Por: Cesar Sanson | 07 Agosto 2014
Tucano prometeu mais verbas, menos poder para a Funai e um "superministério" da Agricultura
A CNA, entidade que representa os grandes produtores rurais brasileiros, promoveu nesta quarta-feira 6 aquele que foi o segundo grande embate entre os três principais presidenciáveis. Como se viu uma semana antes em sabatina na CNI, entidade da indústria, Dilma Rousseff voltou a defender o governo, em vez de apresentar novidades de um outro mandato. Na oposição, porém, o jogo se inverteu. Se perante industriais Eduardo Campos havia falado mais abertamente e arrancado mais aplausos, agora foi Aécio Neves quem entusiasmou a plateia.
A reportagem é de André Barrocal e publicada por CartaCapital, 06-08-2014.
No painel de uma hora a que cada um teve direito, o tucano prometeu que, se eleito, estará à frente das grandes decisões no setor rural e criará um “superministério da Agricultura”. Que dará tratamento diferenciado aos usineiros produtores de álcool e açúcar. Que terá uma política externa orientada para o comércio. Que apoia uma lei de terceirização de trabalhadores. Que a Fundação Nacional do Índio "não pode ser a única voz" a definir demarcação de terras indígenas. E que será duro com ocupações de terra. “Fazendas invadidas não serão desapropriadas por dois anos”, afirmou Aécio, a resgatar ideia de uma medida provisória baixada pelo ex-presidente Fernando Henrique no ano 2000.
A exposição do senador do PSDB tocou em quase todas as reivindicações dos fazendeiros. A jornalista que conduzia o debate e que em seguida faria a ele perguntas formuladas pela CNA disse que o tucano havia abordado paticamente toda a agenda da entidade. O conteúdo da fala de Campos e Dilma não inspirou o mesmo comentário. O senador mineiro foi o mais aplaudido dos três (19 vezes durante todo seu painel, contra 13 vezes de Campos e quatro de Dilma).
O ex-governador de Pernambuco e candidato pelo PSB também fez uma exposição alinhada com as preocupações ruralistas. Primeiro dos presidenciáveis a falar, Campos igualmente disse que será um presidente que vai liderar as decisões no setor e que fortalecerá o ministério da Agricultura. Que tentará abrir mercados em outros países, que a demarcação de terras indígenas é uma dívida histórica do país mas que não pode ser feita infinitamente, que apoiará os usineiros. E prometeu tratar o agronegócio “sem preconceitos, sem ranços”.
Unido à ambientalista Marina Silva, vice em sua chapa, o esforço de Campos para falar a língua do setor rural e mostrar-se amigável tem razão de ser. A ex-ministra do Meio Ambiente é vista pelos fazendeiros como um inimigo. No debate, a antipatia ficou evidente. Uma das perguntas a Campos falava em um “ambientalismo radical” que havia capturado o Ministério do Meio Ambiente e que hoje não capturaria mais. Uma referência a Marina, embora sem citá-la. Campos defendeu a vice como uma líder mundial, ao mesmo tempo em que afirmava que era preciso que as áreas urbanas do Brasil parassem de encarar o campo como um lugar onde há trabalho escravo, por exemplo.
Última a se apresentar, Dilma foi quem menos encantou os fazendeiros, embora seja a candidata preferida da presidente licenciada da CNA, Katia Abreu. A senadora pelo PMDB do Tocantins fez questão de entrar no auditório do debate ao lado de Dilma e de acompanhá-la na entrevista coletiva que os três candidatos deram individualmente depois do painel de cada um. Só Dilma mereceu tal gesto por parte de Katia. A senadora é filiada desde outubro de 2013 ao PMDB, partido do vice-presidente, Michel Temer, e do ministro da Agricultura, Neri Geller.
A presidenta centrou fogo na defesa das políticas do governo que estariam beneficiando o setor. O crédito público destinado a cada safra aos produtores rurais subiu, disse ela, de 22 bilhões de reais para 180 bilhões de reais desde a chegada do PT ao poder. E ficou mais barato (o juro ia de 8,75% a 11,95% e está entre 4,5% e 6,25%). O investimento em estradas, ferrovias e portos foi retomado, o que baixa o custo dos fazendeiros. Foram criados o Moderfrota, programa de modernização da frota de tratores, o seguro-agrícola e uma agência de apoio à assistência técnica voltada para os pequenos e médios produtores, a Anater. O governo, disse Dilma, trabalha por uma “classe média rural”.
Questionada sobre uma lei de terceirização trabalhista, sonho de industriais e produtores rurais, Dilma repetiu que apoia uma discussão que tenha na mesa representantes dos trabalhadores. Foi a única candidata a condenar o trabalho escravo que às vezes é flagrado em fazendas. “É uma chaga a ser exterminada em nosso país.”
Nos bastidores da sabatina, ruralistas do setor de etanol reclamavam que Dilma não havia tratado dos problemas dos usineiros, como Campos e Aécio. Com a política de reajuste moderado de preços da gasolina na gestão Dilma, os usineiros estão entre os maiores críticos da presidenta no meio empresarial atualmente.
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Sabatina do agronegócio: Aécio é o mais aplaudido e Dilma desagrada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU