, e na tradição brasileira — que não é boa coisa — todo mundo adere ao poder, com diferenças sutis. Veja o exemplo do Itamar Franco. Ele não foi eleito, foi sucessor do Collor e completou o mandato até o Fernando Henrique aderir. FHC fez a sua base propulsora e chegou a dois mandatos na presidência, por voto popular.
IHU On-Line – Mas há riscos de não ter governabilidade caso Marina seja eleita?
Francisco de Oliveira – Terá governabilidade à base de muitas concessões, de muitas trocas. No Brasil, infelizmente, não existe um divisor de águas quando se chega ao poder. Todo mundo adere ao poder com maior ou menor intensidade.
IHU On-Line - Muitos acusam Marina de render-se à agenda de ordem religiosa, do risco de proselitismo caso ocupe o Palácio do Planalto, ou de apoiar o capital. Como o senhor avalia as críticas ao fato de ela ser evangélica?
Francisco de Oliveira – Isso é besteira. Marina não vai se adequar a uma agenda religiosa. O catolicismo é dominante no Brasil, mas nenhum governante faz um programa político católico. O país é que é católico tradicionalmente e aí não há diferenças entre presidentes ateus, evangélicos, católicos. Esse candidato ateu ainda não surgiu. Parece que Collor tinha tendências ao ateísmo, mas isso não faz diferença nenhuma. Num país desse tamanho, é tolo esperar influências religiosas no governo.
IHU On-Line - Como vê a derrocada da candidatura de Aécio Neves? O que isso demonstra sobre as pretensões do PSDB de disputar as eleições presidenciais futuras?
Francisco de Oliveira – Demonstra que os tucanos têm uma tendência a imolar. O Aécio foi governador de Minas Gerais, mas não tem nada a dizer nacionalmente. Ele estava em outro contexto, mas nacionalmente é outra coisa. Ele não tem propostas inovadoras e a resposta da população é mais ou menos essa. Os que são tucanos por convicção vão votar nele sem muito entusiasmo. O Serra seria um candidato mais contundente, mas os tucanos não o preferiram.
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“O programa ambientalista da Marina não tem nenhuma importância eleitoral” |
IHU On-Line – Por quê?
Francisco de Oliveira – Além de ser mais conhecido, tem posições e opiniões mais contundentes, mais duras.
IHU On-Line - O escândalo da Petrobras pode ter alguma repercussão nas eleições?
Francisco de Oliveira – Não. Talvez tenha uma repercussão no eleitorado que tem interesse em assuntos econômicos, mas no eleitorado em geral, para dizer que não terá nenhuma, terá pouca repercussão.
IHU On-Line - Como o senhor interpreta a postura do grande capital — produtivo, financeiro e agronegócio — nessa disputa eleitoral, de apostar em qualquer candidatura?
Francisco de Oliveira – Isso acontece porque as candidaturas se diferem muito pouco. Nem a Dilma nem o Aécio têm propostas que ameaçariam os interesses do capital. Então, as empresas estão fazendo a política tradicional de distribuir os ovos em várias cestas. Até a Marina vai ganhar dinheiro.
IHU On-Line - Como o senhor avaliou as manifestações do ano passado? O que surgiu dessas manifestações?
Francisco de Oliveira – Não surgiu nada. Foram manifestações muito efusivas, como que avisando que o povo está desperto, mas não se viu nem nos partidos nem nos candidatos consequências das manifestações de junho de 2013. É lamentável, porque mostra que a política circula em áreas distantes das manifestações populares. Os partidos e candidatos já têm seus programas, mas eles não têm nada a ver com as manifestações populares.
IHU On-Line – Por que as manifestações não geram um impacto na política?
Francisco de Oliveira – Porque são efêmeras, têm pouca duração, o que é normal, porque as manifestações não têm folego para atravessar meses de um deserto eleitoral. Até chegarem as eleições, mais de um ano depois, o que poderia ser consequência das manifestações de junho já se apagou. Elas estão apenas na memória de pessoas como eu e você que gostamos de política, mas na maior parte da população, isso já passou.
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“A esquerda dá uma garantia de que a direita não vai voltar a atacar os direitos” |
IHU On-Line – Então as manifestações não terão repercussão nas eleições deste ano?
Francisco de Oliveira – Não terão. Consequências decisivas, não. Até os candidatos já se esqueceram das manifestações.
IHU On-Line - Como o senhor vê o discurso recorrente da população de votar no “menos pior”, referindo-se ao PT ou à Marina?
Francisco de Oliveira – Essa questão está relacionada a duas coisas: em primeiro lugar, os candidatos não dizem o que pretendem fazer, os programas são cada vez menos explícitos e, em segundo lugar, a população não está informada em relação ao que cada candidato pretende fazer. Os programas são cada vez menos importantes para as campanhas. O que vale é a personalidade que está à frente da candidatura. Nesse caso estamos vendo que Marina teve um salto com a morte de Eduardo Campos, e ela passou para o primeiro plano da política. Mas se você avaliar as pesquisas antes, quando ela era candidata à vice-presidente, eles estavam bem posicionados, mas não iriam ganhar a eleição. Então, Marina teve um salto sem nada que creditasse suas palavras. Isso mostra que os programas são cada vez menos importantes ou até deixam de existir. Nesse sentido, o programa ambientalista da Marina não tem nenhuma importância eleitoral.
IHU On-Line - Algum partido representa um projeto que o senhor considera ser de esquerda nas eleições deste ano?
Francisco de Oliveira – Não, nenhum. Aliás, todos fazem questão de não se apresentarem como de esquerda. Parece que no Brasil só existe direita, mas é uma direita constrangida, que não tem coragem de dizer o que é. Na verdade, ninguém é direita, porque eleitoralmente isso é um desastre. Como os programas não têm mais nenhuma importância, ninguém vai defender um programa abertamente esquerdista, porque não tem mais base social. Então, esse não é mais um programa garantido. Quer dizer, regiões e setores sociais bastante deteriorados foram incluídos de certa forma em novos setores econômicos, mas isso não faz mais muita diferença do ponto de vista eleitoral.
IHU On-Line – Por que pessoas que se identificam com a esquerda o fazem tendo em vista o PT e não outros partidos de esquerda mais radicais? Nesse sentido, como o senhor avalia a baixa representatividade dos demais partidos de esquerda nas eleições?
Francisco de Oliveira – Porque o povo não é besta. O povo sabe, nós sabemos, você sabe, eu sei, que esses partidos radicais não têm nenhuma chance. Ninguém gosta de perder o seu voto. Esses partidos que estão na faixa estrema da esquerda não têm nenhuma chance. Além do que, eles têm umas propostas muito extravagantes. Se o candidato promete sair estatizando empresas privadas, ninguém acredita nisso. Então, os candidatos que fizerem propostas desse tipo, não terão votos. Outros que vão falar de um ponto de vista mais cultural e religioso, que falam de valores cristãos — que é uma coisa muito vaga —, também não terão votos. Alguns pontos controvertidos, como o casamento gay, também são polêmicos, porque existem muitas pessoas contra e nenhum candidato tem coragem de apresentar isso como proposta. Aliás, não faz nem sentido, porque quem decide isso não é o presidente, mas o Congresso Nacional, e o Congresso não é hegemônico a ponto de atacar posições radicais. Então, as eleições são sempre um pouco do mesmo.
IHU On-Line – Para o senhor, que é um socialista, o que seria uma proposta adequada de um partido que se diz de esquerda?
Francisco de Oliveira – É difícil. Eu não me arrisco a dizer nada (risos). O que é um programa de esquerda hoje em dia? Um programa de esquerda, no passado, foi um programa de estatizar, de colocar empresas sobre a influência estatal. No Brasil, a Petrobras e o Banco do Brasil ainda são estatais, embora tenham muitos acionistas particulares. Ninguém pensa que isso possa se estender a outros setores. E eu não vou pensar contra a maioria da população (risos), não por nenhuma reverência, mas porque não é plausível. O Brasil não tem recursos, o Estado não tem capacidade — nem necessidade — de ampliar o grau de estatização. Esse seria um programa socialista como um passo adiante no sentido da socialização, no sentido de distribuir a propriedade para a maior parte da população. Mas não é plausível, não é viável, e nenhum candidato é suficientemente maluco para propor uma coisa dessas. Eu, que também não sou candidato a nada, não vou embarcar numa canoa furada.
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“A atuação da esquerda no Brasil tem que contemplar de forma mais consistente os direitos das minorias” |
IHU On-Line – O senhor mudou sua concepção socialista? Em outra entrevista que nos concedeu, perguntamos se ainda era possível ser socialista nos dias de hoje e o senhor respondeu: “só vejo vermelho” . O que essa sua reflexão e a resposta anterior revelam sobre a esquerda? Ela mudou de rumo?
Francisco de Oliveira – A esquerda não mudou de rumo, mas a esquerda, para ter alguma chance de influir na política do país, tem de estar antenada com os eleitores; do contrário só fica com propostas abstratas. Eu não mudei, continuo socialista, mas tendo a ir adotando, progressivamente, medidas de socialização dos bens. Mas reconheço que a política brasileira hoje não tem viabilizado isso.
IHU On-Line – Então o senhor sugere uma renovação na esquerda?
Francisco de Oliveira – A esquerda é o único setor político que precisa sempre de renovação; a direita não, ela está lá, sempre com seus princípios imutáveis, que são a-históricos. A esquerda tem de estar antenada com a população. Se não, ela está fazendo proposta para quem?
IHU On-Line – Nesse sentido, o senhor enquadra o PT como um partido de esquerda que está “antenado” com a demanda da população e, por isso, se reestruturando?
Francisco de Oliveira – Não. O PT perdeu o ímpeto de transformação e mudança. Alguns setores continuam bastante combativos, mas o PT em geral, não. Na verdade, o PT é pior que o PSDB em relação ao conservadorismo. O PT já não tem mais nenhuma proposta e está administrando os ganhos que já teve ao longo da sua história.
IHU On-Line – Então, falar de esquerda no Brasil consiste em falar de alguns grupos de intelectuais ou de movimentos sociais que se identificam com a esquerda, mas não falar de um partido político que represente a esquerda?
Francisco de Oliveira – É. Não há partidos de esquerda, somente grupos que têm uma certa influência. A esquerda não tem chance de poder. A esquerda não é propriamente um programa político. Em determinados momentos históricos, ela toma formas de programas políticos bem explícitos. Em geral, o papel da esquerda não é formular programas políticos; é reformar, é civilizatório. Ela tem por tarefa domar as forças capitalistas num sentido de avanço dos direitos humanos. O programa da esquerda hoje é menos de explícitos programas econômicos e muito mais no sentido de ampliar programas de direitos humanos. É o que se vê no Partido Social Democrata na Europa. O Programa Social Democrata na Europa, por exemplo, não tem tanta diferença na condução de programas econômicos, porque os partidos conservadores não querem perder eleitores. Se você observar, nos últimos 50 anos, a direita administrou programas socializantes. Os sociais-democratas mantiveram diferenças no sentido da ampliação de direitos humanos. Isso continua sendo verdade. A esquerda dá uma garantia de que a direita não vai voltar a atacar os direitos. Isso é visível, com diferenças progressivas na Europa, mas no Brasil já chega a ser visível também.
IHU On-Line - Quais os desafios para o Brasil nos próximos anos, considerando que houve um aumento do salário mínimo, ingresso de mais pessoas à universidade, acesso a crédito, etc.? Quais os desafios no enfrentamento das desigualdades sociais daqui para frente?
Francisco de Oliveira – Isso continua sendo um programa. Só uma atuação consistente e persistente pode garantir a distribuição de renda razoável, a qual não vai ser profunda. A atuação da esquerda no Brasil tem que contemplar de forma mais consistente os direitos das minorias, porque os direitos das maiorias é fácil. Sempre foi assim na história do Brasil. O direito das minorias é sempre mais difícil, minorias de todo tipo, como os negros, por exemplo, que são uma parte expressiva da população, mas não chegam a ser a maioria, estão carecendo de uma ampliação de direitos. O programa da esquerda, daqui por diante, continuando com as reivindicações de tipo econômico, será, sobretudo, de ampliação e de afirmação dos direitos humanos.
IHU On-Line – Algum grupo da população brasileira pode decidir as eleições deste ano?
Francisco de Oliveira - Não. Não se notarão diferenças decisivas entre quem tem intenção de votar em Dilma, para continuar, a intenção de votar no Aécio, ou mesmo intenção de votar na Marina. Não há diferenças decisivas no eleitor.
(Por Patricia Fachin)
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O deserto eleitoral. 'O que é um programa de esquerda hoje em dia?' Entrevista especial com Francisco de Oliveira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU